Caro Editor:
Conforme proposto pelos autores em seu estudo, o raios X de tórax tem um papel significativo na diferenciação e na identificação da etiologia bacteriana da pneumonia.1 Os principais achados do raios X de tórax que sugerem uma patologia de origem bacteriana são: consolidação lobar ou segmentar, pneumatocele e presença de abscesso pulmonar. Esses achados são significativamente associados a uma infecção bacteriana típica.1
Apesar disso, na maior parte dos casos, a pneumonia bacteriana típica não é acompanhada por esses padrões radiológicos clássicos, principalmente nos primeiros estágios da doença.2 Por outro lado, algumas infecções virais podem mostrar padrões radiológicos semelhantes; por exemplo, um padrão de consolidação pode ser observado em uma infecção por adenovírus.2 Esse cenário é uma barreira para o diagnóstico etiológico somente com raios X de tórax. Em um estudo de 215 crianças com pneumonia adquirida na comunidade (PAC), das quais 62% apresentaram etiologia bacteriana e o restante foi exclusivamente viral, Virkki et al. constataram que os infiltrados alveolares apresentaram sensibilidade de 72% e especificidade de 51% na identificação de uma etiologia bacteriana.3 Eles também relataram que a especificidade aumentou até 85% quando os infiltrados alveolares foram do tipo lobar, principalmente em crianças com menos de dois anos. Os infiltrados intersticiais, por outro lado, não mostraram diferenciação adequada entre a pneumonia viral e bacteriana. A hiperplasia, a atelectasia e o pequeno derrame pleural também não apresentaram relevância para essa diferenciação.2
Em contrapartida, Moreno et al. encontraram, em crianças com PAC, uma forte correlação da interpretação das radiografias torácicas em ambas: nas interpretadas por um pediatra e pelos radiologistas, com excelente precisão de diagnóstico. A escala radiológica que eles usaram foi a escala de Khamapirad e mostrou sensibilidade de 100% (IC de 95%: 90%‐100%), especificidade de 98% (IC de 95%: 93%‐99%), valor preditivo positivo de 96% (IC de 95%:85%‐99%) e valor preditivo negativo de 100% (IC de 95%: 96%‐100%) para prever pneumonia bacteriana com um simples raios X de tórax.4 Este estudo reforça fortemente a utilidade de um de raios X no diagnóstico etiológico da pneumonia bacteriana, bem como sua utilidade para descartá‐la quando o resultado é negativo.
Além disso, Torres et al., em seu estudo com crianças internadas por PAC, também com o uso da escala de Khamapirad, encontraram sensibilidade de 100% (IC de 95%: 83%‐100%), especificidade de 94% (IC de 95%: 88%‐97%), valor preditivo positivo de 77% (IC de 95%: 58%‐90%) e valor preditivo negativo de 100% (IC de 95%: 96%‐100%) para prever pneumonia bacteriana.5 Isso corrobora os achados de todos os autores acima e nos mostra a capacidade de identificação etiológica bacteriana por meio do uso de um raios X de tórax e uma escala adequada.5 Por fim, Guanoluisa & Geovanny obtiveram um índice kappa de 0,87, que representa uma concordância muito boa. Nesse estudo, eles também usaram a escala de Khamapirad para avaliar as radiografias de tórax das crianças.6
Com base nos achados do estudo de Andrade et al. e além da literatura revisada, pode‐se concluir que o uso da escala de Khamapirad em um raios X de tórax para identificar a etiologia bacteriana da pneumonia é muito precisa, tanto para confirmar a etiologia quanto para descartá‐la de acordo com a pontuação radiológica. O uso de uma pontuação de avaliação como essa de Khampirad permite uma melhor sensibilidade e especificidade do raios X de tórax. Dessa forma, recomenda‐se introduzir esses critérios para melhorar a identificação etiológica e o manejo terapêutico de pacientes pediátricos com diagnóstico de pneumonia, principalmente nas áreas onde não há pediatras.
FinanciamentoEste estudo foi financiado pelo próprio autor.
Conflitos de interesseO autor declara não haver conflitos de interesse.
Ao Dr. Juan Francisco Sanchez (Lima, Peru) por toda a ajuda e orientação durante o desenvolvimento deste estudo.
Como citar este artigo: Bustamante DV. Khamapirad radiologic criteria as a predictor of pneumonia's bacterial etiology. J Pediatr (Rio J). 2018;94:689–90.