To assess the association between general and abdominal obesity with high blood pressure in adolescents of both genders from the public school system.
MethodsThis was an epidemiological, descriptive, exploratory study, with a quantitative approach and local scope whose sample consisted of 481 high school students (aged 14–19), selected by using a random cluster sampling strategy. Blood pressure was measured through the use of automated monitor and was considered high when the pressure values were at or above the 95th percentile. The analyses were performed using the chi‐squared test and binary logistic regression.
ResultsThe prevalence of high blood pressure was 6.4%, and it was higher among boys (9.0% vs. 4.7%, p<0.05). There was no significant difference between general (p=0.903) and abdominal obesity (p=0.157) when genders were compared. After adjusting for age, high blood pressure was associated with general (OR=6.4; p<0.001) and abdominal obesity (OR=7.0; p<0.001) only among boys, when comparing the fourth quartile with the first quartile of body mass index (≤18.6kg/m2vs. ≥23.5kg/m2) and waist circumference (≤69cm vs. ≥80.1cm).
ConclusionIt was observed that general and abdominal obesity are associated with high blood pressure only in boys, regardless of age.
Analisar a associação entre obesidade geral e abdominal com a pressão arterial elevada em adolescentes de ambos os gêneros da rede de ensino público.
MétodosEstudo epidemiológico, descritivo, exploratório, com abordagem quantitativa e abrangência municipal, cuja amostra foi constituída de 481 estudantes (14‐19 anos) do ensino médio, selecionados por meio de uma estratégia de amostragem aleatória de cluster. A pressão arterial foi medida com equipamentos automáticos e considerada elevada quando os valores pressóricos estivessem iguais ou acima do percentil 95. As análises foram feitas com os testes de qui‐quadrado e da regressão logística binária.
ResultadosA prevalência de pressão arterial elevada foi de 6,4%, maior entre os rapazes (9% vs. 4,7%, p<0,05). Não foi observada diferença significante entre a obesidade geral (p=0,903) e abdominal (p=0,157) quando comparados os gêneros. Após o juste pela idade, a pressão arterial elevada foi associada com a obesidade geral (OR=6,4; p<0,001) e abdominal (OR=7,0; p<0,001) apenas entre os rapazes, quando comparado o quarto quartil com o primeiro quartil do índice de massa corporal (≤18,6Kg/m2vs. ≥23,5Kg/m2) e da circunferência da cintura (≤ 69cm vs. ≥80,1cm).
ConclusãoFoi observado que a obesidade geral e abdominal está associada com a pressão arterial elevada apenas entre os rapazes, independentemente da idade.
A pressão arterial elevada (PAE) é considerada o principal fator de risco para doenças cardiovasculares, tanto para adultos como para crianças e adolescentes.1,2 O seu diagnóstico e tratamento precoces podem evitar a ocorrência de eventos cardiovasculares adversos futuros, visto que a PAE na infância é fator preditor de hipertensão arterial na vida adulta.3 No Brasil a prevalência de PAE na população pediátrica varia entre 2,5%4 e 44,7%5 e, por ser assintomática, o conhecimento e o tratamento da PAE são muitas vezes negligenciados.6
Consensualmente, considera‐se a obesidade geral e abdominal como fatores predisponentes para o surgimento da PAE.7 Além disso, o acúmulo excessivo de gordura corporal nas fases iniciais da vida está associado ao aparecimento de doenças cardiovasculares e metabólicas na vida adulta.8 Entretanto, evidências ressaltam que a distribuição da gordura corporal é mais importante do que a obesidade por si só.9,10 Nesse sentido, tem sido visto que o acúmulo de gordura na região abdominal apresenta estreita relação com a hipertensão arterial, é considerado a grande responsável pelas complicações metabólicas da população obesa.11
Outro fator que pode influenciar nos valores pressóricos é a diferença entre os sexos.12,13 Corroborando tais achados, pesquisas ratificam que os rapazes têm a PA mais alta do que as moças.14–16 No entanto, pesquisas comumente analisam a associação entre a obesidade e a PAE, mas não testam a interação em relação ao gênero, pode esse fator deturpar os resultados encontrados.1,16 Assim, o objetivo do presente estudo foi analisar a associação entre obesidade geral e abdominal com a PAE em adolescentes da rede de ensino público, respeitando a diferença entre gêneros.
MétodosEstudo descritivo com abordagem quantitativa que integra o levantamento epidemiológico transversal de base escolar e abrangência municipal e cuja amostra foi constituída por estudantes entre 14 e 19 anos, de ambos os sexos, regularmente matriculados em escolas da rede pública estadual de ensino médio do município de Caruaru, Pernambuco, estimados em 8.833 jovens distribuídos nas 15 escolas, segundo dados da Secretaria da Educação e Cultura do Estado.
