To determine the prevalence of low back pain and to analyze the association with the individual, sociodemographic variables, electronic devices, habitual practice of physical activity, and mental health problems.
MethodsCross‐sectional study with 1,628 students in public schools in the city of Bauru, SP, Brazil. The following data were collected: 1. demographic and socioeconomic aspects; 2. Use of electronic devices; 3. habitual physical activity level (Baecke); 3. mental health (SDQ). 4. low back pain (Nordic Questionnaire). Descriptive analyzes and bivariate and multivariate logistic regression were used.
ResultsThe overall prevalence of low back pain was 46.7% (95% CI: 44.27 to 49.11); men showed a prevalence of 42.0% (95% CI: 36.63 to 43.41) and women 58.0% (95% CI: 49.73 to 56.51), a statistically significant difference. The variables associated with pain in the low back region were: female gender (PR = 1.70), daily TV use for more than 3hours (PR = 1.17), use of laptop computer (PR = 1.40), use of the cell phone in the supine position (PR = 1.23), use of the cell phone in semi‐supine position (PR = 1.49), daily cell phone use for more than 3hours (PR = 1.36), use of tablet (PR = 1.67), daily tablet use for more than above 3hours (PR = 1.46), and clinically important mental health problems (PR = 2.62).
ConclusionThere is a high prevalence of low back pain in high school students and striking association with female sex, electronic devices, and mental health problems.
Determinar a prevalência de lombalgia e analisar a associação com variáveis individuais e sociodemográficas, dispositivos eletrônicos, prática habitual de atividade física e problemas de saúde mental.
MétodosEstudo transversal com 1.628 alunos matriculados em escolas públicas na cidade de Bauru/SP. Para a coleta de dados: 1. aspectos demográficos e socioeconômicos; 2. dispositivos eletrônicos; 3. nível habitual de atividade física (Baecke); 3. saúde mental (SDQ); 4. Lombalgia (Questionário Nórdico). Foram usadas análises descritivas e de regressão logística bivariada e multivariada.
ResultadosA prevalência geral de lombalgia foi 46,7% (IC de 95%: 44,27 a 49,11), os homens mostraram uma prevalência de 42,0% (IC de 95%: 36,63 a 43,41) e as mulheres mostraram uma prevalência de 58,0% (IC de 95%: 49,73 a 56,51), com diferença significativa. As variáveis associadas a dor na região lombar inferior foram: sexo feminino (RP = 1,70), tempo de uso de TV acima de 3 horas por dia (RP = 1,17), uso de notebook (RP = 1,40), uso de celular na posição supina (RP = 1,23), uso de celular na posição semissupina (RP = 1,49), tempo de uso de celular acima de 3 horas por dia (RP = 1,36), uso de tablet (RP = 1,67), tempo de uso de tablet acima de 3 horas por dia (RP = 1,46) e problemas de saúde mental clinicamente importantes (RP = 2,62).
ConclusãoHá alta prevalência de lombalgia em alunos do ensino médio e forte associação ao sexo feminino, dispositivos eletrônicos e problemas de saúde mental.
A lombalgia é a principal causa de incapacidade entre adolescentes e adultos de todas as idades. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), as comorbidades musculoesqueléticas são as doenças mais incapacitantes. Das 209 condições de saúde, a lombalgia contribuiu mais para a incapacidade geral e ocupou a sexta posição no estudo sobre a carga global de doenças (Global Burden of Diseases [GBD]) definida pelos Anos de Vida Ajustados por Incapacidade.1,2
Tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento, foi relatada a prevalência de lombalgia em alunos do ensino médio. Em Xangai (China),3 a prevalência foi 33,1% em algumas cidades do Brasil, 13,7% em Pelotas,4 13,4% em Porto Alegre,5 42,1% em Petrolina6 e 46,9% em Recife.7
A literatura nacional e internacional relaciona a lombalgia inespecífica em adolescentes a fatores sociodemográficos, prática de exercício físico, tabagismo, estado nutricional, doenças associadas à escola (tipo de suporte e forma de transporte do material escolar, peso da mochila e móveis na escola), uso de dispositivos eletrônicos (TV, computador, tablet e celular)8–11 e problemas de saúde mental.5,9 Ao considerar o uso de tablets e celulares, não há dados brasileiros sobre essa relação.
