Compartilhar
Informação da revista
Vol. 92. Núm. 4.
Páginas 328-330 (Julho - Agosto 2016)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Vol. 92. Núm. 4.
Páginas 328-330 (Julho - Agosto 2016)
Editorial
Open Access
Varicella complications and universal immunization
Complicações e imunização universal contra a varicela
Visitas
6043
Elena Bozzolaa,
Autor para correspondência
elena.bozzola@opbg.net

Autor para correspondência.
, Mauro Bozzolab
a Departamento de Pediatria, Unidade de Doenças Infecciosas e Infantis, Bambino Gesù Children's Hospital, Roma, Itália
b Departamento de Clínica Médica e Terapêutica, Unidade de Pediatria e Hebiatria, University of Pavia, Fondazione IRCCS San Matteo, Pavia, Itália
Este item recebeu

Under a Creative Commons license
Informação do artigo
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Texto Completo

A varicela é uma das doenças infecciosas mais comuns, com distribuição mundial. De acordo com um documento da Organização Mundial de Saúde (OMS), estima‐se que a carga anual global é de 140 milhões de casos.1 Apesar da percepção pública da infecção de varicela como uma doença infantil inofensiva, ela pode ser uma doença muito grave. Como Martino Mota & Carvalho‐Costa destacam em “Óbitos e internações relacionados ao vírus varicela‐zóster no Brasil antes da introdução da vacinação universal com a vacina tetravalente”, a varicela pode causar morte ou levar a complicações potencialmente graves que exigem internação e, consequentemente, causam sequelas de longo prazo.2

As taxas de internações relacionadas à varicela diferem amplamente em todo o mundo. A varicela pode afligir qualquer órgão e as complicações hematológicas, neurológicas, respiratórias, cutâneas, hepáticas, gastrointestinais, urinarias e ósseas são as mais frequentemente relatadas.3

A incidência de complicações por varicela difere entre relatos científicos. Por exemplo, a prevalência em conjunto de complicações neurológicas resultantes de uma análise sistemática da literatura identifica a probabilidade de complicações neurológicas em idade pediátrica na faixa de 13,9‐20,4%.4 Contudo, em alguns relatos, a taxa de complicações neurológicas por varicela é menor do que a incidência relatada na literatura, ao passo que outras complicações, como infecções de pele, são as mais frequentemente detectadas.5,6 Em outros relatos, a taxa de complicações neurológicas e cutâneas é baixa, ao passo que outras complicações são frequentemente detectadas, como as respiratórias.7 Esse achado poderá estar relacionado a diferenças na estrutura sociodemográfica da população, a uma disponibilidade mais ampla de tratamentos ambulatoriais de infecções da pele ou a diferentes políticas de internação.

Pacientes com histórico de malignidade subjacente, uso de esteroides ou terapia imunossupressora, infecção por HIV ou transplante de órgãos sólidos estão suscetíveis a varicela disseminada devido à imunidade celular prejudicada. Hospedeiros imunossuprimidos que desenvolvem a varicela têm morbidez grave e taxas de mortalidade mais altas com mais frequência do que hospedeiros normais. Por exemplo, pacientes com doenças reumatológicas ou gastroenterológicas tratados com antagonistas do fator de necrose tumoral (TNF) continuam com risco seletivamente maior de infecções primárias de varicela mais graves em comparação com a população em geral.8,9

No relato Martino Mota & Carvalho‐Costa, a maioria dos óbitos e complicações associadas à varicela ocorre em crianças de 1 a 4 anos. Também na literatura, a maior frequência de complicações da varicela ocorre em crianças menores de 5 anos.3,6,10

A varicela também pode ser muito grave em idosos, pois pode ser fatal ou levar a uma internação prolongada.8 Grávidas são uma preocupação especial. Caso uma mulher desenvolva varicela em uma idade gestacional nova, a criança pode sofrer síndrome de varicela congênita; caso fique doente no fim da gravidez, o neonato pode ter varicela. Ambas as doenças são muito graves para o recém‐nascido.11

A vacinação pode prevenir a infecção de varicela e suas complicações. Uma vacina contra a varicela, com base na cepa Oka do vírus vivo atenuado varicela‐zóster, foi desenvolvida no Japão em meados da década de 1970. Desde então, foram propostas diferentes formulações das vacinas contra a varicela. Todas elas contêm o vírus vivo atenuado varicela‐zóster e todas, exceto a vacina licenciada na Coreia do Sul, têm como base a cepa Oka isolada no Japão. Atualmente, as vacinas contra varicela são licenciadas como monovalentes ou uma vacina combinada contra sarampo, caxumba, rubéola e varicela (SCRV). As vacinas SCRV são atualmente usadas com base em uma imunogenicidade comparável e um perfil geral de segurança, em comparação com a administração simultânea de vacinas SCR e contra a varicela.12 Adicionalmente, como consiste em apenas uma injeção, a vacina SCRV deve oferecer diversos benefícios: facilitação da imunização universal contra essas quatro doenças, aumento da imunização e redução dos custos na área da saúde.

