Compartilhar
Informação da revista
Vol. 90. Núm. 5.
Páginas 472-478 (setembro - outubro 2014)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Visitas
4314
Vol. 90. Núm. 5.
Páginas 472-478 (setembro - outubro 2014)
Artigo original
Open Access
TLR‐2 and TLR‐4 expression in monocytes of newborns with late‐onset sepsis
Expressão do TLR‐2 e do TLR‐4 em monócitos de recém‐nascidos a termo com sepse tardia
Visitas
4314
Ana C.C. Redondoa, Maria E.J.R. Ceccona,
Autor para correspondência
maria.esther@hc.fm.usp.br

Autor para correspondência.
, Ana L. Silveira‐Lessab, Camila Quinelloc, Patrícia Palmeirac, Werther B. Carvalhod, Magda Carneiro‐Sampaioe
a Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, Instituto da Criança, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil
b Departamento de Parasitologia, Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil
c Laboratório de Investigação Médica (LIM‐36), Instituto da Criança, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil
d Departamento de Neonatologia, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil
e Departamento de Pediatria, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil
Este item recebeu

Under a Creative Commons license
Informação do artigo
Resume
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (1)
Tabelas (3)
Tabela 1. Marcadores de superfície celular de monócitos
Tabela 2. Distribuição dos 27 RN conforme os dados clínicos e laboratoriais
Tabela 3. Mediana da frequência (%) e MFI dos receptores Toll‐like 2 e 4 em monócitos de sangue periférico de recém‐nascidos com infecção (cultura positiva ou negativa) e de sangue periférico de adultos
Mostrar maisMostrar menos
Abstract
Objective

To analyze toll‐like receptor (TLR)‐2 and TLR‐4 expression in monocytes of newborns with late‐onset sepsis.

Methods

This prospective study included 27 full‐term newborns aged 8 to 29 days, with clinical and laboratory diagnosis of late‐onset sepsis. Ten newborns (37%) had positive cultures. Cytokines were measured by cytometric bead array in peripheral blood, while TLR‐2, TLR‐4 expression, and median fluorescence intensity (MFI) were determined by immunophenotyping peripheral whole blood monocytes, and were analyzed with a BD FACSDiva flow cytometer (Becton, Dickinson and Company, USA). A comparison was performed with healthy adults.

Results

Microorganisms were identified in 37% of these septic newborns, and all of them had high levels of pro‐inflammatory cytokines (IL‐8, IL‐6, IL‐1β) and anti‐inflammatory cytokine (IL‐10) corroborating the inflammatory/septic process. In monocytes, the frequency of TLR‐4 expression was higher in infected newborns (p = 0.01).

Conclusion

This study investigated the innate immune response in septic newborns. Septic newborns that relied almost exclusively on the innate immune system showed little in vivo response at monocyte activation, suggesting impaired immune response and increased susceptibility to infection.

Keywords:
Sepsis/immunology ;Innate immunity
Toll‐like receptor 2
Toll‐like receptor 4
Newborn
Monocytes
Resumo
Objetivos

Analisar a expressão dos TLR‐2 e TLR‐4 em monócitos de recém‐nascidos com sepse tardia.

Métodos

Trata‐se de um estudo prospectivo com 27 recém‐nascidos a termo entre 8 e 29 dias de vida com diagnóstico clínico e laboratorial de sepse tardia dos quais dez (37%) apresentaram cultura positiva. As citocinas foram determinadas por teste de CBA em sangue periférico enquanto que a expressão e MFI (mediana de intensidade de fluorescência) dos TLR‐2 e TLR‐4 foi determinado por imunofenotipagem em monócitos de sangue periférico total através de análise pelo citômetro de fluxo BD FACSDiva. O grupo usado para comparação foi de adultos saudáveis.