Para cálculo do tamanho amostral foram adotados os seguintes parâmetros: intervalo de confiança de 95%; erro máximo tolerável de 2 pontos percentuais; efeito do desenho (deff) = 2; e, por se tratar de estudo que abrange a análise de múltiplos comportamentos de risco e com diferentes frequências de ocorrência, definiu‐se a prevalência estimada em 50%. Adicionalmente, para atenuar as limitações impostas por eventuais perdas na aplicação e/ou preenchimento inadequado dos questionários, decidiu‐se por acrescer em 20% o tamanho da amostra.
Para seleção da amostra requerida, recorreu‐se a um procedimento de amostragem por conglomerados em dois estágios. A “escola” e a “turma” representaram, respectivamente, as unidades amostrais no primeiro e no segundo estágio. Todas as escolas da rede pública estadual em Caruaru foram consideradas elegíveis para inclusão no estudo. No primeiro estágio, adotou‐se como critério de estratificação a densidade de escolas em cada microrregião da cidade (Gerência Regional de Educação – Gere), segundo porte (tamanho). No segundo estágio, considerou‐se a densidade de turmas nas escolas sorteadas por período (diurno e noturno) como critério para sorteio daquelas nas quais os questionários seriam aplicados. Todos os estudantes das turmas sorteadas foram convidados a participar do estudo, independentemente da idade deles. Após a aplicação, os questionários respondidos por alunos com idade superior ao estabelecido (19 anos) foram excluídos.
A coleta dos dados foi feita de junho a novembro de 2014. A aplicação dos questionários foi efetuada em sala de aula, na forma de entrevista coletiva, sem a presença dos professores. Os alunos foram continuamente assistidos por cinco pesquisadores (dois professores e três alunos de graduação), para esclarecer dúvidas durante o preenchimento dos questionários. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos da Faculdade Asces (CAAE‐22210913.8.0000.5203/CEP‐ASCES:072403/2013). A participação dos sujeitos foi voluntária e anônima, adotou‐se o uso de termo negativo de consentimento (parental passive consent form).
As informações pessoais, variáveis socioeconômicas e sociodemográficas foram adquiridas por meio da versão traduzida e adaptada do Global School‐based Student Health Survey (GSHS), proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Nas avaliações antropométricas, todos os adolescentes trajavam roupas leves e permaneciam descalços. A massa corporal foi avaliada por meio de uma balança eletrônica da marca Beurer (Beurer GmbH, Ulm, Alemanha) com capacidade máxima de 150 kg e precisão de 100 g. A estatura foi aferida por meio de um estadiômetro portátil (Wiso, SC, Brasil) com precisão de 0,5 cm. Foi calculado o índice de massa corporal (IMC) dividindo‐se a massa corporal, em quilogramas, pelo quadrado da estatura, em metros. A CC (Circunferência de Cintura) foi determinada como a mínima circunferência entre a crista ilíaca e a última costela. Para tanto, foi usada uma fita inextensível (Sanny, SP, Brasil) graduada em milímetros. Após os cálculos do índice de massa corporal e da circunferência da cintura, os dados foram categorizados em quartis conforme usado em estudo prévio feito com adolescentes.17
Na avaliação da Pressão Arterial (PA) foi usado um aparelho oscilométrico automático (Omron HEM‐742, Omrom Healthcare, INC, EUA) o qual foi calibrado e previamente validado para adolescentes.18 O ajuste dos manguitos seguiu as recomendações da American Heart Association.19 Foram tomadas três medidas da pressão arterial, separadas por um intervalo de um minuto, seguindo criteriosamente os protocolos recomendados pelas VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão,20 bem como em relação ao posicionamento do braço e do corpo, repouso prévio, calibração do aparelho, dimensão do manguito do esfigmomanômetro, quantidade de medidas tomadas e a escolha do valor usado para determinar a prevalência.
Em relação ao valor da PA usado, foi descartada a primeira medida e usada a média das duas últimas, tanto para a PA sistólica como para a diastólica. Os critérios adotados para classificar os sujeitos foram os estabelecidos pelo National High Blood Pressure Education Program,21 de modo que para o grupo etário de 14 a 17 anos considerou‐se hipertensão arterial quando a pressão arterial sistólica (PAS) ou pressão arterial diastólica (PAD) foi igual ou maior do que o percentil P95 das tabelas de referência do Task Force Report High Blood Pressure in Children and Adolescents, de 1996, para idade e sexo correspondentes, ajustado para o percentil de altura do avaliado. Para os alunos entre 18 e 19 anos foram considerados, como parâmetro, os valores admitidos para adultos jovens.
