To evaluate the prevalence of excessive screen‐based behaviors among Brazilian adolescents through a systematic review with meta‐analysis.
Data sourceSystematic review and meta‐analysis were recorded in the International Prospective Register of Ongoing Systematic Reviews (PROSPERO‐CRD 2017 CRD42017074432). This review included observational studies (cohort or cross‐sectional) that evaluated the prevalence of excessive screen time (i.e. combinations involving different screen‐based behaviors) or TV viewing (≥2h/day or>2h/day in front of screen) through indirect or direct methods in adolescents aged between 10 and 19 years. The research strategy included the following databases: MEDLINE, LILACS, SciELO and ADOLEC. The search strategy included terms for “screen time”, “Brazil”, and “prevalence”. Random effect models were used to estimate the prevalence of excessive screen time in different categories.
Data summaryTwenty‐eight out of 775 studies identified in the search met the inclusion criteria. The prevalence of excessive screen time and TV viewing was 70.9% (95% CI: 65.5–76.1) and 58.8% (95% CI: 49.4–68.0), respectively. There was no difference between sexes in both analyses. The majority of studies included showed a low risk of bias.
ConclusionsThe prevalence of excessive screen time and TV viewing was high among Brazilian adolescents. Intervention are needed to reduce the excessive screen time among adolescents.
Avaliar a prevalência de tempo excessivo de tela e de TV em adolescentes brasileiros através de revisão sistemática com metanálise.
Fontes de dadosA revisão sistemática e a metanálise foram registradas no Registro Prospectivo Internacional da Base de Dados de Análises Sistemáticas (Prospero-CRD 2017 CRD 42017074432). Esta análise incluiu estudos observacionais (coorte ou transversais) que avaliaram a prevalência de tempo excessivo de tela (ou seja, combinações que envolvem diferentes comportamentos baseados em tempo de tela) ou tempo em frente à TV (≥ 2 horas/dia ou> 2 horas/dia em frente à tela) por avaliação direta ou indireta em adolescentes com idades entre 10 a 19 anos. A estratégia de pesquisa incluiu as seguintes bases de dados: MEDLINE, LILACS, SciELO e ADOLEC. A estratégia de busca incluiu termos como “tempo de tela”, “Brasil” e “prevalência”. Os modelos de efeito aleatório foram utilizados para estimar a prevalência de tempo excessivo de tela em diferentes categorias.
Resumo de dadosDos 775 estudos identificados na busca 28 atenderam aos critérios de inclusão. A prevalência de tempo excessivo de tela e tempo de TV foi 70,9% (IC de 95%: 65,5 a 76,1) e 58,8% (IC de 95%: 49,4 a 68,0), respectivamente. Não houve diferença entre os sexos nas duas análises. A maior parte dos estudos incluídos mostrou baixo risco de viés.
ConclusõesA prevalência de tempo excessivo de tela e tempo de TV foi alta entre os adolescentes brasileiros. São necessárias intervenções para reduzir o tempo excessivo de tela entre os adolescentes.
