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Vol. 93. Núm. 2.
Páginas 192-199 (março - abril 2017)
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Páginas 192-199 (março - abril 2017)
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Association between the number of sexual partners and alcohol consumption among schoolchildren
Associação entre número de parceiros sexuais e consumo de bebida alcoólica em escolares
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Rachel Molaa,b,
Autor para correspondência
rachelmola@yahoo.com.br

Autor para correspondência.
, Rodrigo C. Araújob,c, Jéssica Vanessa B. Oliveirab,c, Samara B. Cunhab,c, Gabriely F.F. Souzac, Luanda P. Ribeiroc, Ana Carolina R. Pitanguib,c
a Universidade de Pernambuco (UPE), Departamento de Enfermagem, Petrolina, PE, Brasil
b Universidade de Pernambuco (UPE), Programa de Mestrado em Hebiatria, Petrolina, PE, Brasil
c Universidade de Pernambuco (UPE), Departamento de Fisioterapia, Petrolina, PE, Brasil
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Tabelas (4)
Tabela 1. Distribuição do comportamento sexual dos adolescentes e jovens que relataram vida sexual ativa. Petrolina (PE), 2014
Tabela 2. Distribuição do consumo de bebida alcoólica entre os adolescentes e jovens. Petrolina (PE), 2014
Tabela 3. Associação entre o número de parceiros sexuais na vida com as variáveis independentes estudadas nos adolescentes e jovens. Petrolina (PE), 2014
Tabela 4. Regressão multinomial entre o número de parceiros sexuais na vida e as variáveis independentes estudadas ajustadas pelo sexo dos adolescentes e jovens. Petrolina (PE), 2014
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Abstract
Objective

To determine the association between the number of sexual partners and alcohol consumption in adolescents and young schoolchildren.

Methods

The sample consisted of students from public schools aged 12–24 years who answered the Brazilian version of the Youth Risk Behavior Survey questionnaire. The analysis was performed by multinomial logistic regression model.

Results

1275 students were analyzed. For females, having two to five partners was associated with age ≥15 years (OR 14.58) and maternal education up to incomplete high school or lower educational level (OR 3.37). No consumption of alcohol decreased the chances of having more partners by 96%. For males, the associated variables were: age ≥15 years (OR 18.15); having no religion (OR 3.55); age at first dose ≤14 years (OR 3.48). Binge drinking increases the chances of having a higher number of sexual partners.

Conclusion

Regardless of the number of partners, binge drinking and age of alcohol consumption onset are risk factors for vulnerable sexual behavior.

Keywords:
Adolescent
Binge drinking
Sexual behavior
Resumo
Objetivo

Determinar a associação entre número de parceiros sexuais e consumo de bebida alcoólica em adolescentes e jovens escolares.

Métodos

A amostra foi composta por estudantes da rede estadual entre 12 e 24 anos, que responderam a versão brasileira do questionário Youth Risk Behavior Survey. A análise foi feita por modelo de regressão logística multinomial.

Resultados

Foram analisados 1.275 estudantes. Para o sexo feminino ter entre dois a cinco parceiros esteve associado com idade ≥ 15 anos (OR 14,58) e escolaridade materna com ensino médio incompleto ou inferior (OR 3,37). Não fazer uso de bebida alcoólica diminuiu em 96% as chances de ter maior número de parceiros. Para o sexo masculino as variáveis associadas foram: idade ≥ 15 anos (OR 18,15); ausência de religião (OR 3,55); idade da primeira dose ≤ 14 anos (OR 3,48). O envolvimento em bebedeira demonstrou mais chances de ter maior número de parceiros sexuais.

Conclusão

Independentemente do número de parceiros, a bebedeira e a idade de iniciação alcoólica são fatores de risco para comportamento sexual vulnerável.