A tabulação final dos dados foi efetuada com o programa EpiData versão 3.1 (Epidata Association, Odense, Dinamarca), um sistema de domínio público, com o qual também foram feitos os procedimentos eletrônicos de controle de entrada de dados por meio da função check (controles). A fim de detectar erros, a entrada de dados foi repetida e por meio da função de comparação de arquivos duplicados os erros de digitação foram detectados e corrigidos.
A análise dos dados foi feita com o SPSS (SPSS Inc. Statistics para Windows, versão 10.0. IL, EUA). Na análise descritiva foi observada distribuição de frequências. Na análise inferencial, foi usado o teste de qui‐quadrado de Pearson (χ2), a fim de analisar a associação isolada entre a PAE e a obesidade geral e abdominal, a diferença entre a PA dos rapazes e moças, a obesidade geral e abdominal entre rapazes e moças, além de analisar as variáveis que entraram no modelo, explorar os possíveis fatores de confusão e identificar a necessidade de ajustamento estatístico das análises.
Na análise multivariável, recorreu‐se à regressão logística binária, por meio da estimativa da razão de chances (odds ratio = OR) e intervalos de confiança de 95%, para expressar o grau de associação entre as variáveis independentes (obesidade geral e abdominal) e a variável dependente (PAE), recorrendo‐se ao ajustamento pela idade, conforme feito em outros estudos.22,23 Além da plausibilidade biológica, a variável idade obteve, em relação à PA, um nível de significância estatística menor do que 0,20 (p < 0,20), critério usado para a entrada no modelo estatístico, com o método Backward,. Após a obtenção das variáveis preditivas do modelo final, testou‐se a ocorrência de interação. Para todos os testes o nível de significância adotado foi p < 0,05.
A cor de pele, escolaridade da mãe, ocupação e local de residência não entraram no modelo estatístico por obter um nível de significância estatístico menor do que 0,20 em relação a PAE, foram encontrados p=0,764, p=0,884, p=0,259 e p=0,526 respectivamente.
ResultadosForam visitadas nove escolas da rede pública estadual do ensino médio localizadas na cidade de Caruaru (PE). Dos 569 alunos que estavam em sala de aula no dia da coleta, 31 se recusaram a participar e 26 não foram autorizados a participar pelos pais ou responsáveis, totalizando 57 recusas. Foram coletados 512 adolescentes. Entretanto, a amostra final, correspondente a alunos entre 14 e 19 anos, foi de 481, dos quais 54,1% eram do sexo feminino. As características dos adolescentes estão presentes na tabela 1.
Características socioeconômicas, demográficas e prevalências de pressão arterial elevada e obesidade geral e abdominal de estudantes do Ensino Médio da Rede Pública Estadual de Pernambuco, Brasil, 2014
Variáveis | Total=481 | |
---|---|---|
n | % | |
Gênero | ||
Rapazes | 221 | 45,9 |
Moças | 260 | 54,1 |
Idade (anos) | ||
14‐15 | 183 | 38,1 |
16‐17 | 219 | 45,6 |
18‐19 | 78 | 16,3 |
Local de residência | ||
Urbano | 407 | 84,6 |
Rural | 74 | 15,4 |
Cor de pele | ||
Branca | 128 | 26,7 |
Não branca | 351 | 73,3 |
Escolaridade materna | ||
> 8 anos de estudo | 47 | 11,6 |
< 8 anos de estudo | 359 | 88,4 |
Ocupação | ||
Trabalha | 122 | 25,5 |
Não trabalha | 357 | 74,5 |
Pressão arterial elevada | ||
Não | 450 | 93,6 |
Sim | 31 | 6,4 |
Índice de massa corporal | ||
Rico muito baixo (<=18,6) | 121 | 25,2 |
Risco baixo (18,7 a 20,6) | 120 | 24,9 |
Risco Moderado (20,7 a 23,4) | 120 | 24,9 |
Risco alto (>23,5) | 120 | 24,9 |
Circunferência da cintura | ||
Rico muito baixo (<=69) | 136 | 28,3 |
Risco baixo (69,1 a 73) | 108 | 22,5 |
Risco Moderado (73,1 a 80) | 123 | 25,6 |
Risco alto (>80,1) | 114 | 23,7 |
A prevalência de PAE foi de 6,4%, maior entre os rapazes (9% vs. 4,7%, p < 0,05). Não foi observada diferença significativa entre a obesidade geral (p=0,903) e abdominal (p=0,157) quando comparados os gêneros, conforme a figura 1.