Comportamentos não saudáveis, como uso de tabaco, má alimentação, inatividade física e tempo de sedentarismo, estão associados à morbidez e mortalidade.1 Esses comportamentos são estabelecidos com mais frequência durante a infância e a adolescência e mantidos até a idade adulta.1 A disponibilidade cada vez maior da tecnologia faz com que as pessoas passem mais tempo sentadas e a quantidade de horas nesse tipo de atividade provavelmente continuará a aumentar nos próximos anos.2 Na última década, houve um aumento do número de estudos que relatam as consequências relacionadas à saúde do tempo excessivo de sedentarismo,3,4 principalmente tempo em frente às telas.5 Entre os adolescentes, os níveis mais elevados de tempo de tela foram associados a fatores de risco cardiometabólico agrupados, menor aptidão física, conduta comportamental desfavorável, baixa autoestima e pior estado de saúde mental.6,7
Atualmente, o comportamento sedentário é caracterizado como as atividades com baixos níveis de gasto de energia (≤ 1,5 MET) em uma posição sentada ou reclinada e é um consenso que o comportamento sedentário não é simplesmente falta de atividade física.8 Essa definição inclui atividades como entretenimento sentado, deitado e baseado em tela.9 Entre adolescentes, assistir à TV é o comportamento sedentário mais estudado.10 Considerando as implicações mencionadas, a Academia Americana de Pediatria recomenda que as crianças e os adolescentes limitem o tempo total de entretenimento baseado em tela a no máximo duas horas por dia.11
Apesar de não indicar o tempo total sedentário por dia, o entretenimento baseado em tela é considerado a forma mais prevalente de comportamento sedentário12 e é prejudicial para a saúde geral.13 No Brasil, as estimativas nacionais recentes mostraram uma prevalência de 51,8% no tempo de tela entre os adolescentes.14 Os dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) mostraram que a prevalência de adolescentes expostos a no mínimo duas horas por dia assistindo à TV é alta em todo o país (78,0%).15 Contudo, esses estudos usaram diferentes definições, pontos de corte e componentes de tempo de tela para avaliar o comportamento sedentário, que dificulta as comparações e pesquisa nessa área.
Recentemente, foram publicadas duas análises sistemáticas sobre o comportamento sedentário entre adolescentes brasileiros.16,17 Uma delas focou nas características metodológicas dos estudos selecionados e avaliados com relação aos fatores do tempo de sedentarismo.16 A outra análise visou a resumir os estudos que relataram a prevalência do tempo de sedentarismo baseado em tela; contudo, somente uma síntese qualitativa foi feita.17 Considerando a importância do comportamento sedentário baseado em tela entre os adolescentes, este estudo visa a investigar a prevalência de tempo excessivo de tela e assistir à TV entre os adolescentes brasileiros por meio de uma análise sistemática e metanálise.
MétodosEste estudo foi registrado no Registro Prospectivo Internacional da Base de Dados de Análises Sistemáticas (Prospero‐CRD 2017 CRD42017074432) e relatado de acordo com os Itens Preferenciais para Relato em Revisões Sistemáticas (Prisma).18
Estratégia de buscaFoi feita uma busca abrangente na literatura para identificar os artigos que contivessem informações sobre a prevalência do tempo excessivo de tela em adolescentes brasileiros. Dois analistas fizeram uma busca de maneira independente nas bases de dados eletrônicas (Medline/PubMed, Lilacs, SciELO e Adolec) por estudos publicados entre janeiro de 1980 e julho de 2017. As estratégias de busca incluíram termos médicos para “Tempo de tela”, “Brasil” e seus estados e “Prevalência”. As estratégias de busca usadas em todas as bases de dados são apresentadas no Arquivo Complementar 1. Além disso, as referências dos estudos publicados também foram pesquisadas manualmente. Os relatos duplicados foram excluídos na primeira etapa de seleção dos artigos. Todos os estudos potencialmente elegíveis foram considerados para análise. A versão X7 do software EndNote (Thomson Reuters, NY, EUA) foi usada para gestão de seleção de referências.
Seleção do estudoIncluímos estudos observacionais (coorte e transversais) nos quais a amostra consistiu em adolescentes entre 10 e 19 anos e que relatassem a prevalência de comportamento sedentário baseado em tela. Foram identificados dois padrões de avaliação de tempo de tela: estudos que investigaram assistir à TV somente ou aqueles que avaliaram o tempo em frente a várias telas (por exemplo, assistir à TV+uso de computador+jogar videogame) e que seguiram os pontos de corte recomendados pela Academia Americana de Pediatria,11 que sugere um limite de tempo total de entretenimento baseado em tela de no máximo duas horas por dia para os jovens. Nenhuma restrição foi aplicada aos idiomas; contudo, foram excluídos os estudos nos quais o tamanho da amostra incluída foi inferior a 300 adolescentes.