Palavras‐chave:
Adolescente
Bebedeira
Comportamento sexual
Texto Completo
Introdução

O comportamento sexual de risco é consequência do sexo desprotegido1 e do maior número de parceiros sexuais e contribui para maiores riscos de adquirir doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e ocorrência de gravidez indesejada.2,3

A primeira relação sexual do adolescente não é planejada, é referida como um “simples acontecido’.4,5 A precocidade na iniciação sexual é uma situação preocupante, uma vez que pode vir acompanhada de fatores de exposição às DSTs decorrentes da maior variabilidade de parceiros e do não uso de preservativo.6

O comportamento sexual de risco não ocorre de maneira isolada, apresenta associação com o consumo de bebida alcoólica, que atua como um indicador de risco sexual.7 A bebida influenciaria negativamente o comportamento do adolescente e ocasiona diminuição da percepção e do controle na experiência sexual.8

No Brasil, estudos9,10 constatam que o consumo regular de álcool é mais elevado entre escolares que já tiveram relação sexual, em decorrência dos efeitos de desinibição provocados pelo seu uso.10 Além disso, o uso de bebidas alcoólicas no mês e antes da última relação sexual aumenta as chances de ter múltiplos parceiros sexuais.11 Nesse sentido, esses dados demonstram que o consumo de álcool é um problema de grande magnitude entre esse grupo populacional. Contudo, as pesquisas que abordam esse contexto são feitas em sua maioria em metrópoles.12–14 Esse tema é pouco estudado na população do interior.

Desse modo, informações que abrangem outras regiões podem contribuir para a identificação de grupos e padrões de risco e viabilizam assim, o monitoramento dos níveis de saúde de adolescentes com vistas à criação de programas e políticas de promoção à saúde direcionadas.

Com base nas inúmeras repercussões negativas que esses comportamentos podem ocasionar na vida dos adolescentes e diante da carência de resultados sobre a temática, principalmente na região estudada, justifica‐se a presente pesquisa, que teve como objetivo determinar a associação entre o número de parceiros sexuais e o consumo de bebida alcoólica em adolescentes escolares.

Método

Estudo epidemiológico, transversal, descritivo, analítico e de base escolar que ocorreu nas instituições de ensino fundamental e médio da rede pública (estadual), em Petrolina (PE), de março a julho de 2014.

Participaram do estudo os adolescentes que atenderam aos seguintes critérios: ser caracterizado adolescente ou jovem (de acordo com a definição da OMS) de ambos os sexos; saber ler e escrever na língua portuguesa e estar devidamente matriculado em instituições localizadas na zona urbana de Petrolina. Foram excluídos os indivíduos que apresentaram, por meio de diagnóstico médico, patologias neurológicas ou alteração no estado físico que impossibilitassem o preenchimento do instrumento, que não informaram o sexo ou idade e que não preencheram corretamente as questões.

Para quantificação da amostra mínima usou‐se o programa WinPepi (Calculator Programs for the Health Sciences, Oxford University, EUA), consideraram‐se população de 25.635 estudantes; intervalo de confiança de 95%; erro máximo tolerável de 4 pontos percentuais; perda amostral de 20%; e por se tratar de diferentes comportamentos de risco, a prevalência usada foi de 50%, total de 474 adolescentes. Considerou‐se efeito do delineamento de amostragem de 2.0, total de 948 adolescentes, no entanto foram avaliados 1.275.

Todas as 29 escolas urbanas da rede pública estadual foram consideradas elegíveis. Dessas, nove foram selecionadas e representaram 31,03% das escolas. A distribuição das escolas foi feita pelo porte, foram classificadas em pequeno (menos de 200 alunos); médio (200 a 499 alunos); e grande (500 alunos ou mais).15

Os escolares e pelo menos um dos pais ou o representante legal (caso o indivíduo fosse menor) que aceitou participar da pesquisa assinou, respectivamente, o Termo de Assentimento e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Bebedeira foi definida como ingestão de cinco ou mais doses de bebida alcoólica em uma mesma ocasião8,16–18 e o tipo de usuário de bebida alcoólica foi classificado da seguinte forma: não usuário – não ter ingerido bebida alcoólica na vida; novo usuário/experimentação – ter bebido um a 19 dias na vida; usuário moderado – 20 a 99 dias; e usuário pesado – 100 ou mais dias de ingestão de bebida alcoólica na vida.3,17,19

Foi usado um questionário estruturado autoaplicável composto pelo inquérito socioeconômico e pelo questionário de comportamentos de risco Youth Risk Behavior Survey (YRBS), que é um instrumento confiável,20 com validação da versão brasileira.21 As opções de resposta apresentadas nas questões foram na forma de múltipla escolha, de acordo com o exemplo: “Durante sua vida, com quantas pessoas diferentes você já teve alguma relação sexual?” As respostas eram: a) Eu nunca tive relação sexual, b) 1, c) 2, d) 3, e) 4, f) 5, g) 6 ou mais.