Os estudos sobre a prevalência de lombalgia na população são importantes devido ao estabelecimento das consequências sociais e econômicas geradas, tanto para o Estado quando para as pessoas. Significa, para as pessoas, a perda de qualidade de vida e, para o Estado, as despesas com tratamento e reabilitação. Devido a fatores relacionados ao processo de crescimento, os adolescentes têm maiores chances de desenvolver alterações posturais e dor na coluna lombar, o que interfere diretamente em seu desempenho acadêmico. Além disso, os adolescentes com lombalgia provavelmente desenvolverão dor na idade economicamente ativa, contribuirão para o aumento dos custos indiretos (faltas, queda de produtividade, aposentadoria antecipada e doença),7 que representam aproximadamente 85% dos custos totais.11
Este estudo contribuirá para outras investigações epidemiológicas e será uma colaboração para o conhecimento das estimativas nacionais da prevalência e de seus fatores de risco, para análises sistemáticas e metanálise, pois é escassa a disponibilidade das fontes de dados de pesquisas sobre a associação da lombalgia ao uso de dispositivos eletrônicos (tablets e celulares) em adolescentes brasileiros. Este estudo também poderá auxiliar no entendimento de sua causa global e contribuir para as políticas públicas que visam a controlar esse problema com base em intervenções preventivas e/ou terapêuticas.12
Considerando esses pontos, o objetivo deste estudo foi determinar a prevalência de lombalgia e analisar a associação com variáveis individuais e sociodemográficas, dispositivos eletrônicos, prática habitual de atividade física e problemas de saúde mental.
MétodosModelo do estudoO modelo transversal do estudo, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Sagrado Coração, Bauru/SP (número 1.972.579), contou com a participação de 1.628 alunos do primeiro e segundo anos do ensino médio matriculados em escolas públicas de Bauru/SP.
ParticipantesParticiparam deste estudo adolescentes matriculados no primeiro e segundo anos do ensino médio em escolas públicas da cidade de Bauru/SP. De acordo com os dados fornecidos pela Secretaria de Educação do Estado – Diretoria de Ensino de Bauru, em 2017 havia aproximadamente 9.000 alunos.
As faixas etárias e o sexo foram definidos como áreas de amostragem, para as quais números mínimos na amostra foram garantidos de forma a permitir análises posteriores. As áreas de amostragem foram o 1° e 2° anos do ensino médio para os dois sexos.
Para determinar o tamanho da amostra, foi usada a fórmula de cálculo de amostras para populações finitas, com os seguintes parâmetros: nível de confiança de 95%, prevalência de 50%, complemento percentual desconhecido (100‐p), o tamanho da população (9.000 alunos do ensino médio matriculados em escolas públicas) e erro máximo admissível de 3%. Assim, o tamanho da amostra para o grupo foi de pelo menos 990 indivíduos, mais 20% de perdas esperadas e 15% para estudos de associação, atingiram‐se 1.366 adolescentes.
O cálculo do tamanho da amostra considerou um plano com amostragem por conglomerados em dois estágios, nos quais as Unidades Primárias de Amostragem (UPA) são as escolas e as Unidades Secundárias de Amostragem (USA) são as turmas relacionadas aos três anos de ensino médio das escolas selecionadas. A amostra de crianças em idade escolar foi, assim, formada por todos os alunos das turmas das USA selecionados na amostra de escolas UPA.
As escolas UPA foram estratificadas considerando inicialmente sua localização geográfica de acordo com a divisão da cidade em oito setores. Em cada uma delas, foram contadas as escolas com turmas de 1° e 2° anos do ensino médio, atingiram‐se as quantidades em cada setor. Foi observado que, em três setores consecutivos, entre o oeste e o leste da cidade (sentido anti‐horário), não foram localizadas escolas públicas de ensino médio; portanto, esses três setores foram rejeitados e considerados somente os 5 que concentram as 30 escolas, entre o leste e o oeste da cidade (sentido anti‐horário).