Extração de dadosOs títulos e os resumos de todos os artigos identificados na estratégia de busca foram avaliados duas vezes por investigadores independentes para inclusão posterior de possíveis estudos para análise dos textos completos. Todos os resumos que forneceram informações suficientes sobre os critérios de inclusão e exclusão foram selecionados para avaliação dos textos completos. Na segunda fase, os mesmos investigadores avaliaram os artigos com textos completos de maneira independente e fizeram sua seleção de acordo com os critérios de elegibilidade. Qualquer discordância entre os entrevistadores foi debatida até haver um consenso.
Os dados foram extraídos de maneira independente por dois analistas, com uma planilha padronizada com base na lista de verificação (checklist) Fortalecendo o Relato de Estudos Observacionais em Epidemiologia (Strobe),19,20 que abrangeu características metodológicas, descreveu estudos e as principais perguntas de pesquisa; e as discordâncias foram resolvidas por consenso.
Avaliação da qualidade do estudoO risco de viés de cada estudo selecionado foi avaliado com uma ferramenta de 10 itens, desenvolvida especificamente para estudos de prevalência.21 O instrumento foi estruturado em dois grupos: um domínio de validade externa com quatro itens e um domínio de validade interna com seis itens. Uma avaliação resumida considerou um estudo risco de viés baixo, moderado ou alto. Para esta análise, um estudo foi considerado alto risco de viés se a estrutura de amostras não representasse fielmente a população e a seleção não aleatória tivesse sido usada e considerado risco moderado se a seleção não aleatória tivesse sido usada ou se o estudo apresentasse mais de um risco mínimo de viés de não reposta.
Análise de dadosOs estudos selecionados foram analisados de acordo com a categoria de tempo de sedentarismo baseado em tela da seguinte forma: (TV, computador, videogame ou combinação dos dois) ou somente assistir à TV.
Os modelos de efeito aleatório foram usados para calcular todas as estimativas e seu intervalo de confiança de 95% (IC de 95%), bem como para estimar a prevalência de tempo excessivo de tela e assistir à TV entre os adolescentes brasileiros. As análises de sensibilidade foram feitas por sexo, faixa etária, região, ano de estudo e pontos de corte para tempo de tela/assistir à TV em cada estudo. A transformação arco seno foi usada para abordar a assimetria de distribuição com relação às diferentes medidas de prevalência.22 A correção de continuidade foi usada para ajuste quando uma distribuição discreta foi aproximada por uma distribuição contínua. A prevalência foi ponderada pela variação inversa dos valores transformados. Os valores agrupados foram então convertidos para prevalência para tornar os resultados interpretáveis.
A heterogeneidade estatística entre os resultados sobre a prevalência de tempo excessivo de tela e assistir à TV dos estudos foi avaliada pelo teste qui‐quadrado de Cochrane, com nível de significância de 0,1, e pelo teste I2, no qual os valores acima de 50% foram considerados indicação de alta heterogeneidade.23 As análises estatísticas foram feitas com a versão 14 do software Stata (StataCorp LP, College Station, TX) e o MetaXL (EpiGear International, Sunrise Beach, Austrália), um programa abrangente em Excel para metanálise.
ResultadosDescrição dos estudosO fluxograma da seleção dos estudos é apresentado na figura 1. Foram identificados 777 estudos com a estratégia de busca adotada, dos quais 28 artigos atenderam a todos os critérios de inclusão. Um trabalho avaliou o tempo de tela e assistir à TV em dois momentos (2001 e 2011)24 e por isso foi incluído duas vezes na análise. Foram incluídos 21 estudos4,14,24–41 na análise de tempo de tela e 1024,42–49 na análise de assistir à TV (fig. 1).
A idade dos participantes incluídos nos estudos selecionados variou de 10 a 19 anos. Foram incluídos 30 estudos com modelo transversal e um estudo de coorte, representaram 307.485 adolescentes (151.767 meninas e 143.560 meninos).