Para análise usaram‐se os domínios sobre consumo de bebida alcoólica e comportamento sexual, compostos pelas questões 38 a 43 e 57 a 64, respectivamente. Os valores do Índice de Concordância de Kappa variaram de moderado a substancial, com valores entre 49,4 e 66,7 para o consumo de bebida alcoólica, e excelente, com valores de 81 a 95,6 para comportamento sexual.21

Fez‐se estudo piloto para determinar possíveis limitações. Nessa etapa foi mensurado o tempo de aplicação do instrumento e treinamento dos pesquisadores. A coleta ocorreu em uma escola da rede pública estadual com 80 adolescentes. Participaram 10 pesquisadores treinados.

Os estudantes foram organizados na sala de aula e receberam o questionário. Foram orientados a entregar o instrumento preenchido ao pesquisador. Levou em média 40 minutos para ser respondido. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Pernambuco (UPE) e obedeceu a todos os preceitos da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Os dados foram digitados por dupla entrada no Microsoft Excel (Microsoft®, EUA) e analisados no Statistical Package for the Social Sciences (IBM Corp. Released 2011. IBM SPSS Statistics para Windows, versão 20.0, EUA). Diante de uma distribuição simétrica foi usada medida de tendência central e dispersão para apresentação das variáveis contínuas ou medida de tendência central adicionada às separatrizes para distribuição não paramétrica. Dados categóricos foram apresentados em frequências absolutas e relativas e possíveis associações foram calculadas por meio de modelos de regressão logística bivariada para testar a associação isolada entre as variáveis dependentes e cada variável independente, além de analisar as variáveis que entraram no modelo, explorar os possíveis fatores de confusão e identificar a necessidade de ajustamento estatístico das análises.

Recorreu‐se à análise de regressão logística multinomial para a variável dependente número de parceiros sexuais. Foram demonstradas no modelo final ajustado pelo sexo as variáveis que persistiram associadas com o desfecho. Para expressar o grau de associação entre as variáveis foram usados a estimativa da razão de chances (odds ratio) e intervalos de confiança de 95%. Para os modelos finais múltiplos foram selecionadas as variáveis cuja significância do valor de p foi menor que 0,20. Foi considerado valor de p < 0,05.

Resultados

Dos 1.326 estudantes, 51 foram excluídos devido à falta do preenchimento de informações. Foram, portanto, 1.275 incluídos. Com relação ao comportamento sexual, 461 (37%) relataram já ter tido relação sexual. A tabela 1 mostra a distribuição do comportamento sexual dos escolares que referiam ter vida sexual ativa. A maioria dos estudantes teve iniciação sexual entre 14 a 16 anos, apresentou entre dois a cinco parceiros na vida, referiu ter tido relacionamento com um parceiro nos últimos três meses e não ter feito ingestão de bebida alcoólica na última relação sexual.

Tabela 1.

Distribuição do comportamento sexual dos adolescentes e jovens que relataram vida sexual ativa. Petrolina (PE), 2014

Variáveis  Feminino
n (%) IC95% 
Masculino
n (%) IC95% 
Total
n (%) IC95% 
Idade de iniciação sexual
≤ 13  45 (21,7) 16,3‐27,9  133 (50,6) 44,3‐56,7  178 (37,9) 33,4‐42,4 
14‐16  142 (68,6) 61,8‐74,8  120 (45,6) 39,5‐51,8  262 (55,7) 51,1‐60,2 
≥ 17  20 (9,7) 6,0‐14,5  10 (3,8) 1,8‐6,8  30 (6,4) 4,3‐8,9 
N° de parceiros sexuais na vida
120 (58,8) 51,7‐65,6  54 (20,4) 15,6‐25,7  174 (37,1) 32,7‐41,6 
2‐5  73 (35,8) 29,2‐42,7  131 (49,4) 43,2‐55,6  204 (43,5) 38,9‐48,1 
≥ 6  11 (5,4) 2,7‐9,4  80 (30,2) 24,7‐36,1  91 (19,4) 15,9‐23,2 
N° de parceiros sexuais nos últimos três meses
141 (85,5) 79,1‐90,4  89 (51,7) 44,0‐59,4  230 (68,2) 62,9‐73,1 
2‐5  21 (12,7) 8,0‐18,7  68 (39,5) 32,1‐47,2  89 (26,4) 21,7‐1,4 
≥ 6  3 (1,8) 0,3‐5,2  15 (8,7) 4,9‐13,9  18 (5,3) 3,2‐,3 
Ingestão de bebida alcoólica na última relação sexual
Sim  22 (10,2) 6,5‐15,0  37 (14,2) 10,2‐19,0  59 (12,4) 9,5‐15,7 
Não  193 (89,8) 84,9‐93,4  223 (85,8) 80,9‐89,7  416 (87,6) 84,2‐90,4 

Nota: O número total pode diferir devido aos valores perdidos.