Resultados

Microrganismos foram identificados em 37% dos pacientes e estes juntamente com os pacientes com sepse clínica tiveram níveis elevados de citocinas pró‐inflamatórias (IL‐8, IL‐6, IL‐1β) e de citocina anti‐inflamatória (IL‐10) corroborando o processo inflamatório/infeccioso. No monócito, a frequência de expressão do TLR‐4 foi mais elevada (p = 0,01).

Conclusões

Este estudo analisou a resposta imune inata no recém‐nascido com sepse. Recém‐nascidos sépticos que dependem quase exclusivamente do sistema imune inato apresentaram pouca resposta in vivo na ativação de monócitos o que sugere uma resposta imune deficiente e maior susceptibilidade à infecção.

Palavras‐chave:
Sepse/imunologia
Imunidade inata
Receptor 2 toll‐like
Receptor 4 toll‐like
Recém‐nascidos
Monócitos
Texto Completo
Introdução

A sepse corresponde a uma das principais causas de morbidade e mortalidade no recém‐nascido (RN),1,2 com gravidade proporcional à interação existente entre o hospedeiro e seu agente agressor, desencadeando a ativação de uma cascata de eventos responsáveis pela expressão da resposta imune.

A sepse neonatal tardia ocorre após 72h de vida com sinais e sintomas clínicos que podem ser sutis e inespecíficos no começo da infecção, e muitas vezes mal interpretados ou confundidos com outras condições clínicas não infecciosas. Apesar disso, sua evolução pode ser fulminante e levar a choque séptico, coagulação intravascular disseminada e óbito em poucas horas.3–5

Diferentemente do adulto, foram descritos no RN muitos graus de deficiência na resposta imune inata e adaptativa.6 Ao nascimento, a resposta imune adaptativa está prejudicada tanto pela mínima exposição antigênica intraútero quanto pela disfunção das células B e T efetora.1 Por conta disso, o RN conta com a efetividade da resposta imune inata e com a proteção passiva dos anticorpos maternos adquiridos via transplacentária.7

Parte primordial do desencadear da resposta imune inata corresponde à ativação dos receptores Toll‐like (TLR) expressos na superfície de monócitos, macrófagos, células dendríticas, linfócitos, células epiteliais ou no citoplasma de células de diferentes tecidos. Dos dez tipos de receptores descritos em seres humanos, o TLR‐2 e o TLR‐4 reconhecem principalmente componentes de bactérias Gram‐positivas e Gram‐negativas, respectivamente. A ativação de sinais de transdução recruta várias proteínas intracelulares (MyD88, IRAK e TRAF‐6), que vão desencadear a ativação das vias JNK e ERK da cascata das MAPKs (proteínas quinases ativadas por mitógeno). Isso induz a ativação dos fatores de transcrição AP‐1 (ativador proteico‐1) e NF‐kB (fator nuclear kappa B) que expressam vários genes diretamente envolvidos na produção de citocinas inflamatórias em resposta à infecção, exercendo influência fundamental na amplificação da resposta imune celular.8–11

Os monócitos são células possuidoras de antígenos que agem sobre o processo inflamatório e como fontes de macrófagos e células dendríticas. Após a ativação via TLR ocorre aumento na expressão de moléculas coestimuladoras (CD80 e CD86), que são importantes no início da resposta imune adaptativa e na produção de citocinas.12

A regulação do sistema imunológico ao nascimento se traduz numa resposta neonatal do TLR tendenciosa por estimular uma menor produção de citocinas pró‐inflamatórias e mostrar menor polifuncionalidade.13,14 Somente com o decorrer da vida os níveis de citocinas se equiparam aos do indivíduo adulto.15 Ainda no período neonatal têm‐se descrito alterações quantitativas e qualitativas dos receptores Toll‐like e das células participantes da resposta imune inata quando comparadas ao indivíduo adulto, proporcionais à idade gestacional ao nascer.16 Estas diferenças poderiam elucidar a maior susceptibilidade à infecção observada na faixa etária neonatal.1,17

Portanto, apesar da crescente conscientização sobre a importância do sistema do TLR na defesa do RN contra as infecções,18 muito ainda precisa ser esclarecido sobre os mecanismos de regulação das respostas TLR no período neonatal. Assim, este estudo teve como objetivo caracterizar a expressão dos TLR‐2 e TLR‐4 em monócitos de recém‐nascidos a termo com sepse tardia.