Após o juste pela idade, conforme a tabela 2, a pressão arterial elevada foi associada com a obesidade geral (OR=6,44; p=0,001) e abdominal (OR=6,97; p=0,001) apenas entre os rapazes, quando comparado o quarto quartil com o primeiro quartil do índice de massa corporal (<=18,6Kg/m2) vs. >=23,5Kg/m2) e da circunferência da cintura (<=69cm vs. >=80,1cm).
Razão de chance (odds ratio) bruta e ajustada entre a pressão arterial elevada e a obesidade geral e abdominal (quartis) em estudantes, de ambos os gêneros, do Ensino Médio da Rede Pública Estadual de Pernambuco, Brasil, 2014
Índices antropométricos | Pressão arterial elevada | |||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Odds ratio (Bruta) | IC95% | p‐valor | p‐valor geral | Odds ratio (ajustadaa) | IC95% | p‐valor | p‐valor geral | |
Rapazes | ||||||||
Circunferência da cintura (cm) | ||||||||
Rico muito baixo (<=69) | 1 | <0,001 | 1 | <0,001 | ||||
Risco baixo (69,1 a 73) | 0,46 | 0,04‐5,26 | 0,535 | 0,38 | 0,03‐4,40 | 0,439 | ||
Risco moderado (73,1 a 80) | 1,75 | 0,31‐10,00 | 0,526 | 1,31 | 0,22‐7,76 | 0,765 | ||
Risco alto (> 80,1) | 7,93 | 1,69‐37,18 | 0,009 | 6,97 | 1,47‐33,15 | 0,015 | ||
Índice de massa corporal (kg/m2) | ||||||||
Rico muito baixo (<=18,6) | 1 | <0,001 | 1 | <0,001 | ||||
Risco baixo (18,7 a 20,6) | 0,46 | 0,04‐5,19 | 0,527 | 0,38 | 0,03‐4,43 | 0,442 | ||
Risco moderado (20,7 a 23,4) | 2,70 | 0,50‐14,59 | 0,247 | 2,31 | 0,42‐12,73 | 0,337 | ||
Risco alto (>23,5) | 7,57 | 1,60‐35,70 | 0,011 | 6,44 | 1,33‐31,04 | 0,020 | ||
Moças | ||||||||
Circunferência da cintura (cm) | ||||||||
Rico muito baixo (<=69) | 1 | 0,260 | 1 | 0,245 | ||||
Risco baixo (69,1 a 73) | 0,38 | 0,04‐3,54 | 0,399 | 0,34 | 0,04‐3,15 | 0,343 | ||
Risco moderado (73,1 a 80) | 0,33 | 0,03‐3,06 | 0,331 | 0,33 | 0,04‐3,10 | 0,335 | ||
Risco alto (> 80,1) | 2,22 | 0,60‐8,25 | 0,233 | 2,23 | 0,59‐8,41 | 0,235 | ||
Índice de massa corporal (kg/m2) | ||||||||
Rico muito baixo (<=18,6) | 1 | 0,462 | 1 | 0,463 | ||||
Risco baixo (18,7 a 20,6) | 0,25 | 0,03‐2,34 | 0,227 | 0,24 | 0,03‐2,24 | 0,210 | ||
Risco moderado (20,7 a 23,4) | 0,23 | 0,03‐2,16 | 0,200 | 0,21 | 0,02‐2,00 | 0,174 | ||
Risco alto (> 23,5) | 1,52 | 0,41‐5,68 | 0,529 | 1,54 | 0,41‐5,82 | 0,524 |
IC, intervalo de confiança.
O objetivo deste estudo foi analisar a associação entre obesidade geral e abdominal com a PAE em adolescentes de ambos os gêneros. Os principais resultados foram: (i) A prevalência de PAE foi maior entre os rapazes; (ii) Não foi observada diferença significativa entre a obesidade geral e abdominal quando comparados os gêneros; (iii) A PAE foi associada com a obesidade geral e abdominal apenas entre os rapazes.