IC95%, intervalo de confiança de 95%.

Quanto ao perfil dos adolescentes em relação ao consumo de bebida alcoólica, na tabela 2 pode‐se visualizar a distribuição das variáveis. Constata‐se que a maioria dos estudantes iniciou o uso com 12 anos ou menos, eram novos usuários e não haviam bebido ou tido envolvimento com bebedeira nos últimos 30 dias.

Tabela 2.

Distribuição do consumo de bebida alcoólica entre os adolescentes e jovens. Petrolina (PE), 2014

Variáveis  Feminino
n (%) IC95% 
Masculino
n (%) IC95% 
Total
n (%) IC95% 
Idade da primeira dose
≤ 12  147 (36,1) 31,4‐41,0  136 (44,0) 38,4‐49,7  283 (39,5) 35,92‐43,21 
13‐14  134 (32,9) 28,3‐37,7  83 (26,9) 22,0‐32,1  217 (30,3) 26,96‐33,82 
≥ 15  126 (31,0) 26,5‐35,7  90 (29,1) 24,1‐34,5  216 (30,2) 26,82‐33,68 
Dias que bebeu na vida
Não usuário  333 (46,9) 43,1‐50,6  267 (47,9) 43,7‐52,1  600 (47,4) 44,58‐50,15 
Novo usuário/Experimentação  260 (36,6) 33,0‐40,2  190 (34,1) 30,1‐38,2  450 (35,5) 32,88‐38,22 
Usuário moderado  83 (11,7) 9,4‐14,2  59 (10,6) 8,1‐13,4  142 (11,2) 9,52‐13,07 
Usuário pesado  34 (4,8) 3,3‐6,6  41 (7,4) 5,3‐9,8  75 (5,9) 4,68‐7,36 
Doses que bebeu nos últimos 30 dias
514 (72,3) 68,7‐75,4  404 (72,8) 68,8‐76,4  918 (72,5) 69,96‐74,96 
1‐9  182 (25,5) 22,3‐28,9  133 (24,0) 20,4‐27,7  314 (24,8) 22,44‐27,28 
10‐29  16 (2,3) 1,2‐3,6  14 (2,5) 1,39‐4,2  30 (2,4) 1,60‐3,37 
≥ 30  --‐  4 (0,7) 0,2‐1,8  4 (0,3) 0,09‐0,81 
Dias de bebedeira nos últimos 30 dias
582 (81,9) 78,8‐84,6  442 (79,5) 75,9‐82,7  1.024 (80,8) 78,54‐82,95 
1‐5  116 (16,3) 13,6‐19,2  100 (18,0) 14,8‐21,4  216 (17,0) 15,02‐19,23 
6‐19  8 (1,1) 0,4‐2,2  8 (1,4) 0,6‐2,8  16 (1,3) 0,72‐2,04 
≥ 20  5 (0,7) 0,2‐1,6  6 (1,1) 0,4‐2,3  11 (0,9) 0,43‐1,55 

Nota: O número total pode diferir devido aos valores perdidos.

IC95%, intervalo de confiança de 95%.

A tabela 3 demonstra a associação entre o número de parceiros sexuais na vida com as variáveis independentes. As variáveis aptas a permanecerem no modelo de regressão foram idade, sexo, religião, bebedeira nos últimos 30 dias, renda familiar, escolaridade da mãe, uso de bebida alcoólica nos últimos 30 dias e idade da primeira dose.

Tabela 3.