As características dos estudos são apresentadas na tabela 1. A maior parte dos estudos foi das regiões Sul (n=17) e Nordeste e Sudeste (n=5 cada) do Brasil e um estudo da região Centro‐Oeste. Além disso, três estudos mostraram estimativas nacionais de tempo excessivo de tela ou assistir à TV. Vinte estudos relataram a prevalência de tempo de tela e oito a prevalência de somente assistir à TV. Todos os estudos avaliaram o tempo de tela por questionários. Cinco estudos relataram a distribuição do tempo de tela como uma variável contínua e a mediana observada foi 3,6 horas por dia. Além disso, a prevalência de tempo excessivo de tela acima de 50% foi observada em 90% e 67% dos estudos que avaliaram o tempo de tela e assistir à TV, respectivamente.
Características dos estudos incluídos
Estudo por região | Ano do estudo | Cidade/Estado | Modelo do estudo | Amostra | Idade | Componentes de comportamento sedentário | Ponto de corte (horas por dia) |
---|---|---|---|---|---|---|---|
Nordeste | |||||||
Rivera et al., 201047 | 2001 | Maceió, AL | Transversal | 1.004 | 10‐17a | TV | >2h/dia |
Tenório et al., 201049 | 2006 | Pernambuco | Transversal | 4.210 | 14‐19a | TV | >2h/dia |
Silva et al., 201448 | 2011 | Aracaju, SE | Transversal | 2.174 | 13‐18a | TV | ≥2h/dia |
de Lucena et al., 201526 | 2009 | João Pessoa, PB | Transversal | 2.879 | 14‐19a | TV/videogame/computador | >2h/dia |
Silva et al., 201635 | 2011 | Sergipe | Transversal | 3.992 | 14‐19a | TV/videogame/computador | >2h/dia |
Centro‐Oeste | |||||||
Wendpap et al., 201438 | 2009/2011 | Cuiabá, MT | Transversal | 1.326 | 10‐14a | TV/videogame/computador | >2h/dia |
Sudeste | |||||||
Ceschini et al., 200945 | 2006 | São Paulo, SP | Transversal | 2.021 | 14‐16a | TV | >2h/dia |
de Vitta et al., 201127 | 2007 | Bauru, SP | Transversal | 1.236 | 11‐14a | TV/videogame/computador | >2h/dia |
de Vitta et al., 201428 | 2009 | Bauru, SP | Transversal | 524 | 10‐14a | TV/videogame/computador | >2h/dia |
de Prado Junior et al., 201529 | 2010/2011 | Viçosa, MG | Transversal | 676 | 10‐19a | TV/videogame/computador | >2h/dia |
Fernandes et al., 201531 | 2009 | Ourinhos, SP | Transversal | 1461 | 10‐14a | TV/videogame/computador | >2h/dia |
Sul | |||||||
Dutra et al., 200646 | 2003 | Pelotas, RS | Transversal | 810 | 10‐19a | TV | ≥2h/dia |
Silva et al., 200837 | 2002 | Santa Catarina | Transversal | 5028 | 15‐19a | TV/videogame/computador | ≥2h/dia |
Campagnolo et al., 200744 | 2002/2003 | São Leopoldo, RS | Transversal | 722 | 10‐19a | TV | >2h/dia |
Dumith et al., 201030 | 2004/2005 | Pelotas, RS | Coorte | 4.431 | 11‐15a | TV/videogame/computador | >2h/dia |
Silva et al., 201136 | 2007 | Caxias do Sul, RS | Transversal | 1.622 | 11‐17a | TV/computador | >2h/dia |
Barbosa Filho et al., 201242 | 2011 | Curitiba, PR | Transversal | 1.628 | 11‐18a | TV | >2/dia |
Rech et al., 201334 | 2011 | Caxias do Sul, RS | Transversal | 1230 | 11‐14a | TV/videogame/computador | >2/dia |
Silva et al., 2014a.24 | 2001/2011 | Santa Catarina | Transversal | 5.028 | 15‐19a | TV/videogame/computador | ≥2h/dia |
Coledam et al., 201441 | 2014 | Londrina, PR | Transversal | 738 | 10‐17a | TV/videogame/computador | >2h/dia |
Christofaro et al., 20154 | 2011 | Londrina, PR | Transversal | 1231 | 10‐17a | TV/videogame/computador | ≥2h/dia |
Castro et al., 201625 | 2014 | São José, SC | Transversal | 930 | 14‐19a | TV/videogame/computador | ≥2h/dia |
Gonçalves et al., 201633 | 2014 | São José, SC | Transversal | 879 | 14‐19a | TV/videogame/computador | ≥2h/dia |