Métodos

Trata‐se de um estudo prospectivo cuja amostra de conveniência incluiu 27 recém‐nascidos a termo transferidos para a Unidade de Cuidados Intensivos Neonatal do Hospital Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – HCFMUSP, no período entre fevereiro de 2011 a janeiro de 2013. Foram incluídos pacientes cuja idade gestacional esteve entre 37 e 42 semanas, que apresentaram manifestações clínicas e/ou laboratoriais (hemograma completo e PCR) de sepse neonatal entre 72h até 30 dias de vida no momento da internação ou durante a mesma que levou ao início de antibioticoterapia. Os critérios de exclusão foram fatores que por si só alterariam a resposta imune, como: diagnóstico de infecções congênitas, erros inatos do metabolismo, uso de anti‐inflamatórios (indometacina, ibuprofeno e corticóides), diagnóstico de hemorragia intracraniana comprovada por ultrassonografia ou tomografia computadorizada de crânio e procedimento cirúrgico na última semana além daqueles em que a data da coleta da amostra não seria favorável à análise do material.

Os critérios utilizados para definir o diagnóstico e classificar quanto à gravidade clínica (sepse, sepse grave e choque séptico) foram os citados no Surviving Sepsis Campaign (2012), ajustados para a faixa etária com base nos critérios de Goldstein (2005) conforme contemplado pelo consenso.19,20 A análise do hemograma completo foi baseada no escore hematológico de Rodwell (SHR), enquanto que um PCR (proteína C reativa) > 10mg/L foi considerado sugestivo de infecção. O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética para Análise de Projetos de Pesquisa do HCFMUSP (CAPPesq).

Amostras

Após consentimento livre e esclarecido dos responsáveis legais foram coletadas amostras de sangue dos RN por punção venosa de veia periférica para a avaliação do quadro infeccioso (HMG, PCR e hemocultura) e análise das citocinas e monócitos. O momento da coleta foi padronizado para ocorrer nas primeiras 24h a partir da suspeita diagnóstica de infecção e início da antibioticoterapia. Distribuiu‐se 0,5mL do sangue em tubo com gel separador para dosagem de citocinas e 1,5mL em tubo com EDTA para realização de imunofenotipagem, que foram realizados no Laboratório de Investigação Médica do Instituto da Criança do HC‐FMUSP (LIM 36).

Análise das citocinas

As citocinas TNF‐ α, IL‐1 β, IL‐2, IL‐4, IL‐6, IL‐8, IL‐10 foram dosadas nas amostras de soro através do teste de CBA (Cytometricbeadarray BD OptEIA™ Set Human), de acordo com as instruções do fabricante.

Análise de receptores Toll‐like

Para a realização da imunofenotipagem, as hemácias das amostras de sangue colhidas em tubo contendo EDTA foram preparadas para adição de anticorpos pré‐estabelecidos (tabela 1) e processamento até serem transferidas para leitura no citômetro de fluxo FACS LRS II Fortessa. A população de monócitos foi definida pelo gate de células CD14+HLA‐DR+ utilizando como parâmetro o tamanho (forward scatter, FSC) e a granulosidade celular (side scatter, SSC), como descrito na literatura.20

Tabela 1.