Em cada estrato geográfico, a amostra foi obtida em dois estágios. Primeiro, as escolas foram selecionadas por meio de um método de seleção com probabilidades proporcionais ao tamanho. A medida de tamanho considerada na seleção das escolas foi o número total de alunos nos dois anos do ensino médio em cada escola e o percentual de cada ano com relação ao número total de alunos (9.000): 36,9% e 336%, respectivamente. Esses percentuais foram aplicados à amostra (1.366 alunos), obteve‐se, dessa forma, o número total de alunos a serem entrevistados por setor e por ano do ensino médio, tornou‐se a segunda abordagem. Para atingir o total determinado para cada setor, as escolas foram selecionadas aleatoriamente, bem como as turmas das respectivas escolas.
Os critérios adotados para exclusão de algumas escolas selecionadas aleatoriamente para o estudo foram: idade abaixo de 14 anos e acima de 18; não apresentação do termo de consentimento informado (TCI) assinado pelos pais/responsáveis; e recusa da participação.
InstrumentosOs aspectos sociodemográficos foram: sexo (masculino e feminino), idade, estado civil (casado ou consensual, solteiro, separado e viúvo) e cor da pele (branca, preta, morena/parda, Classe E = até um salário mínimo, Classe D = um a cinco salários mínimos, Classe C = cinco a dez salários mínimos, Classe B = 10 a 20 salários mínimos, Classe A = mais de 20 salários mínimos).
Com relação aos dispositivos eletrônicos (uso de TV, computador, tablets ou celulares), foram feitas as seguintes perguntas: “Em uma semana normal, você assiste à TV” (sim/não); “Quantos dias por semana você assiste à TV?” (um ou dois, três ou quatro vezes, cinco vezes, mais de cinco vezes); “Quantas horas por dia você assiste à TV?” (menos de uma hora, duas horas, três horas, quatro horas, cinco horas, mais de cinco horas por dia); “Você usa seu computador?” (sim/não); “Qual tipo de computador você usa?” (Desktop/Notebook); “Qual a altura da tela do seu computador?” (olhos ficam acima do ponto médio da tela, olhos ficam aproximadamente no ponto médio da tela, olhos ficam abaixo do ponto médio da tela); “Quantos dias por semana você usa computador?” (um ou dois, três ou quatro dias, cinco dias, mais de cinco dias); “Quantas horas por dia você usa computador?” (menos de uma hora, duas horas, três horas, quatro horas, cinco horas, mais de cinco horas por dia); “Qual a distância entre a tela do computador e seus olhos durante o uso?” (< 20cm, 20cm a 25cm, 25cm a 30cm e > 30cm); “Você usa celular?” (sim/não); “Qual a sua postura durante o uso do celular?” (Em pé, sentado/a, deitado/a ou semideitado/a); “Qual a média diária de uso do celular?” (< 1h, 2h e 3h, 3h e 4h e 4h); “Qual a distância entre a tela do celular e seus olhos durante o uso?” (< 10cm, 10cm a 15cm, 15cm a 20cm e > 20cm); “Você usa tablet?” (sim/não); “Qual a sua postura durante o uso do tablet?” (Sentado/a, deitado/a ou semideitado/a); “Qual a média de uso do tablet?” (< 1h, 2h‐3h, 3h‐4h e > 4h); “Qual a distância entre a tela do tablet e seus olhos durante o uso?” (<10cm, 10cm a 15cm, 15cm a 20cm e > 20cm).