Bacil et al., 201639 | 2014 | Ponta Grossa, PR | Transversal | 945 | 14‐18a | TV/computador | >2/dia |
Ferreira et al., 201632 | 2013 | Pelotas, RS | Transversal | 8661 | 12‐16a | TV/videogame/computador/atividades sentado | ≥2h/dia |
Estimativas nacionais | |||||||
Camelo et al., 201243 | 2009 | Capitais (PeNSE, 2009) | Transversal | 59.809 | 13‐16a | TV | >2h/dia |
de Rezende et al., 201440 | 2012 | Capitais (PeNSE, 2012) | Transversal | 109.104 | 13‐16a | TV/videogame/computador | >2h/dia |
Oliveira et al., 201614 | 2013/2014 | Capitais e outras cidades (ERICA) | Transversal | 74589 | 12‐17a | TV/videogame/computador | >2h/dia |
AL, Alagoas; Erica, Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes; TV, televisão; MG, Minas Gerais; MT, Mato Grosso; NR, não relatado; PB, Paraíba; PE, Pernambuco; PeNSE, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar; PR, Paraná; RS, Rio Grande do Sul; SC, Santa Catarina; SE, Sergipe; SP, São Paulo.
A qualidade metodológica dos estudos é apresentada no Arquivo Complementar 2. Oito estudos foram classificados como risco moderado de viés (25,8%) e três como alto risco de viés (9,7%); 12 estudos (38,7%) mostraram alto risco para medição confiável e válida do parâmetro de interesse, sete (22,6%) mostraram risco mínimo de viés de não resposta, cinco (16,1%) não relataram a seleção aleatória usada, três (9,7%) apresentaram uma estrutura de amostra que não representou fielmente a população‐alvo e um (3,2%) não representou a população nacional.
Síntese de dadosResultados do tempo de telaA metanálise dos estudos que relataram a prevalência de tempo excessivo de tela (n=21) é apresentada na figura 2. A prevalência de tempo de tela entre os adolescentes brasileiros foi alta (70,9%, IC de 95%: 65,5%‐76,1%), sem diferença entre meninos e meninas (fig. 3 – painel A).
A tabela 2 mostra os resultados das metanálises dos subgrupos pré‐definidos. A prevalência de tempo excessivo de tela tendeu a ser maior entre os adolescentes mais velhos (15 a 19 anos), em comparação com os mais novos (10 a 14 anos). Com relação à região, a menor prevalência de tempo excessivo de tela foi observada na região Nordeste; contudo, a heterogeneidade foi alta nessa análise. A metanálise dos estudos que usaram dados de estimativas nacionais (n=2) mostrou menor prevalência de tempo excessivo de tela do que os estudos que usaram dados de uma cidade ou região separadamente.
Metanálise dos subgrupos
Variáveis | N | Prevalência (IC de 95%) | I2% |
---|---|---|---|
Tempo de tela | |||
Faixa etária | |||
”Mais novos” | 13 | 67,9 (62,6‐72,9) | 100 |
”Mais velhos” | 8 | 75,6 (64,0‐86,2) | 100 |
Região | |||
Sul | 13 | 74,1 (67,0‐80,8) | 100 |
Sudeste | 4 | 70,5 (65,9‐74,9) | 89 |
Nordeste | 2 | 64,0 (28,3‐95,3) | 100 |
Estimativas nacionais | 2 | 56,9 (46,9‐66,6) | 100 |
Ano do estudo | |||
Até 2007 | 7 | 73,7 (66,9‐80,1) | 99 |
2008‐2012 | 9 | 70,0 (58,3‐81,0) | 100 |
Após 2012 | 5 | 70,9 (65,5‐76,1) | 100 |
Ponto de corte | |||
> 2 horas/dia | 15 | 66,5 (61,6‐71,3) | 100 |
≥ 2 horas/dia | 6 | 80,9 (72,6‐88,5) | 99 |
Tempo de assistir à TV | |||
Região | |||
Sul | 7 | 59,0 (46,9‐70,7) | 100 |
Nordeste | 3 | 58,4 (41,2‐75,0) | 100 |
Ano de estudo | |||
Até 2007 | 6 | 61,0 (41,7‐79,3) | 100 |
2008‐2012 | 4 | 55,7 (44,7‐66,4) | 100 |
Ponto de corte | |||
> 2 horas/dia | 6 | 50,7 (34,5‐66,9) | 100 |
≥ 2 horas/dia | 4 | 70,5 (61,7‐78,6) | 99 |
I2, teste de inconsistência; IC, intervalo de confiança; mais novos: 10 a 14 anos; mais velhos, 15 a 19 anos.