Marcadores de superfície celular de monócitos

Anticorpo monoclonal  Clone  Fluorocromo  Fabricante 
HLA‐DR  L243  APC Cy7  BD Biosciences 
CD14  M5E2  Pacific blue  BD Biosciences 
CD80  BB1  FITC  BD Biosciences 
CD86  2331(FUN‐1)  PE Cy5  BD Biosciences 
TLR‐2 (CD282)  11G7  Alexa 647  BD Biosciences 
TLR‐4 (CD284)  HTA 125  PE  BioLegenda 

HLA‐DR, antígeno leucocitário humano classe II, locus‐DR; CD, cluster of differentiation; TLR, receptor Toll‐like; APC Cy7, aloficocianina combinado ao corante de cianina; Pacific blue, fluoróforo 6, 8‐difluoro‐ 7‐ hidroxicumarina; FITC, isotiocianato de fluoresceína; PE Cy5, conjugado com ficoeritrina e corante de cianina; Alexa 647, fluorocromo para leitura entre 594 e 633nm; PE, R‐ficoeritrina. Clone, refere‐se aos marcadores dos anticorpos monoclonais especificados.

a

BioLegend Inc. (San Diego, CA, EUA).

A análise foi feita no software FlowJo (Tree Star, Ashland, OR, USA), onde cada população celular foi analisada separadamente através de gates utilizando como parâmetro o tamanho e a granulosidade celular. Pelo mesmo software foram obtidos os dados apresentados que representam a Mediana da Intensidade de Fluorescência (MFI, median fluorescence intensity) dos respectivos marcadores.

Os números absolutos das populações foram calculados pela multiplicação da porcentagem indicada de cada população na citometria de fluxo e o número absoluto de leucócitos determinados pelo contador automático de células.

Amostras controle de sangue de adultos saudáveis

Foram obtidas amostras de sangue periférico de 27 adultos saudáveis, que foram utilizadas para a padronização e o controle dos testes realizados. Os critérios de seleção foram: adultos voluntários saudáveis de 18 a 35 anos, dos sexos masculino e feminino, com reações sorológicas negativas para HIV, HTLV I/II, hepatites B e C, doença de Chagas e sífilis, e ausência de sintomas de infecção no período da coleta.

Análise estatística

Os dados dos RN foram registrados em formulário de coleta e armazenados em planilha eletrônica do pacote estatístico GraphPad‐Prism versão 6.0c para Mac OS X (GraphPad Software, La Jolla, Califórnia, Estados Unidos). Para as variáveis qualitativas foi calculada a frequência absoluta e relativa (número de casos e porcentagem), enquanto que para as variáveis quantitativas foi calculada a mediana, os valores mínimo e máximo e intervalo interquartil (p25‐p75), para cada um dos receptores avaliados em cada análise. O teste de Mann‐Whitney foi usado para comparar a mediana de marcadores entre os grupos, enquanto que a análise comparativa das medianas de mais de dois grupos utilizou‐se o Teste de Kruskal‐Wallis com pós‐teste de Dunn. Os testes foram realizados com limites de intervalo de confiança de 95%, e um valor de p<0,05 foi considerado significativo.

Resultados

As características clínicas e laboratoriais dos 27 RN incluídos no estudo encontram‐se na tabela 2. Observa‐se que a maioria dos pacientes (62,9%) apresentou quadro compatível com sepse grave (44,4%) e choque séptico (18,5%) ocorrido com mediana de idade de 20 dias de vida, sendo que foi constatado óbito em apenas dois pacientes (7,4%). Dentre os 17 pacientes que apresentaram cultura negativa, todos apresentaram sinais e sintomas clínicos claros de infecção e alterações laboratoriais compatíveis em hemograma e PCR no momento do diagnóstico e na análise clínica sequencial, sendo assim considerados pacientes com sepse clínica.

Tabela 2.