O nível habitual de atividade física foi verificado com o Questionário para Avaliação de Atividade Física Habitual de Baecke (BQHPA), validado no Brasil.13
A saúde mental foi avaliada pelo Questionário de Capacidades e Dificuldades (SDQ), validado no Brasil por Fleitlich‐Bilyk. As possibilidades de resultados indicadas pelo instrumento para todas as cinco subescalas e o número total de dificuldades são três: “Normal” (saudável): indica que não há dificuldades com relação ao que é avaliado; “Limítrofe”: indica que a criança ou o adolescente já apresenta certa dificuldade, que, se não tratada adequadamente, pode piorar e comprometer seu desenvolvimento; “Anormal” (clínico): indica que há grandes dificuldades ao que é avaliado, exige intervenção especializada.14,15
A variável “lombalgia” foi observada com o questionário nórdico, validado e adaptado à cultura brasileira.16,17 A lombalgia é caracterizada por dor ou desconforto na região lombar, abaixo da margem costal e acima da prega glútea, que pode ou não irradiar para a coxa. Na entrevista, fizemos a seguinte pergunta aos indivíduos: “Você sentiu alguma dor ou desconforto na região lombar inferior no último ano?” Além do questionário verbal, foi apresentada ainda uma imagem das regiões da coluna vertebral em diferentes cores, para que os entrevistados pudessem especificar melhor a região lombar inferior onde sentiam dor.16–18
Procedimento de coleta de dadosA Secretaria de Educação do Estado autorizou a pesquisa e, após obter o consentimento dos pais/responsáveis, os dados foram coletados de março a junho de 2017 por alunos de graduação e pós‐graduação treinados com base em um protocolo de procedimentos de padronização para coleta de dados (teórico e prático), anteriormente estabelecido com a intenção de minimizar possíveis erros intra e interavaliadores.
No momento da coleta, os participantes do estudo receberam o questionário com as instruções e recomendações para seu preenchimento, sem prazo estabelecido para seu término, e quaisquer dúvidas expressas pelos adolescentes foram respondidas imediatamente pelo profissional que monitorava a coleta de dados. Durante o preenchimento do questionário, os adolescentes não se comunicaram, a fim de minimizar possíveis interferências indesejáveis em suas respostas.
Análise de dadosFoi feita no programa SPSS (Released 2009. Estatística para Windows, Versão 18.0. IL, EUA). Na análise descritiva, foi calculada a prevalência de todas as variáveis incluídas no estudo, com os respectivos intervalos de confiança. Fatores demográficos e socioeconômicos, uso de dispositivos eletrônicos, nível habitual de atividade física e problemas de saúde mental foram considerados variáveis independentes. As variáveis independentes com um nível de significância de p < 0,20 na análise bivariada foram incluídas em um modelo de regressão de Poisson com variância robusta e foram respeitadas as premissas exigidas para que a regressão de Poisson apresente um resultado válido. A medida de efeito é apresentada como uma razão de prevalência (RP) com intervalo de confiança (IC) de 95%. O limite α = 0,05 foi usado para indicar significância estatística.19
ResultadosForam estudados 1.628 alunos, já deduzidos do percentual final de 2,05% de recusas. Com relação às características sociodemográficas da amostra, 51,5% dos homens e 53,7% das mulheres estão no primeiro ano do ensino médio, 87,0% dos homens e 82,5% das mulheres estão na faixa de 15 a 18 anos, 47,4% dos homens e 51,9% das mulheres são brancos e 85,9% dos homens e 97,2% das mulheres são solteiros. No que diz respeito do nível de atividade física, a maior parte dos homens (46,5%) e das mulheres (50,7%) foi classificada como suficientemente ativos e 16,4% dos homens e 35,7% das mulheres foram classificados como insuficientemente ativos. Com relação à variável de saúde mental, 68,7% dos homens e 42,3% das mulheres foram considerados normais, ao passo que 11,3% dos homens e 30,0% das mulheres foram classificados como casos clínicos.
As variáveis relacionadas ao uso de dispositivos eletrônicos por adolescentes do ensino médio são apresentadas na tabela 1.
