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Vol. 92. Núm. 3.
Páginas 220-222 (maio - junho 2016)
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Editorial
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Optimizing bone health in Brazilian teens: using a population‐based survey to guide targeted interventions to increase dietary calcium intake
Otimizando a saúde óssea em adolescentes brasileiros: utilização de um levantamento de base populacional para orientar intervenções direcionadas para aumentar a ingestão alimentar de cálcio
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Neville H. Golden
Faculdade de Medicina, Stanford University, Palo Alto, Estados Unidos
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O cálcio é necessário para a saúde dos ossos, função cardiovascular, condução nervosa, contração muscular e hemostasia. O cálcio é o mineral mais abundante encontrado no corpo e 99% do cálcio total no corpo é encontrado no esqueleto, onde fornece a força à matriz subjacente de colágeno. Durante o surto de crescimento na adolescência, a demanda por cálcio é alta, tanto com relação ao crescimento longitudinal quanto ao acréscimo de massa óssea.1,2 O pico de massa óssea é atingido próximo ao fim da segunda década de vida e é uma importante variável preditora do futuro risco de fraturas. Os anos de adolescência fornecem, portanto, uma brecha de oportunidades para intervenções para aprimorar a aquisição de pico de massa óssea.

Nesta edição do periódico, de Assumpção et al. examinaram a ingestão de cálcio em adolescentes com relação a diversas variáveis socioeconômicas e comportamentos relacionados à saúde.3 Em um estudo transversal de base populacional conduzido com cuidado em 913 adolescentes residentes em Campinas, São Paulo, Brasil, com um recordatório alimentar de 24 horas, os investigadores descobriram que 88,6% dos adolescentes tinham uma ingestão diária de cálcio abaixo da necessidade média estimada (EAR) para adolescentes entre 9‐18 anos. O consumo era mais baixo em meninas, naqueles com histórico socioeconômico mais baixo e naqueles em que o chefe da família apresentava menor nível de escolaridade. A baixa ingestão de cálcio também foi associada à ingestão reduzida de laticínios, bem como à baixa ingestão de frutas e vegetais.

Em seu relatório de 2011, o Instituto de Medicina (IOM) estabeleceu a EAR, a ingestão diária recomendada (IDR) e os níveis máximos de ingestão toleráveis (UL) como 1.100mg/dia, 1.300mg/dia e 3.000mg/dia, respectivamente, para adolescentes dos sexos masculino e feminino na faixa de 9 a 18 anos.4 Essas recomendações tiveram como base estudos de equilíbrio de cálcio no metabolismo, bem como estudos de acúmulo mineral ósseo com o uso de absorciometria com raios X de dupla energia e técnicas semelhantes.5 A EAR é a ingestão média diária de nutrientes estimada de forma a atender às necessidades de metade dos indivíduos dessa faixa etária. A EAR reflete, na verdade, a exigência mediana estimada e, como tal, por definição, a EAR é menor do que as necessidades de metade da população. Em contrapartida, a IDR representa a ingestão diária de cálcio que atende às exigências de 97,5% da população. De acordo com o relatório de 2011 do Instituto de Medicina, a IDR de cálcio para adolescentes de 8‐19 anos é de 1.300mg/dia.4 Ao usar a IDR em vez da EAR, a prevalência da baixa ingestão de cálcio seria ainda maior.

As principais fontes de ingestão de cálcio são laticínios, vegetais folhosos de cor verde‐escuro, legumes, nozes e alguns tipos de peixe, como sardinha e salmão. Nos Estados Unidos, 70% do cálcio na dieta provêm de laticínios e os vegetais contribuem apenas com 7%.6 Cada porção de 8 oz. (240mL) de leite ou xícara de iogurte e uma porção de 1,5 oz. de queijo branco contém 300mg de cálcio. Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, o cálcio também está disponível em algumas bebidas e cereais enriquecidos com cálcio. A biodisponibilidade de cálcio em vegetais folhosos de cor verde‐escuro normalmente é alta, porém a quantidade de vegetais necessária para atender às necessidades é grande. Com base nas recomendações do IOM, os adolescentes precisam de quatro porções de laticínios ou alimentos enriquecidos com cálcio por dia. A Academia Americana de Pediatria recomenda que os pediatras avaliem periodicamente a ingestão de cálcio durante os anos de crescimento e incentivem a ingestão maior para aumentar a quantidade de laticínios ou incorporar alimentos enriquecidos com cálcio na dieta.7