Distribuição dos 27 RN conforme os dados clínicos e laboratoriais

DADOS CLÍNICOS [Mediana (p25‐p75)]
Idade na internação (dias)  11 (2‐22) 
Idade no início dos sintomas (dias)  20 (8‐29) 
Idade na coleta (dias)  21 (12‐30) 
Peso (g)  3130 (2823‐3511) 
Sexo (M:F)  1,07:1 
EXAMES LABORATORIAIS [Mediana (p25‐p75)]
‐ SHR  1 (0‐3) 
‐ PCR (mg/L)  35,2 (9‐83,1) 
   
Culturas [N (%)]   
‐ Culturas positivas  10 (37%) 
Bactérias Gram‐positivas  4 (40%) 
Staphilococcus epidermidis 
Staphilococcus aureus 
Bactérias Gram‐negativas  6 (60%) 
Enterobacter cloacae 
Salmonella sp 
Escherichia coli  2a 
Klebsiella pneumoniae 
Bordetella pertussis 
‐ Culturas negativas  17 (63%) 
CITOCINAS pg/mL [Mediana (p25‐p75)]  Cultura positiva  Cultura negativa  p 
‐ IL‐6  147,7 (72,2‐385,1)  132,3 (6,3‐332)  0,6066 
‐ IL‐8  137,9 (61,1‐411,8)  58,1 (16,3‐55,4)  0,5414 
‐ IL‐1β  3,0 (1,07‐15,8)  2,55 (1,15‐5,62)  0,5349 
‐ IL‐10  8,05 (4,12‐19,9)  3,5 (1,8‐76,15)  0,4516 
‐ TNF‐ α  1,2 (0,45‐1,7)  1,75 (1,0‐2,47)  0,1188 
‐ IL‐2  1,7 (1,4‐1,9)  2,4 (1,6‐4,55)  0,1014 
‐ IL‐4  2,2 (0,85‐2,8)  0,4 (0,3‐1,1)  0,0714 

N, número absoluto; %, porcentagem; SHR, escore hematológico de Rodwell; PCR, proteína C reativa; IL, interleucina; TNF‐α, fator de necrose tumoral alfa.

a

1 paciente com urocultura positiva para Escherichia coli.

Desses pacientes com sepse clínica, oito (47%) apresentaram quadro clínico compatível com sepse, cinco (29,5%) com sepse grave e quatro (23,5%) com choque séptico. Além do mais, a dosagem das citocinas pró‐inflamatórias foi semelhante entre os pacientes infectados, independentemente da positividade da cultura, conforme mostrado na tabela 2. A positividade de cultura coletada de líquido estéril (sangue, urina e líquor) ocorreu em dez pacientes (37%) com distribuição conforme o agente isolado, como apresentado na mesma tabela.

Com relação aos monócitos observa‐se que, apesar do seu número absoluto total ser maior nos RN comparado aos adultos (p < 0,0001), houve frequência semelhante dos monócitos entre os grupos (fig. 1).

Figura 1.

Apresentação do gráfico de caixa do número absoluto (células/μL), frequência (%) e mediana da intensidade de fluorescência (MFI) para moléculas de ativação CD80, CD86, TLR‐2 e TLR‐4. Valores expressos em mediana ± intervalo interquartil (p25‐p75); p referente à significância estatística. Número da amostra dos grupos “RN” e “adulto” = 27.

RN, recém‐nascido; HLA‐DR, antígeno leucocitário humano classe II, locus‐DR; CD, cluster of differentiation; TLR, receptor Toll‐like.

(0.31MB).

O MFI para moléculas de ativação CD80, CD86 e a frequência e MFI para TLR‐2 e TLR‐4 encontra‐se exposta na figura 1. Além do menor MFI para CD86 nos RN com infecção, esses pacientes apresentaram manutenção da expressão no CD80 e TLR‐2 (p = 0,822 e p = 0,825, respectivamente), enquanto houve maior frequência para TLR‐4 no RN séptico em relação ao adulto (p = 0,0043).

A positividade da cultura esteve relacionada à maior frequência do TLR‐4 comparativamente aos adultos e aos pacientes com cultura negativa (tabela 3), enquanto houve frequência semelhante entre os grupos na avaliação do TLR‐2.

Tabela 3.