A prevalência de PAE observada no presente estudo foi de 6,4%, valor inferior ao encontrado em outros estudos com adolescentes que usaram como critério para o diagnóstico da PA elevada o percentile > 95.14,15,24–26 Contudo, diferenças metodológicas, número de medidas feitas e os diferentes critérios de referência são as principais causas da grande variabilidade nas prevalências de pressão arterial elevada entre as investigações. No presente estudo, optou‐se por maior rigorosidade ao diagnosticar a PAE, considerando que uma maior rigorosidade metodológica baseada da diretriz de hipertensão pode resultar em uma menor prevalência de PAE encontrada.27
Assim como em outros estudos,14–16 os rapazes tiveram a PA mais alta do que as moças. Nesse sentido, pesquisa que usou técnicas de monitoração ambulatorial da pressão arterial em crianças revelou que com o aumento da idade ocorre uma elevação na pressão arterial tanto em meninos como em meninas. Entretanto, após o início da puberdade a pressão arterial dos meninos é mais alta do que a das meninas da mesma idade.28 Corroborando esses achados, pesquisa longitudinal feita com 1.267 adolescentes observou que adolescentes do sexo masculino são mais propensos a desenvolver PAE com o passar dos anos.12
Um dos principais fatores de risco para hipertensão arterial é a obesidade geral.2,16 Em uma revisão sistemática com metanálise observou‐se que as crianças obesas apresentavam níveis pressóricos aproximadamente 40% maiores do que as crianças com peso normal.2 Em relação à localização da gordura corporal, foi encontrada em estudo feito com adolescentes uma associação entre obesidade geral e abdominal com a PAE, por meio do IMC e CC. Entretanto, para a análise não foi feita a estratificação da amostra pelo gênero e não foi testada a interação entre as variáveis.24
Comumente correlaciona‐se um possível aumento da pressão arterial entre os rapazes a maior predominância do acumulo de gordura na região abdominal, mas curiosamente, mesmo não havendo diferença entre a obesidade geral e abdominal quando comparados os gêneros, foi observado que a PAE foi associada com a obesidade geral e abdominal apenas entre os rapazes. Resultados próximos dos observados por Payeb et al. (2014),23 que em seu estudo no Irã com 13.486 adolescentes encontraram um percentual de obesidade abdominal maior entre as moças. Contudo, os valores referentes a PAE foram maiores entre os rapazes.
Uma possível explicação para a maior PA entre os rapazes é que os hormônios sexuais desempenham um papel importante na regulação da PA,29 pode ocorrer, durante a infância e a adolescência, um aumento nos níveis de hormônios gonadais e esses podem modificar a síntese, liberação e bioatividade desses fatores e induzir o relaxamento vascular e consequentemente influenciar na PA.13 Ademais, Landazuri et al.30 analisaram que a concentração da ECA atingiu níveis elevados em meninos de 11 a 17 anos, enquanto diminuiu em meninas dessa mesma faixa etária. A ECA é a principal enzima do sistema renina‐angiotensina, que por sua vez desempenha um papel importante na regulação da função cardíaca e da PA. A redução significativa na atividade da ECA observada nas meninas, mas não nos meninos, indica que o estradiol e a testosterona podem influenciar de maneira diversa na atividade da enzima conversora da angiotensina (ECA) em seres humanos, principalmente com relação à PAE.
O estudo tem pontos fortes e fracos. A pesquisa tem limitações que merecem menção. O delineamento transversal e a natureza correlativa dos dados nos impedem de estabelecer uma relação causal entre a PAE e a obesidade. Além disso, não foi avaliada a idade maturacional do adolescente, ponto que pode estar relacionado à liberação hormonal. Entre os pontos fortes, destaca‐se a amostra representativa, os procedimentos de amostragem estabelecidos para garantir que a amostra fosse composta por estudantes adolescentes que frequentassem as escolas em seus diferentes turnos e a rigorosidade metodológica na coleta da PA.
De acordo com os dados obtidos durante a pesquisa foi possível observar que mesmo não havendo diferença entre a disposição de gordura entre os gêneros, a obesidade geral e abdominal está associada com a PAE apenas entre os rapazes, independentemente da idade. Os resultados encontrados demonstram a necessidade de se estratificar a amostra por gênero, quando se aspira a avaliar a PA em adolescentes. Além disso, observou‐se que os níveis pressóricos elevados entre os rapazes podem não estar relacionados à predominância de acúmulo de gordura geral e abdominal. Nesse sentido, recomendam‐se pesquisas que usem o delineamento longitudinal e investiguem a influência dos hormônios sexuais na PA em adolescentes.
FinanciamentoPrograma de Iniciação Científica Asces da Faculdade Aasces.
Conflitos de interesseOs autores declaram não haver conflitos de interesse.
Como citar este artigo: Silva AO, Silva MV, Pereira LK, Feitosa WM, Ritti‐Dias RM, Diniz PR, et al. Association between general and abdominal obesity with high blood pressure: difference between genders. J Pediatr (Rio J). 2016;92:174–80.
Estudo vinculado à Faculdade Associação Caruaruense de Ensino Superior e Técnico (ASCES), Caruaru, PE, Brasil.