Associação entre o número de parceiros sexuais na vida com as variáveis independentes estudadas nos adolescentes e jovens. Petrolina (PE), 2014

Variáveis independentes  Número de parceiros sexuais
  Nenhum  2‐5  ≥ 6  Total  Valor de p 
  n (%)  n (%)  n (%)  n (%)  n (%)   
Idade
≤ 14  433 (84,6)  35 (6,8)  31 (6,1)  13 (2,5)  512 (100)  0,000a 
≥ 15  364 (48,4)  139 (18,5)  171 (22,7)  78 (10,4)  752 (100)   
Sexo
Feminino  506 (71,3)  120 (16,9)  73 (10,3)  11 (1,5)  710 (100)  0,000a 
Masculino  292 (52,4)  54 (9,7)  131 (23,5)  80 (14,4)  557 (100)   
Religião
Sim  676 (65,8)  136 (13,2)  152 (14,8)  63 (6,1)  1.027 (100)  0,000a 
Não  112 (51,6)  33 (15,2)  46 (21,2)  26 (12,0)  217 (100)   
Envolvimento em bebedeira nos últimos 30 dias
Sim  67 (27,7)  46 (19,0)  86 (35,5)  43 (17,8)  242 (100)  0,000a 
Não  728 (71,4)  128 (12,5)  116 (11,4)  48 (4,7)  1.020 (100)   
Renda familiar em SM
1 a 3 SM  381 (61,1)  92 (14,7)  103 (16,5)  48 (7,7)  624 (100)  0,132b 
> 3 SM  73 (57,5)  16 (12,6)  21 (16,5)  17 (13,4)  127 (100)   
Escolaridade da mãe
Médio incompleto ou inferior  304 (57,9)  86 (16,4)  97 (18,5)  38 (7,2)  525 (100)  0,103b 
Médio completo ou superior  302 (65,9)  52 (11,4)  68 (14,8)  36 (7,9)  458 (100)   
Escolaridade do pai
Médio incompleto ou inferior  337 (58,8)  92 (16,1)  104 (18,2)  40 (7,0)  573 (100)  0,534 
Médio completo ou superior  193 (63,9)  35 (11,6)  49 (16,2)  25 (8,3)  302 (100)   
Uso de bebida alcoólica nos últimos 30 dias
Não  670 (73,3)  111 (12,1)  96 (10,5)  37 (4,0)  914 (100)  0,000a 
Sim  124 (35,7)  63 (18,2)  106 (30,5)  54 (15,6)  347 (100)   
Idade da primeira dose
≤ 14  255 (51,1)  77 (15,4)  114 (22,8)  53 (10,6)  499 (100)  0,029a 
≥ 15  83 (38,8)  47 (22,0)  59 (27,6)  25 (11,7)  214 (100)   
Uso de bebida alcoólica na vida
0 – 9 dias  736 (70,4)  133 (12,7)  133 (12,7)  44 (4,2)  1.046 (100)   
10 – 99 dias  40 (28,4)  26 (18,4)  53 (37,6)  22 (15,6)  141 (100)  0,000a 
≥ 100 dias  18 (24,0)  15 (20,0)  18 (24,0)  24 (32,0)  75 (100)   

Teste qui‐quadrado.

Nota: O número total pode diferir devido aos valores perdidos.

SM, salários mínimos.

a

p < 0,05.

b

p < 0,20.

A tabela 4 demonstra os dados referentes à regressão multinomial, podem ser visualizadas as variáveis que permaneceram relacionadas ao número de parceiros sexuais na vida após o ajuste pelo sexo. Para as meninas as variáveis que apresentaram maiores chances de parceiros foram ter 15 anos ou mais e baixa escolaridade da mãe. O não uso ou menor quantidade de dias de ingestão de bebida alcoólica apresentou menores chances de ter seis ou mais parceiros. Para os meninos, as chances de ter maior número de parceiros foram ter 15 anos ou mais, não ter religião, ter envolvimento em bebedeira nos últimos 30 dias e ter ingerido a primeira dose de bebida alcoólica antes de 14 anos.

Tabela 4.

Regressão multinomial entre o número de parceiros sexuais na vida e as variáveis independentes estudadas ajustadas pelo sexo dos adolescentes e jovens. Petrolina (PE), 2014