Mediana da frequência (%) e MFI dos receptores Toll‐like 2 e 4 em monócitos de sangue periférico de recém‐nascidos com infecção (cultura positiva ou negativa) e de sangue periférico de adultos

Monócitos  Adulto  Cultura negativa  Cultura positiva  p 
  [N] Mediana (p25‐p75)
%
TLR‐2  [27] 93,5(82‐98,5)  [17] 96,5(82,2‐97,6)  [10] 87,1(59‐92,2)  0,475 
TLR‐4  [27] 10,6(5,7‐17,9)  [17] 11,8(6,7‐24,9)  [10] 30,5(18,5‐72,1)  0,0011 
MFI
TLR‐2  [27] 3134 (1336‐6386)  [17] 8631(2972‐15300)  [10] 5504(3921‐42850)  0,516 
TLR‐4  [27] 2768(2159‐4377)  [17] 4276(1594‐5088)  [10] 3204(2017‐3831)  0,867 

N, número da amostra; Mediana da intensidade de fluorescência (MFI) p referente à significância estatística pelo teste de Kruskal‐Wallis; TLR, receptor Toll‐like.

Apesar da identificação de algumas bactérias, a análise entre a positividade da cultura conforme o tipo de bactéria identificada e os tipos de receptor Toll‐like não foi realizada devido ao número da amostra estudada.

Discussão

Descrevemos a resposta in vivo de monócitos neonatais de sangue periférico frente a um quadro infeccioso que evidenciou expressão semelhante ou menor de moléculas de ativação, além de maior expressão dos TLR‐4 em RN com infecção por bactérias gram‐positivas e gram‐negativas e do TLR‐2 em pacientes com sepse clínica.

Os monócitos são células do sistema fagocitário e exercem importante papel na imunidade inata e adquirida através da sua ação sobre o processo inflamatório ou como fonte dos macrófagos e células dendríticas. O comportamento dos TLR no RN, seja ele saudável ou com infecção, é controverso. Segundo Levy et al., embora a expressão basal dos receptores Toll‐like em monócitos de RN a termo seja similar ao de adultos, as consequências funcionais da ativação são bem diferentes, já que se observa menor produção de citocinas nos RN e menor expressão das moléculas coestimuladoras.18

Pôde‐se observar que, frente a um estímulo infeccioso, a população de recém‐nascidos analisada apresentou menor quantidade de células ativadas (MFI para CD86 menor que no indivíduo adulto e MFI para CD80 semelhante ao indivíduo adulto sem infecção) em sangue periférico, sugerindo um menor potencial de atividade deste tipo celular no RN, dado esse de acordo com a literatura.18–21

Com relação ao TLR‐2, observou‐se que o mesmo foi amplamente expresso nos monócitos neonatais (93,9%) e nos monócitos de indivíduos adultos sem infecção (94,6%). A mesma semelhança foi observada com relação ao MFI para esse receptor (MFI = 4748 e 6386, respectivamente), independentemente da positividade ou não da cultura, contrariando achados da literatura que demonstram um up‐regulation na expressão de TLR‐2 em monócitos isolados de pacientes com sepse bem como mudanças significantes na expressão de TLR‐2.22,23 Assim, na nossa casuística, onde todos os recém‐nascidos apresentavam sinais clínicos e laboratoriais de infecção, observamos que, apesar de apresentarem as ferramentas necessárias para reconhecer o antígeno invasor (receptor Toll‐like e moléculas coestimuladoras), estas não sofreram o up‐regulation esperado na análise global.

Enquanto isso, de forma contrária ao relatado por Viemann et al.,1 a presença de cultura positiva esteve associada a uma maior frequência na expressão do TLR‐4 com relação ao indivíduo adulto e com cultura negativa provavelmente secundária ao fato de a maior parte dos pacientes com cultura positiva ter isolado bactérias gram‐negativas (60%) na cultura. Já a expressão semelhante do mesmo receptor nos RN com cultura negativa e nos pacientes adultos pode sugerir uma tendência a imunoparalisia que teria desviado a mediana para níveis mais baixos e semelhantes ao do indivíduo adulto saudável, já que quatro RN deste grupo evoluíram com quadro de choque séptico.