Não houve diferença na prevalência de tempo de tela considerando o ano da coleta de dados. Conforme esperado, os estudos que adotaram os pontos de corte ≥ 2h/dia mostraram maior prevalência de tempo excessivo de tela do que os estudos que usaram os pontos de corte> 2h/dia (tabela 2).
Resultados de assistir à TVDez estudos relataram dados de assistir à TV em excesso somente e a metanálise mostrou uma prevalência de 58,8% (IC de 95%: 49,4%‐68,0%) entre os adolescentes brasileiros (fig. 4). Na metanálise por sexo, a prevalência de assistir à TV em excesso entre meninos foi ligeiramente menor (59,2%, IC de 95%: 52,2%‐66,1%) em comparação com as meninas (66,3%, IC de 95%: 58,2%‐73,9%) (fig. 3 – painel B).
A tabela 2 mostra a metanálise dos subgrupos para assistir à TV em excesso. Para esse resultado, somente os dados das regiões Nordeste e Sul estavam disponíveis e nenhuma diferença na prevalência de tempo excessivo de tela foi observada entre as regiões. Além disso, a análise de tendências que comparou os estudos feitos até 2007 ou posteriormente mostrou uma prevalência semelhante de assistir à TV em excesso. Os estudos que adotaram o ponto de corte ≥ 2h/dia, em vez de> 2h/dia, mostraram uma maior prevalência de assistir à TV em excesso. Foi identificada alta heterogeneidade estatística em todas as análises.
DiscussãoO presente estudo mostrou ampla abrangência e alta prevalência de tempo excessivo de tela e de TV entre adolescentes brasileiros. Na metanálise dos subgrupos, investigamos a prevalência de tempo excessivo de tela e assistir à TV por sexo, região, idade e ponto de corte; contudo, isso não foi suficiente para explicar a heterogeneidade observada. Além disso, a maior parte dos estudos incluídos mostrou baixo risco de viés.
Em todas as análises, observamos alta prevalência de tempo excessivo de tela e assistir à TV. A maior parte dos adolescentes brasileiros gasta mais de duas horas por dia em frente às telas. Da mesma forma, 59,2% dos adolescentes espanhóis50 e 80,6% dos adolescentes canadenses51 gastam mais de duas horas por dia em frente às telas. Os dados dos Estados Unidos mostraram um aumento na prevalência de assistir à TV de 1999 a 2013 (43% em comparação com 32%). Por outro lado, a prevalência de adolescentes que gastam mais de duas horas por dia no videogame ou no computador no tempo de lazer aumentou de 2003 a 2013 (22% em comparação com 41%) nos Estados Unidos.52 Da mesma forma, houve uma queda na prevalência de assistir à TV e aumento no uso de computador e videogame durante dez anos entre os adolescentes brasileiros.24
A prevalência de tempo excessivo de tela entre os adolescentes brasileiros variou de 35%34 a 90%.24 Os dois estudos avaliaram adolescentes de cidades na região Sul do Brasil, apesar de Rech et al.34 terem avaliado adolescentes mais novos (11 a 14 anos) e o ponto de corte ter sido> 2 horas/dia e Silva et al.24 avaliaram adolescentes mais velhos (15 a 19 anos) e o ponto de corte foi ≥ 2 horas/dia. As diretrizes53,54 recomendam no máximo duas horas por dia de tempo de tela recreativo entre crianças e adolescentes. Há uma discussão se esse ponto de corte é muito baixo, pois, atualmente, devido à alta disponibilidade da tecnologia, os adolescentes gastam muito mais tempo em frente às telas estudando ou por entretenimento. Dois estudos4,55 incluídos na presente análise foram feitos na mesma cidade e com uma amostra de mesma faixa etária, mostraram quase 25% (71,7% em comparação a 89,9%) de diferença na prevalência de tempo excessivo de tela devido às diferenças nos pontos de corte entre eles. Há um desafio para os pesquisadores que dificulta a comparabilidade entre os estudos.