Distribuição de frequências absolutas e relativas de dispositivos eletrônicos em adolescentes do ensino médio por sexo
Fatores | Sexo | |||
---|---|---|---|---|
Masculino (n = 798) | Feminino (n = 830) | |||
n | % | n | % | |
Assiste à TV | ||||
Não | 123 | 15,4 | 67 | 8,1 |
Sim | 675 | 84,6 | 763 | 91,9 |
Quantos dias por semana você assiste à TV | ||||
Até 2 dias | 168 | 24,7 | 205 | 21,1 |
3 dias ou mais | 507 | 67,2 | 558 | 63,5 |
Número de horas assistindo à TV/dia | ||||
Até 2 horas | 383 | 48,0 | 376 | 45,3 |
Acima de 3 horas | 292 | 36,6 | 387 | 46,6 |
Usa computador | ||||
Não | 105 | 13,2 | 215 | 25,9 |
Sim | 693 | 86,8 | 615 | 74,1 |
Tipo de computador | ||||
Desktop | 344 | 43,1 | 224 | 27,0 |
Notebook | 263 | 33,0 | 339 | 40,8 |
Desktop e Notebook | 86 | 10,8 | 52 | 6,3 |
Altura da tela do computador | ||||
Acima do ponto médio | 153 | 19,2 | 114 | 13,7 |
Na altura do ponto médio | 473 | 59,3 | 435 | 52,4 |
Abaixo do ponto médio | 67 | 8,4 | 66 | 8,0 |
Quantos dias por semana | ||||
Até 2 dias | 184 | 23,1 | 295 | 35,5 |
3 dias ou mais | 509 | 63,8 | 320 | 38,6 |
Quantas horas/dia | ||||
Até 2 horas | 250 | 31,3 | 341 | 41,1 |
3 horas ou mais | 443 | 55,5 | 274 | 33,0 |
Usa celular | ||||
Não | 33 | 4,1 | 9 | 1,1 |
Sim | 765 | 95,9 | 821 | 98,9 |
Qual posição você fica ao usar o celular | ||||
Em pé | 276 | 34,6 | 282 | 34,0 |
Sentado/a | 403 | 50,5 | 441 | 53,1 |
Deitado/a | 436 | 54,6 | 491 | 59,2 |
Semideitado/a | 215 | 26,9 | 344 | 41,4 |
Tempo de uso diário | ||||
Até 2 horas | 220 | 27,6 | 125 | 15,1 |
3 horas ou mais | 545 | 68,3 | 696 | 83,9 |
Usa tablet | ||||
Não | 656 | 82,2 | 649 | 78,2 |
Sim | 142 | 17,8 | 181 | 21,8 |
Qual posição você fica ao usar o tablet | ||||
Em pé | 25 | 3,0 | 47 | 5,6 |
Sentado/a | 83 | 10,4 | 102 | 12,3 |
Deitado/a | 68 | 8,5 | 82 | 9,9 |
Semideitado/a | 26 | 3,3 | 56 | 6,7 |
Tempo de uso diário | ||||
Até 2 horas | 94 | 11,8 | 149 | 18,0 |
3 horas ou mais | 48 | 6,0 | 32 | 3,9 |
Do número total de indivíduos entrevistados, 46,7% (IC de 95% 44,27 a 49,11) relataram dor na região lombar inferior pelo menos em algum momento nos 12 meses anteriores à entrevista, 42,0% (IC de 95% 36,63 a 43,41) eram homens e 58,0% (IC de 95% 49,73 a 56,51) eram mulheres, com diferença estatisticamente significativa.
Na tabela 2, há uma associação estatisticamente significativa entre lombalgia e sexo feminino, etnia negra e problemas de saúde mental.
Análise bivariada da lombalgia com características sociodemográficas, nível de atividade física e problemas de saúde mental em adolescentes do ensino médio
Fatores | Lombalgia | ||
---|---|---|---|
n | % | RP (IC de 95%) | |
Sexo | |||
Masculino | 319 | 42,0 | 1,00 |
Feminino | 441 | 58,0 | 1,33 (1,20 – 1,48)a |
Faixa etária | |||
14 anos | 108 | 14,2 | 1,00 |
15 a 18 anos | 652 | 85,8 | 1,09 (0,94 – 1,27) |
Estado civil | |||
Casado/a | 30 | 3,9 | 1,00 |
Solteiro/a | 730 | 88,6 | 1,10 (0,82 – 1,48) |
Etnia | |||
Branca | 395 | 52,0 | 1,00 |
Preta | 54 | 7,1 | 0,77 (0,62 – 0,97)a |
Morena/Parda | 262 | 34,5 | 0,93 (0,83 – 1,04) |
Amarela | 30 | 3,9 | 1,04 (0,80 – 1,35) |
Indígena | 19 | 2,5 | 1,02 (0,74 – 1,42) |
Nível de atividade física | |||
Muito ativo/a | 196 | 25,8 | 1,00 |
Suficientemente ativo/a | 370 | 48,7 | 0,97 (0,86 – 1,11) |
Insuficientemente ativo/a | 194 | 25,5 | 0,95 (0,82 – 1,10) |
Problemas de saúde mental | |||
Normal | 357 | 47,0 | 1,00 |
Limítrofe | 188 | 24,7 | 1,33 (0,97 – 1,51) |
Clínico | 215 | 28,3 | 1,61 (1,43 – 1,81)a |
IC, intervalo de confiança; RP, razão de prevalência.