Nosso estudo apresenta limitações que merecem ser ressaltadas, como o tamanho da amostra e seu caráter pontual quanto à avaliação do quadro infeccioso. Ainda assim, os resultados sugerem que no momento da hipótese diagnóstica de infecção no RN os receptores TLR‐2 e o TLR‐4 apresentaram uma expressão maior em RN com infecção, mas com manutenção da expressão das moléculas coestimuladoras indicando uma possível deficiência no processo de ativação celular in vivo.

Assim, embora maiores extrapolações não possam ser feitas, acreditamos que seria interessante verificar na evolução de um quadro clínico de infecção a resposta dos TLR, bem como da ativação celular em RN com infecção.

Financiamento

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado São Paulo ‐ FAPESP.

Conflitos de interesse

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado São Paulo pelo financiamento do projeto.

Referências
[1]
D. Viemann, G. Dubbel, S. Schleifenbaum, E. Harms, C. Sorg, J. Roth.
Expression of toll‐like receptors in neonatal sepsis.
[2]
R.P. Dellinger, M.M. Levy, J.M. Carlet, J. Bion, M.M. Parker, R. Jaeschke, et al.
Surviving Sepsis Campaign: international guidelines for management of severe sepsis and septic shock: 2008.
Crit Care Med, 36 (2008), pp. 296-327
[3]
A. Camacho-Gonzalez, P.W. Spearman, B.J. Stoll.
Neonatal infectious diseases: evaluation of neonatal sepsis.
Pediatr Clin North Am, 60 (2013), pp. 367-389
[4]
A.R. Bedford Russell.
Neonatal sepsis.
Paediatr Child Health, 21 (2011), pp. 265-269
[5]
M.A. Cianciarullo, I.C. Costa, M.E. Ceccon, V.L. Krebs.
New and old markers on infection in neonatal sepsis diagnostic: critic vision.
Pediatria (São Paulo), 30 (2008), pp. 107-117
[6]
T.R. Kollmann, J. Crabtree, A. Rein-Weston, D. Blimkie, F. Thommai, X.Y. Wang, et al.
Neonatal innate TLR‐mediated responses are distinct from those of adults.
J Immunol, 183 (2009), pp. 7150-7160
[7]
H.S. Yoon.
Neonatal innate immunity and toll‐like receptor.
Korean J Pediatr, 53 (2010), pp. 985-988
[8]
M. Muzio, D. Bosisio, N. Polentarutti, G. D’amico, A. Stoppacciaro, R. Mancinelli, et al.
Differential expression and regulation of toll‐like receptors (TLR) in human leukocytes: selective expression of TLR3 in dendritic cells.
J Immunol, 164 (2000), pp. 5998-6004
[9]
P.G. Tipping.
Toll‐like receptors: the interface between innate and adaptive immunity.
Am Soc Nephrol, 17 (2006), pp. 1769-1771
[10]
P.Y. Bochud, T. Calandra.
Pathogenesis of sepsis: new concepts and implications for future treatment.
BMJ, 326 (2003), pp. 262-266
[11]
S.C. Higgins, E.C. Lavelle, C. McCann, B. Keogh, E. McNeela, P. Byrne, et al.
Toll‐like receptor 4‐mediated innate IL‐10 activates antigen‐specific regulatory T cells and confers resistance to Bordetella pertussis by inhibiting inflammatory pathology.
J Immunol, 171 (2003), pp. 3119-3127
[12]
N. Kadowaki, S. Ho, S. Antonenko, R.W. Malefyt, R.A. Kastelein, F. Bazan, et al.
Subsets of human dendritic cell precursors express different toll‐like receptors and respond to different microbial antigens.
J Exp Med, 194 (2001), pp. 863-869
[13]
M. Nguyen, E. Leuridan, T. Zhang, D. De Wit, F. Willems, P. Van Damme, et al.
Acquisition of adult‐like TLR4 and TLR9 responses during the first year of life.
[14]
M. PrabhuDas, B. Adkins, H. Gans, C. King, O. Levy, O. Ramilo, et al.
Challenges in infant immunity: implications for responses to infection and vaccines.
Nat Immunol, 12 (2011), pp. 189-194
[15]
T.R. Kollmann, O. Levy, R.R. Montgomery, S. Goriely.
Innate immune function by Toll‐like receptors: distinct responses in newborns and the elderly.
Immunity, 37 (2012), pp. 771-783
[16]
E. Förster-Waldl, K. Sadeghi, D. Tamandl, B. Gerhold, U. Hallwirth, K. Rohrmeister, et al.
Monocyte toll‐like receptor 4 expression and LPS‐induced cytokine production increase during gestational aging.
[17]
J.L. Wynn, O. Levy.
Role of innate host defenses in susceptibility to early‐onset neonatal sepsis.
Clin Perinatol, 37 (2010), pp. 307-337
[18]
O. Levy.
Innate immunity of the newborn: basic mechanisms and clinical correlates.
Nat Rev Immunol, 7 (2007), pp. 379-390
[19]
R.P. Dellinger, M.M. Levy, A. Rhodes, D. Annane, H. Gerlach, S.M. Opal, et al.
Surviving sepsis campaign: international guidelines for management of severe sepsis and septic shock: 2012.
Crit Care Med, 41 (2013), pp. 580-637
[20]
B. Goldstein, B. Giroir, A. Randolph.
International Consensus Conference on Pediatric Sepsis. International pediatric sepsis consensus conference: definitions for sepsis and organ dysfunction in pediatrics.
Pediatr Crit Care Med, 6 (2005), pp. 2-8
[21]
C. Sánchez-Torres, G.S. García-Romo, M.A. Cornejo-Cortés, A. Rivas-Carvalho, G. Sánchez-Schmitz.
CD16+ and CD16‐ human blood monocyte subsets differentiate in vitro to dendritic cells with different abilities to stimulate CD4+ T cells.
Int Immunol, 13 (2001), pp. 1571-1581
[22]
M. Hirschfeld, Y. Ma, J.H. Weis, S.N. Vogel, J.J. Weis.
Cutting edge: repurification of lipopolysaccharide eliminates signaling through both human and murine toll‐like receptor 2.
J Immunol, 165 (2000), pp. 618-622
[23]
L. Härter, L. Mica, R. Stocker, O. Trentz, M. Keel.
Increased expression of toll‐like receptor‐2 and ‐4 on leukocytes from patients with sepsis.
Shock, 22 (2004), pp. 403-409