Entre os adultos, a recomendação da American Heart Association é “Sente‐se menos, mova‐se mais”, pois há comprovação insuficiente com relação ao tempo adequado de comportamento sedentário necessário para maximizar os benefícios para a saúde cardiovascular.56 Ekelund et al. mostraram que uma hora de atividade física moderada a intensa por dia pode eliminar os efeitos prejudiciais de oito horas de tempo sentado em homens e mulheres.57 Entre crianças e adolescentes, o tempo de tela seria mais prejudicial do que entre adultos? O fato de as crianças serem mais ativas fisicamente é suficiente para compensar os possíveis do comportamento sedentário sobre a saúde? Há muitas perguntas que ainda precisam ser respondidas para ter a melhor recomendação sobre a quantidade de tempo de tela que é prejudicial e perigosa nessa população. Por outro lado, os avanços tecnológicos fornecem acesso a informações para mais pessoas, melhoram a equidade em saúde.58
Não foi observada diferença estatística por sexo na prevalência de tempo excessivo de tela e assistir à TV na presente análise. Guerra et al.16 também não encontraram associação entre sexo e níveis elevados de tempo de sedentarismo baseado em tela entre os adolescentes brasileiros. Isso está em linha com o observado entre os adolescentes americanos.59 Contudo, Mielgo‐Ayuso et al.50 mostraram que os meninos espanhóis gastam mais tempo no videogame e nos jogos de computador, principalmente nos fins de semana, em comparação com as meninas. Essas informações reforçam que a prevalência do comportamento sedentário pode variar de acordo com o domínio (tempo sentado, tempo de tela, assistir à TV) e dias de semana ou fins de semana. Esses aspectos do comportamento sedentário devem ser investigados ainda mais em uma pesquisa futura.
Não encontramos diferença na prevalência de tempo excessivo de tela ou assistir à TV de acordo com as faixas etárias. Em contrapartida, Gebremariam et al.60 avaliaram as crianças norueguesas na transição entre a infância e a adolescência e observaram que o uso de TV, computador e jogos eletrônicos aumentou com a idade em dois anos. Na mesma linha, os adolescentes espanhóis mais velhos (14 a 16 anos) foram mais propensos a usar computador, videogame e telefone celular do que os adolescentes mais novos (12 a 13 anos).61
Na análise por região, a prevalência de tempo excessivo de tela nas regiões Sul e Sudeste é ligeiramente maior do que na região Nordeste, porém não foi observada diferença na prevalência de assistir à TV em excesso. Um estudo recente62 relatou que 65% e 60% dos adolescentes brasileiros gastam mais de duas horas por dia em frente às telas nas regiões Sudeste e Sul, respectivamente, em comparação com 44,6% na região Norte. No Brasil, há uma grande desigualdade socioeconômica entre as regiões, nas quais os cinco principais estados que contribuem para cerca de 65% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional estão localizados nas regiões Sudeste e Sul.63 Essas desigualdades podem afetar o acesso da família à tecnologia e, consequentemente, o tempo gasto em frente às telas.