Na tabela 3, há uma associação ao uso de notebook, uso de celulares nas posturas em pé, deitada e semideitada, tempo de uso diário do celular por mais de 3 horas e uso de tablet.
Análise bivariada da lombalgia com dispositivos eletrônicos em adolescentes do ensino médio
Fatores | Lombalgia | ||
---|---|---|---|
n | % | RP (IC DE 95%) | |
Assiste à TV | |||
Não | 79 | 10,4 | 1,00 |
Sim | 681 | 89,6 | 1,14 (0,95 – 1,36) |
Quantos dias por semana você assiste à TV | |||
Até 2 dias | 174 | 22,9 | 1,00 |
3 dias ou mais | 507 | 66,7 | 1,02 (0,90 – 1,16) |
Número de horas assistindo à TV/dia | |||
Até 2 horas | 345 | 45,4 | 1,00 |
Acima de 3 horas | 336 | 44,2 | 1,09 (0,98 – 1,21) |
Usa computador/joga videogame | |||
Não | 612 | 80,5 | 1,00 |
Sim | 148 | 19,5 | 0,99 (0,87 – 1,3) |
Tipo de computador | |||
Desktop | 243 | 32,0 | 1,00 |
Notebook | 304 | 40,0 | 1,18 (1,04 – 1,34)a |
Desktop e Notebook | 65 | 8,6 | 0,91 (0,74 – 1,11) |
Altura da tela do computador | |||
Abaixo do ponto médio | 138 | 18,2 | 1,00 |
Na altura do ponto médio | 416 | 54,7 | 0,89 (0,77 – 1,02) |
Abaixo do ponto médio | 58 | 7,6 | 0,84 (0,67 – 1,06) |
Quantos dias por semana | |||
Até 2 dias | 233 | 30,7 | 1,00 |
3 dias ou mais | 379 | 49,9 | 0,94 (0,84 – 1,06) |
Quantas horas/dia | |||
Até 2 horas | 274 | 36,1 | 1,00 |
3 horas ou mais | 338 | 44,5 | 1,02 (0,91 – 1,14) |
Usa celular | |||
Não | 22 | 2,9 | 1,00 |
Sim | 738 | 97,1 | 0,89 (0,66 – 1,19) |
Qual posição você fica ao usar o celular | |||
Em pé | 285 | 37,5 | 1,16 (1,04 – 1,29)a |
Sentado/a | 411 | 54,1 | 1,10 (0,99 – 1,23) |
Deitado/a | 458 | 60,3 | 1,16 (1,04 – 1,30)a |
Semideitado/a | 301 | 39,6 | 1,27 (1,14 – 1,40)a |
Tempo de uso diário | |||
Até 2 horas | 136 | 17,9 | 1,00 |
3 horas ou mais | 602 | 79,2 | 1,23 (1,06 – 1,42)a |
Usa tablet | |||
Não | 576 | 75,8 | 1,00 |
Sim | 184 | 24,2 | 1,29 (1,15 – 1,44)a |
Qual posição você fica ao usar o tablet | |||
Em pé | 44 | 5,8 | 1,12 (0,90 – 1,38) |
Sentado/a | 107 | 14,1 | 1,04 (0,86 – 1,27) |
Deitado/a | 85 | 11,2 | 0,99 (0,82 – 1,20) |
Semideitado/a | 52 | 6,8 | 1,16 (0,95 – 1,41) |
Tempo de uso diário | |||
Até 2 horas | 136 | 17,9 | 1,00 |
3 horas ou mais | 48 | 6,3 | 1,07 (0,87 – 1,32) |
IC, intervalo de confiança; RP, razão de prevalência.