Variáveis independentes  Número de parceiros sexuais
  Sexo femininoSexo masculino
  2‐5  ≥ 6  2‐5  ≥ 6 
  OR
IC 95% 
OR
IC 95% 
OR
IC 95% 
OR
IC 95% 
OR
IC 95% 
OR
IC 95% 
Idade em anos
≥ 15  3,55
1,3‐9,5 
14,58
3‐70,6 
4,06
0,3‐51,0 
4,73
0,6‐32,2 
18,15
4,8‐67,2 
9,05
2,3‐34,8 
≤ 14 
Ter religião
Não  1,41
0,5‐3,5 
0,64
0,2‐2 
0,61
0‐6,2 
2,11
0,3‐13,5 
3,55
1,1‐11,4 
2,79
0,8‐8,9 
Sim 
Envolvimento em bebedeira nos últimos 30 dias
Sim  1,10
0,4‐2,8 
2,74
0,9‐8,3 
5,74
0,4‐76,7 
22,11
2,4‐198,7 
7,42
1,7‐30,6 
4,69
1,1‐17,9 
Não 
Renda familiar em SM
1 a 3 SM  2,34
0,7‐6,9 
2,52
0,7‐9,1 
2,01
0,2‐15,8 
0,22
0,0‐1,2 
0,38
0,1‐1,3 
0,52
0,1‐1,8 
> 3 SM 
Escolaridade da mãe
Médio incompleto ou inferior  1,81
0,8‐3,7 
3,37
1,4‐7,8 
0,85
0,1‐4,5 
1,29
0,2‐5,6 
1,19
0,4‐2,9 
1,12
0,4‐2,7 
Médio completo ou superior 
Uso de bebida alcoólica nos últimos 30 dias
Não  0,54
0,2‐1,2 
0,72
0,2‐2 
2,22
0,1‐27,1 
1,83
0,2‐15,3 
1,61
0,4‐5,2 
0,97
0,3‐3 
Sim 
Idade da primeira dose
≤ 14  0,51
0,2‐1,1 
0,72
0,3‐1,7 
0,28
0,0‐1,9 
1,51
0,2‐8,4 
3,48
1,1‐10,3 
1,07
0,3‐3 
≥ 15 
Uso de bebida alcoólica na vida
0‐9 dias  0,31
0,7‐1,2 
0,71
0,1‐3,8 
0,04
0,0‐0,5 
3,05
0,3‐27,9 
2,98
0,6‐13,7 
0,65
0,1‐2,7 
10‐99 dias  0,84
0,2‐3,5 
2,83
0,5‐15,4 
0,38
0,0‐3,3 
6,95
0,6‐76,5 
4,84
0,8‐28,7 
2,65
0,5‐13,9 
≥ 100 dias 

IC95%, intervalo de 95% confiança; OR, odds ratio; SM, salários mínimos.

Nota: O número total pode diferir devido aos valores perdidos.

Variável de referência: Nenhum parceiro sexual.

Variáveis com p < 0,20 mantidas no modelo de regressão.

Discussão

A maioria da amostra referiu não ter vida sexual, esse comportamento foi maior na faixa etária mais nova. Diversos estudos vão ao encontro dos dados encontrados, demonstram parcela similar de adolescentes que não apresentam relação sexual.1,8,18,22

Dentre os escolares que relataram ter vida sexual, maior percentual referiu ter um parceiro nos últimos três meses; no entanto, quando perguntados sobre o número de parceiro na vida, houve um aumento para dois a cinco parceiros. Apesar de já serem esperados maiores percentuais em relação aos parceiros ao longo da vida, deve‐se salientar que a maioria apresentava faixa etária nova e com pouco tempo de vida sexual ativa, fato que faz com que esses resultados sejam vistos com certa preocupação. Contudo, com o aumento da idade, esse número tende a diminuir para ambos os sexos,3 é um dos prováveis motivos que fazem os adolescentes se sentirem mais seguros e se envolverem em relacionamentos mais estáveis.23

Elevada parcela relatou não ter consumido álcool na última relação sexual. Tais dados se mostram divergentes de outras pesquisas, que revelam o consumo de grandes quantidades de bebida alcoólica antes da última relação.3,8 Diante de tal constatação, acredita‐se que os achados da presente pesquisa possam ser elucidados em decorrência de a amostra ser oriunda de uma região do interior, em que o nível de exposição e influências relacionadas ao consumo de bebida alcoólica para esse grupo pode apresentar perfil diferente das grandes metrópoles, que são localidades onde a maioria das pesquisas é desenvolvida.