Neste estudo, a prevalência de tempo excessivo de tela foi mantida estável durante o período analisado; contudo, o tempo diante da TV apresentou queda no mesmo período entre os adolescentes brasileiros. Ao mesmo tempo, estudos anteriores64,65 também encontraram uma redução ou estabilização na prevalência de assistir à TV em excesso nos últimos anos. Por outro lado, há estudos que mostram um aumento no tempo gasto em frente ao computador e/ou videogames entre os adolescentes, no Brasil ou no exterior.24,66,67 Essas observações contraditórias podem ser explicadas, em parte, pela mudança de comportamento (assistir à TV ao uso de computadores/videogames) e pelas estratégias metodológicas adotadas pela maior parte dos estudos incluídos nesta análise, que avaliaram o tempo de tela total (combinações) e não avaliaram os domínios específicos separadamente. De fato, quando combinamos o tempo em frente à TV, computador e videogame, as diferenças nos padrões de uso podem ser amenizadas. Além disso, as análises de tendências podem ser afetadas, pois os estudos que envolvem comportamento sedentário e tempo de tela são mais recentes, limitam essas análises.
Todos os estudos nesta análise sistemática usaram um questionário para avaliar o tempo de tela e assistir à TV. A precisão dos autorrelatos é influenciada pela capacidade de o entrevistado lembrar precisamente o que é perguntado, de forma retroativa. Portanto, os métodos indiretos estão sujeitos ao viés de memória.68 Um estudo anterior16 observou que um dos quatro estudos sobre comportamento sedentário não relatou informações sobre a validade do instrumento usado para avaliar o tempo de sedentarismo. Ademais, além da melhoria dos questionários, combinar métodos de autorrelato com medidas objetivas pode fornecer uma melhor medição e controle do viés de memória.69 Além disso, apesar do amplo uso de questionários para avaliar o comportamento sedentário que envolve crianças e adolescentes, Lubans et al., em sua análise sistemática, mostraram poucos estudos que relatam a confiabilidade e a validade das medidas usadas, recomendaram que os pesquisadores selecionem instrumentos relatados anteriormente e com confiabilidade e validade aceitáveis.70
Nos últimos anos, houve um aumento nos estudos que relatam estratégias para reduzir a exposição ao tempo de tela. Buchanan et al.71 mostraram, em sua análise sistemática, forte comprovação de que as intervenções que visaram a reduzir o tempo de tela recreativo e aumentar o nível de atividade física ou adotar uma alimentação saudável foram eficazes na melhoria ou manutenção do status do peso entre crianças ≤ 13 anos. Por outro lado, Biddle et al.72 observaram um pequeno efeito entre as intervenções nas quais o objetivo foi reduzir o comportamento sedentário e concluíram que os estudos futuros devem envolver crianças e famílias na estratégia com vistas a reduzir o comportamento sedentário.
LimitaçõesO presente estudo tem algumas limitações. Primeira, os diferentes domínios de tempo de tela avaliados por meio dos estudos e a alta heterogeneidade na metanálise limitam a interpretação dos resultados, principalmente para o tempo total de tela. Todos os estudos avaliaram assistir à TV e tempo de tela por questionário e quase 40% não relatou a validação do instrumento usado. Além disso, há uma diferença entre os estudos na interpretação das recomendações da Academia Americana de Pediatria, que destaca que os jovens devem limitar o tempo de tela a no máximo duas horas por dia.
ConclusãoApesar da alta heterogeneidade, esta análise sistemática com metanálise mostrou alta prevalência de tempo excessivo de tela e de TV entre os adolescentes brasileiros. O presente estudo reforça a necessidade de unificar a medição do tempo de tela com questionários padronizados para monitorar e identificar os grupos de risco de forma precisa. Além disso, são necessários estudos de intervenção projetados para prevenir e reduzir o tempo excessivo de tela.
Conflitos de interesseOs autores declaram não haver conflitos de interesse.
Como citar este artigo: Schaan CW, Cureau FV, Sbaraini M, Sparrenberger K, Kohl III HW, Schaan BD. Prevalence of excessive screen time and TV viewing among Brazilian adolescents: a systematic review and meta‐analysis. J Pediatr (Rio J). 2019;95:157–67.
Este manuscrito foi parte da tese de doutorado do primeiro autor no Programa de Pós‐Graduação em Endocrinologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.