Como citar este artigo: Redondo AC, Ceccon ME, Silveira‐Lessa AL, Quinello C, Palmeira P, Carvalho WB, et al. TLR‐2 and TLR‐4 expression in monocytes of newborns with late‐onset sepsis. J Pediatr (Rio J). 2014;90:472–8.

Estudo realizado no Instituto da Criança, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.

Copyright © 2014. Sociedade Brasileira de Pediatria
Baixar PDF
Idiomas
Jornal de Pediatria
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Taxa de publicaçao Publication fee
Os artigos submetidos a partir de 1º de setembro de 2018, que forem aceitos para publicação no Jornal de Pediatria, estarão sujeitos a uma taxa para que tenham sua publicação garantida. O artigo aceito somente será publicado após a comprovação do pagamento da taxa de publicação. Ao submeterem o manuscrito a este jornal, os autores concordam com esses termos. A submissão dos manuscritos continua gratuita. Para mais informações, contate assessoria@jped.com.br. Articles submitted as of September 1, 2018, which are accepted for publication in the Jornal de Pediatria, will be subject to a fee to have their publication guaranteed. The accepted article will only be published after proof of the publication fee payment. By submitting the manuscript to this journal, the authors agree to these terms. Manuscript submission remains free of charge. For more information, contact assessoria@jped.com.br.
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.