Dos estudantes que mencionaram já ter iniciado o consumo de bebida alcoólica, constatou‐se distribuição uniforme entre as faixas etárias. No entanto, a prevalência da primeira dose foi maior entre 12 anos ou menos, mesmo com essa prática amparada por lei que proíbe o uso de bebidas alcoólicas nessa faixa etária.16,24

Dessa maneira, tais dados devem ser vistos com preocupação, pois a iniciação do uso do álcool de forma precoce está associada à maior chance de episódios de bebedeira tanto na adolescência como na vida adulta, bem como maior probabilidade de danos potenciais ao organismo.25 Estudos prévios demonstram a associação entre iniciação precoce de uso de bebida alcoólica com comportamento sexual de risco.26

O padrão de consumo mais frequente nos últimos 30 dias foi de uma a nove doses, ou seja, a maioria da amostra era novo usuário ou usuário experimental. Enquanto que em relação ao envolvimento em bebedeira nesse mesmo período, constatou‐se frequência de um a cinco episódios. A bebedeira é um comportamento relatado por diversos estudos que evidenciam que dentre os adolescentes usuários de bebida alcoólica aproximadamente metade apresenta pelo menos um episódio nas últimas duas semanas.8,18

Na associação entre o número de parceiros sexuais, contatou‐se que as variáveis aptas a entrarem no modelo de regressão foram: idade, sexo, religião, renda familiar, escolaridade da mãe, uso de bebida alcoólica, envolvimento em bebedeira nos últimos 30 dias, idade da primeira dose e uso de bebida alcoólica na vida. No entanto, após a regressão multinomial ajustada pelo sexo, as variáveis que permaneceram foram: idade, religião, escolaridade da mãe, envolvimento em bebedeira nos últimos 30 dias, idade da primeira dose e uso de bebida alcoólica na vida.

Para o sexo feminino, observou‐se que indivíduos com idade maior ou igual a 15 anos apresentam três vezes mais chances de ter um parceiro sexual e 14 vezes mais chances de ter dois a cinco parceiros. Já para o sexo masculino nessa mesma faixa etária, as chances de ter dois a cinco parceiros foi 18,15 vezes maior e de ter seis ou mais foi 9,05 vezes maior. Pode‐se inferir que apesar de os adolescentes com maior faixa etária de ambos os sexos apresentarem maior exposição ao comportamento sexual de risco, o sexo masculino está mais suscetível a esse comportamento, o que converge com dados da literatura.22

Com relação à religião, os meninos que mencionaram não ter qualquer tipo apresentaram 3,55 mais chances de ter dois a cinco parceiros sexuais. Dessa forma, esse estudo sugere que a presença da crença religiosa representa uma influência sobre o comportamento sexual dos adolescentes. A disseminação de normas sobre o que seria considerado correto imposta por algumas religiões, além de condições como a proibição da relação sexual antes do casamento ou de múltiplos parceiros, pode atuar como fator atenuador para o comportamento sexual de risco.1,16,17,27,28

Nos resultados referentes à escolaridade materna, constatou‐se que meninas cujas mães tinham ensino médio incompleto ou inferior apresentaram 3,37 vezes mais chances de ter dois a cinco parceiros sexuais. Assim, o baixo nível de escolaridade materna pode ser considerado como fator de exposição para a adolescente apresentar comportamento sexual de risco.

Estudos enfatizam a importância do status socioeconômico familiar, tanto a renda familiar quanto o nível de escolaridade dos pais representam indicadores de avaliação de comportamentos de risco para ambos os sexos.8,16

Desse modo, existe uma associação entre a renda familiar e o grau de escolaridade, visto que o indivíduo que tem estrutura financeira mais confortável tem maiores possibilidades de viabilizar uma formação educacional de melhor qualidade, apresenta, assim, maiores possibilidades de conhecimento acerca de aspectos importantes de cuidados com a saúde.

O envolvimento de indivíduos do sexo masculino em bebedeira nos últimos 30 dias demonstrou 22,11 vezes mais chances de ter um parceiro sexual; 7,42 vezes mais chances de ter dois a cinco e 4,69 vezes mais chances de ter seis ou mais. Assim, independentemente do número de parceiros a bebedeira é fator de risco para um comportamento sexual vulnerável entre os meninos. Tais dados também foram relatados por outros estudos que afirmam que tanto a ingestão de bebida alcoólica como episódios de bebedeira estão associados com maiores índices de comportamento sexual de risco.7,8

A associação do uso de substâncias e relação sexual parece representar uma forma de estímulo para o prazer durante o ato sexual e também atuar como um facilitador do desenvolvimento do processo da ocorrência da relação para ambos os sexos.18 No entanto, a tomada de decisão dessa natureza, além de representar comportamento de risco em si, geralmente traz consigo muitas possibilidades e consequências negativas, as quais não são conscientemente consideradas por esses indivíduos em sua real magnitude.29

