Lemos com muito interesse o artigo “The TyG index cutoff point and its association with body adiposity and lifestyle in children”, de Vieira‐Ribeiro et al.,1 publicado no Jornal de Pediatria, no qual propõem pontos de corte do TyG para predição de resistência à insulina (IR) em crianças em idade escolar e pré‐escolar. O estudo traz uma contribuição importante para a temática, visto a necessidade de estabelecer pontos de corte para uso dessa ferramenta na população pediátrica brasileira.
Nessa perspectiva, acreditamos ser de grande valia alertar aos autores para um provável equívoco no cálculo do TyG. Embora o erro no cálculo não comprometa a capacidade preditiva desse método, os pontos de corte proposto são significativamente alterados. Esse método foi proposto por Guerrero‐Romero em artigo publicado em 2010,2 o cálculo foi descrito da seguinte forma: [Ln(fasting triglycerides) (mg/dl) X fasting glucose (mg/dl)/2] e os valores encontrados pelos autores foi de 3,7 (valores para adultos saudáveis). Entretanto, em outra publicação feita pelos mesmos autores em 2016,3 podemos verificar que o cálculo indicado é: [Ln(fasting triglycerides (mg/dl) X fasting glucose (mg/dl)]/2 e os valores apresentados pelos autores nesse artigo foram de 4,5 (valores para homens e mulheres adultos saudáveis).
No quadro abaixo, podemos verificar que, de acordo com a fórmula usada, teremos diferentes valores do TyG, visto que a 1ª fórmula divide por 2 antes de fazer a operação logarítmica e a 2ª fórmula divide por 2 após a operação logarítmica do produto do triglicérides e glicose séricos.
Dessa forma, é provável que a fórmula usada pelos autores que propuseram o método é a 2ª, visto que os valores apresentados nos dois artigos encontram‐se entre 3,7 e 4,5.
Esse equívoco na apresentação da fórmula levou a autores,4–6 inclusive Vieira‐Ribeiro et al.,1 a usarem o 1ª fórmula para obtenção do TyG, obtiveram valores muito superiores aos apresentados pelos proponentes do método.
Portanto, sugerimos aos autores Vieira‐Ribeiro et al.1 que recalculem os valores do TyG com base na 2ª fórmula, a fim de apresentar pontos de corte mais adequados à proposta original e que permitam uma comparação adequada com futuros trabalhos que virão e que também deverão se atentar ao cálculo adequado desse índice.
Conflitos de interesseOs autores declaram não haver conflitos de interesse.
Como citar este artigo: Lopes WA, Oliveira GH, Locateli JC, Simões CF. TyG na predição da resistência à insulina. J Pediatr (Rio J). 2020;96:132–3.