Embora alguns estudos tenham demonstrado que a suplementação de cálcio em crianças e adolescentes aumenta a densidade mineral óssea,8,9 uma metanálise recente de ensaios controlados randomizados constatou que a suplementação de cálcio resultou apenas em um aumento marginal da densidade mineral óssea e concluiu que esse pequeno aumento provavelmente não resultará em uma redução clinicamente significativa do risco de fraturas.10 Portanto, a suplementação de cálcio de rotina não é recomendada, porém o consumo alimentar maior de alimentos ricos em cálcio é recomendado para atingir os níveis de ingestão recomendados.7

Como de Assumpção et al. demonstraram, não é fácil atingir a ingestão alimentar recomendada de cálcio. Os achados do estudo brasileiro são semelhantes àqueles dos Estados Unidos que normalmente mostram menor ingestão de cálcio em meninas e consumo alimentar reduzido em todos os adolescentes, mas principalmente em meninas.11,12 Não relatado nesse estudo, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil o consumo de refrigerantes e bebidas açucaradas por adolescentes aumentou, ao passo que o consumo de leite diminuiu. Isso sugere que os refrigerantes substituíram os laticínios nessa faixa etária.11–13 Algumas adolescentes, conscientes das preocupações com a imagem corporal, consideram incorretamente que laticínios engordam e tendem a evitá‐los. Um copo de leite desnatado de 8 oz. não contém gordura, tem 80kcal e é uma boa fonte de proteína e vitamina D. Em contrapartida, uma lata de refrigerante contém 140kcal e é desprovida de outros nutrientes. Os pediatras podem desempenhar um importante papel ao educar seus pacientes e dissipar a noção de que laticínios engordam.

No estudo de de Assumpção et al., os achados do impacto da classe socioeconômica e da escolaridade dos pais oferecem dados adicionais sobre a complexidade da situação. Os laticínios podem ser mais caros do que as fast foods de alto teor calórico preferidas por muitos adolescentes e alimentos enriquecidos com cálcio podem custar mais do que alimentos não enriquecidos com cálcio, o que coloca uma carga adicional em pessoas de grupos socioeconômicos mais baixos, que poderão ter insegurança alimentar. O estudo de de Assumpção et al. fornece dados ricos que oferecem oportunidades para intervenção dirigida. Inquestionavelmente, a melhoria nas condições socioeconômicas é importante, mas isso nem sempre é facilmente alcançado caso os recursos sejam limitados. Contudo, as intervenções na educação nutricional podem desempenhar o importante papel de aumentar o consumo de cálcio por adolescentes. Essas intervenções podem ser na forma de campanhas de saúde pública sobre a importância de beber leite e laticínios, garantia da disponibilidade de leite e laticínios, limitação à facilidade de acesso a refrigerantes e bebidas açucaradas nos almoços escolares e intervenções na educação nutricional na sala de aula. Essas intervenções se provaram eficazes no aumento da ingestão alimentar de cálcio em adolescentes que vivem em diversos países.14–17

Os achados do estudo de de Assumpção et al. demonstram que a ingestão inadequada de cálcio em adolescentes é associada a outros comportamentos de alto risco, como fumo e ingestão inadequada de outros alimentos saudáveis, como frutas e verduras. As lições aprendidas do estudo podem orientar intervenções dirigidas àqueles em maior risco e indicar que as intervenções devem abordar vários comportamentos de risco à saúde.

Conflitos de interesse

O autor declara não haver conflitos de interesse.

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Como citar este artigo: Golden NH. Optimizing bone health in Brazilian teens: using a population‐based survey to guide targeted interventions to increase dietary calcium intake. J Pediatr (Rio J). 2016;92:220–2.

Ver artigo de de Assumpção et al. nas páginas 251–9.

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