Os adolescentes do sexo masculino que relataram ter ingerido a primeira dose com idade menor ou igual a 14 anos apresentaram 3,48 vezes mais chances de ter dois a cinco parceiros sexuais. Nesse sentido, quanto mais precoce o contato com o consumo de álcool, maior probabilidade de apresentar multiplicidade de parceiros sexuais. Porém, a literatura apresenta dados divergentes em relação a essas variáveis, é relatado que a idade de iniciação ao álcool tem pouco efeito sobre o número de parceiros sexuais para ambos os sexos.3

No que diz respeito ao uso de bebida alcoólica na vida, as meninas que não faziam uso ou que eram novas usuárias/experimentais apresentaram 96% menos chances de ter um maior número de parceiros sexuais, o que corrobora outros estudos,3 que ratificam que a ingestão perigosa de bebida alcoólica entre adolescentes tem influência negativa sobre o número de parceiros sexuais.7,8

Diante dos resultados, pode‐se inferir que as implicações deste estudo são relevantes, com dados que configuram o cenário local, que podem servir como de comparação para outras pesquisas com adolescentes de outras localidades. Espera‐se que os padrões encontrados possam auxiliar no melhor direcionamento das ações em saúde voltadas para esse público.

Contudo, algumas limitações devem ser referidas, como o fato de o instrumento ser baseado em respostas autorrelatadas. Assim, torna‐se necessário contar com a possibilidade de respostas não verídicas.18 Os dados são provenientes de uma amostra específica de uma região do interior de Pernambuco, não é possível inferir que as conclusões sejam aplicáveis em outras regiões ou em âmbito mundial.30 Ainda, por se tratar de uma pesquisa transversal, torna‐se impossível determinar o efeito causal dos comportamentos avaliados. Também cabe salientar que esta pesquisa foi aplicada apenas em estudantes do ensino público. Portanto, os resultados são restritos a esse público. Outro aspecto que merece atenção é o fato da imprecisão que pode ocorrer na coleta em relação às informações dos pais dos adolescentes, pois muitas vezes os filhos não sabem responder dados socioeconômicos.

Sugere‐se o desenvolvimento de pesquisas que tenham delineamento longitudinal, tipo painel, que analisem adolescentes de diferentes localidades, avaliem não apenas influências regionais, mas também entre metrópoles e cidades do interior. Também é importante avaliar se existem diferenças entre o padrão comportamental de adolescentes de escolas privadas e públicas e com distintos níveis socioeconômicos.

Por fim, pode‐se inferir que houve elevada ocorrência de comportamento sexual de risco nos adolescentes. Idade, sexo, escolaridade materna, religião, idade da primeira dose, bebedeira e padrão de consumo nos últimos trinta dias e na vida apresentaram associação com o número de parceiros sexuais.

No entanto, meninos e meninas sofreram influências de diferentes variáveis sobre o número de parceiros sexuais. Para o sexo feminino, ter idade igual ou superior a 15 anos, com mães que não concluíram o ensino médio, aumentou as chances de ter mais parceiros; em contrapartida, o menor consumo de álcool durante a vida foi um fator protetor para menor número de parceiros sexuais. Para o sexo masculino, ter idade igual ou superior a 15 anos, não ter religião definida, iniciar o consumo de álcool antes dos 15 anos e se envolver em episódios de bebedeira nos últimos 30 dias aumentaram as chances de ter múltiplos parceiros sexuais.

Em suma, independentemente do número de parceiros, a bebedeira e a idade de iniciação alcoólica foram fatores de risco para um comportamento sexual vulnerável.

Financiamento

Programa de Fortalecimento Acadêmico da Universidade de Pernambuco (PFA‐UPE), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Conflitos de interesse

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

Agradecimentos

Programa de Fortalecimento Acadêmico da Universidade de Pernambuco e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelas bolsas concedidas.

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Como citar este artigo: Mola R, Araújo RC, Oliveira JV, Cunha SB, Souza GF, Ribeiro LP, et al. Association between the number of sexual partners and alcohol consumption among schoolchildren. J Pediatr (Rio J). 2017;93:192–9.

Estudo vinculado à Universidade de Pernambuco (UPE), Recife, PE, Brasil.

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