As variáveis que permaneceram significativamente associadas a dor na região lombar inferior foram: sexo feminino, tempo de uso de TV acima de 3 horas por dia, uso de notebook, uso de celular na posição deitada, uso de celular na posição semideitada, tempo de uso de celular acima de 3 horas por dia, uso de tablet, tempo de uso de tablet acima de 3 horas por dia e problemas de saúde mental (tabela 4).
Regressão logística multivariada para associações de variáveis com lombalgia em adolescentes do ensino médio
Fatores | Lombalgia | |
---|---|---|
Valor de p | RP ajustada (IC de 95%) | |
Sexo | ||
Masculino | < 0,001 | 1,00 |
Feminino | 1,70 (1,39–2,07) | |
Número de horas assistindo à TV/dia | ||
Até 2 horas | 0,032 | 1,00 |
Acima de 3 horas | 1,17 (1,01–1,36) | |
Tipo de computador | ||
Desktop | 1,00 | |
Notebook | 0,005 | 1,40 (1,10–1,77) |
Desktop e Notebook | 0,499 | 1,18 (0,72–1,94) |
Qual posição você fica ao usar o celular | ||
Deitado/a | ||
Não | 0,042 | 1,00 |
Sim | 1,23 (1,00–1,52) | |
Deitado/a | ||
Não | < 0,001 | 1,00 |
Sim | 1,49 (1,20–1,83) | |
Tempo de uso diário do celular | ||
Até 2 horas | 0,003 | |
3 horas ou mais | 1,36 (1,11–1,68) | |
Usa tablet | ||
Não | < 0,001 | 1,00 |
Sim | 1,67 (1,31–2,14) | |
Tempo de uso diário do tablet | ||
Até 2 horas | < 0,001 | 1,00 |
3 horas ou mais | 1,46 (1,21–1,76) | |
Problemas de saúde mental | ||
Normal | < 0,001 | 1,00 |
Limítrofe | 1,67 (0,98–2,13) | |
Clínico | 2,62 (2,03–3,38) |
IC, intervalo de confiança; RP, razão de prevalência.
Neste estudo, a prevalência de lombalgia foi 46,7%. A prevalência em outros países foi relatada como segue: Xangai, China (33,1%),3 ao passo que, em algumas localidades brasileiras, foi encontrada prevalência de 13,7% em Pelotas,4 13,4% em Porto Alegre,5 42,1% em Petrolina,6 46,9% em Recife,7 32,9% em Piauí,20 e 27,7% em São Leopoldo (RS).21 As variações na prevalência podem resultar de diferenças socioculturais, demográficas, econômicas e ocupacionais nos locais investigados.
O resultado permaneceu associado ao sexo feminino, tempo de uso diário de TV acima de 3 horas, uso de notebook, uso de celular na posição deitada, uso de celular na posição semideitada, tempo de uso de celular acima de 3 horas por dia, uso de tablet, tempo de uso de tablet acima de 3 horas e problemas de saúde mental.
As mulheres apresentaram associação de propensão de aproximadamente 1,70 vez de desenvolver dor em comparação aos homens, semelhantemente a outros estudos que envolveram adolescentes.3,7,20,22 O sexo feminino apresenta diferenças estruturais e psicossociais em relação aos homens, como diferenças musculoesqueléticas, que predispõem as mulheres à sobrecarga na coluna vertebral nos longos períodos em que as adolescentes estão sentadas na escola, alterações hormonais resultantes da puberdade, menores níveis de atividade física e relatos de dores com maior frequência.20,23 Este estudo investigou se a lombalgia estava relacionada ao período menstrual, o que exclui o risco de uma prevalência superestimada nas mulheres e o confirma como um fator associado.
O uso de televisão, celular e tablet por mais de 3 horas por dia foi associado ao resultado, corroborou outras investigações.23–26 O uso de tecnologias de informação e comunicação é um fator de risco potencial para o desenvolvimento de dor na coluna. Acredita‐se que a explicação tem como base uma postura estática inadequada ao usar esses dispositivos, em associação a um tempo prolongado, que gera sobrecarga musculoesquelética, redução de fluxo sanguíneo e espasmos musculares, ativa, assim, os receptores de dor. Além disso, o excesso de tempo diariamente na postura estática gera um tempo de recuperação insuficiente após a fatiga muscular local, essencial na gênese da dor muscular no trabalho estático.10
O uso de computadores portáteis e tablets foi associado ao resultado, corroborou um estudo feito na China.3 Os desktops podem ser posicionados de forma mais confortável, por exemplo, a altura da tela, do teclado, da cadeira e da mesa, adaptam‐se para a postura mais adequada, ao passo que o notebook e o tablet não têm esses ajustes. Outro ponto importante é o maior tempo de exposição a posturas inadequadas, pois notebooks e tablets podem ser usados em qualquer local.3,26
As posturas deitada e semideitada ao usar o celular foram fatores associados à lombalgia, a primeira postura descrita corrobora o estudo feito na China,3 ao passo que, em relação à segunda, não há estudos que analisam sua associação à lombalgia. A manutenção das posturas fixas por tempo prolongado reduz a ação de bombeamento do disco intervertebral e a nutrição dessa estrutura. Devido às condições mecânicas precárias geradas por essas posturas, o fluido do disco diminui e degenera gradualmente, causa movimentos anormais entre os corpos vertebrais, predispõe a degeneração e dor. Além disso, essas posturas inadequadas geram tensão mecânica nos músculos, ligamentos e articulações.27,28
A categoria de casos clínicos relacionada a problemas de saúde mental foi associada à lombalgia em adolescentes, corroborou estudos anteriores feitos no sul do Brasil, no Irã e na Nova Zelândia.29,30 O surgimento de sintomas emocionais é comum entre os adolescentes. Eles podem ser desencadeados pelo momento vivido, por pressões no ambiente escolar, dificuldades econômicas e problemas de relacionamento. Parece haver uma relação entre sintomas emocionais e manifestações físicas, como aumento da secreção do hormônio cortisol e alterações na regulação hormonal das glândulas suprarrenais, o que gera efeitos inibitórios sobre a resposta imune, digestão e sintomas de desgaste excessivo do corpo, cansaço, fadiga, dores musculares e distúrbios articulares e capacidade física reduzida.30
Este estudo apresentou várias limitações metodológicas: primeira, alguns fatores de confusão não foram controlados, como os tipos de tablet usados, lesões anteriores e exposição a outras tecnologias. Segunda, não foram coletados dados sobre como o resultado afetou e/ou limitou as atividades habituais dos adolescentes ou causou mudanças em sua rotina diária e sua relação com fatores psicossociais. Terceira, os dados tiveram como base uma resposta autorreferida, o que aumenta o risco de viés de memória. Os pontos fortes deste estudo são a consistência dos resultados com a literatura, o uso de questionários validados para o resultado estudado e o número de indivíduos entrevistados.
Lombalgia é uma condição comum que causa incapacidade substancial. Considerando que os dados disponíveis de pesquisas nacionais sobre o resultado são escassos no Brasil, este estudo contribuirá como uma referência para outras investigações epidemiológicas e cooperará com a avaliação nacional de prevalência e fatores de risco, análises sistemáticas e metanálises.
Conclusão: a lombalgia teve alta prevalência e forte associação ao sexo feminino, tempo de uso de TV acima de 3 horas por dia, uso de notebook, uso de celular na posição deitada, uso de celular na posição semideitada, tempo de uso de celular acima de 3 horas por dia, uso de tablets, tempo de uso de tablet acima de 3 horas por dia e problemas de saúde mental.
FinanciamentoFundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Conflitos de interessesOs autores declaram não haver conflitos de interesses.
Como citar este artigo: Bento TP, Cornelio GP, Perrucini PO, Simeão SF, Conti MH, de Vitta A. Low back pain in adolescents and association with sociodemographic factors, electronic devices, physical activity and mental health. J Pediatr (Rio J). 2020;96:717–24.