Em um estudo com foco na eficácia da vacina contra a varicela após o licenciamento entre crianças saudáveis, os autores analisaram revisões sistemáticas e metanálises das bibliotecas Medline, Embase e Cochrane e da base de dados CINAHL em busca de relatos publicados entre 1995 e 2014. Eles concluíram que uma dose da vacina contra a varicela era moderadamente eficaz na prevenção de varicela (81%) e altamente eficaz na prevenção de manifestações moderadas e graves da varicela (98%). Os autores concluíram que uma segunda dose aumentava a proteção contra a varicela (92%).13

Contudo, as políticas de vacinação diferem de país para país. Em alguns países, como os EUA e a Austrália, a imunização universal foi introduzida há muitos anos. A vacinação em massa levou progressivamente a uma redução substancial na carga de doença.14

Na Europa, não há consenso sobre a política de imunização contra a varicela. Consequentemente, alguns países, como a Alemanha e a Grécia, têm programas nacionais de imunização infantil. Outros adotam recomendações heterogêneas ou não oficiais.15 Na Itália, desde sua venda, algumas regiões oferecem vacinação universal na infância, com consequente redução na incidência da doença.16

Em outras regiões, a cobertura da vacinação contra a varicela depende fortemente da aceitação da vacinação pelos pais e das recomendações dos pediatras. Os pediatras podem subestimar o risco potencial da doença e a carga econômica para a comunidade. Os pais poderão considerar o possível lucro para a comunidade menos importante do que o risco individual de seus filhos sofrerem possíveis efeitos colaterais não intencionais da vacinação. Os pais que recusam a vacinação acreditam que a vacina não é segura e é ineficaz e que a doença a ser prevenida é leve e sem perigo. Além disso, em alguns casos, os pais não confiam nos profissionais da saúde, no governo e em pesquisas sobre a vacina apoiadas oficialmente, porém confiam na imprensa e em fontes de informação não oficiais, que desincentivam as políticas de imunização. Na maioria dos casos, as famílias devem pagar o custo da vacinação caso queiram que seus filhos sejam imunizados. Assim, pode ser difícil atingir altos níveis de cobertura.

As decisões sobre o financiamento da vacina têm como base muitas considerações, incluindo o provável custo‐benefício de diferentes estratégias de imunização. Em países europeus que implantaram a vacinação nacionalmente, a imunização em massa resultou na redução tanto da incidência da doença quanto das taxas de internação. Adicionalmente, os dados também revelaram benefícios para grupos não vacinados, como crianças menores de 1 ano.17 Na verdade, uma alta taxa de imunização contribui para a prevenção da disseminação da infecção de varicela, conceito conhecido como imunidade de grupo. A imunidade de grupo fornece proteção àqueles com maior risco de contraírem infecção grave por varicela, incluindo gestantes, neonatos, pessoas com o vírus da imunodeficiência humana e outras doenças de imunodeficiência, pessoas que receberam quimioterapia e pacientes tratados com altas doses de corticosteroides. Esse é um objetivo muito importante, já que muitas internações hospitalares ocorrem em crianças muito novas para serem vacinadas.3 Portanto, conforme as taxas de recusa de vacina aumentam, a imunidade de grupo diminui e algumas populações vulneráveis terão maior risco de contraírem infecção grave de varicela.

Além disso, uma análise econômica de um programa de vacinação universal indica que provavelmente seria uma economia, devido à redução dos custos médicos e da perda de tempo de trabalho dos pais.18 Por fim, os países também devem considerar a vacinação de trabalhadores soronegativos da área da saúde, principalmente em ambientes em que o risco de varicela grave é alto (ou seja, pacientes imunocomprometidos, bebês prematuros etc.).

Conflitos de interesses

Os autores declaram não haver conflitos de interesses.

Referências
[1]
Varicella and herpes zoster vaccines: WHO position paper, June 2014 – Recommendations.
[2]
A. Martino Mota, F.A. Carvalho-Costa.
Varicella zoster virus related deaths and hospitalizations before the introduction of universal vaccination with the tetraviral vaccine.
J Pediatr (Rio J), 92 (2016), pp. 361-366
[3]
B. Elena, Q. Anna, K. Andrzej, P. Elisabetta, L. Laura, T. Alberto.
Haematological complications in otherwise healthy children hospitalized for varicella.
Vaccine, 29 (2011), pp. 1534-1537
[4]
E. Bozzola, A.E. Tozzi, M. Bozzola, A. Krzysztofiak, D. Valentini, A. Grandin, et al.
Neurological complications of varicella in childhood: case series and a systematic review of the literature.
Vaccine, 30 (2012), pp. 5785-5790
[5]
M. Almuneef, Z.A. Memish, H.H. Balkhy, B. Alotaibi, M. Helmy.
Chickenpox complications in Saudi Arabia: is it time for routine varicella vaccination?.
Int J Infect Dis, 10 (2006), pp. 156-161
[6]
E. Grimprel, C. Levy, F. de La Rocque, R. Cohen, B. Soubeyrand, E. Caulin, et al.
Paediatric varicella hospitalisations in France: a nationwide survey.
Clin Microbiol Infect, 13 (2007), pp. 546-549
[7]
C.P. Popescu, E. Ceausu, S.A. Florescu, D. Chirita, S. Ruta.
Complications of varicella in unvaccinated children from Romania, 2002‐2013: a retrospective study.
Pediatr Infect Dis J, 35 (2016), pp. 211-212
[8]
I. García-Doval, B. Pérez-Zafrilla, M.A. Descalzo, R. Roselló, M.V. Hernández, J.J. Gómez-Reino, et al.
Incidence and risk of hospitalisation due to shingles and chickenpox in patients with rheumatic diseases treated with TNF antagonists.
Ann Rheum Dis, 69 (2010), pp. 1751-1755
[9]
A.N. Kunz, M. Rajnik.
Disseminated cutaneous varicella zoster virus infections during infliximab therapy for Crohn's disease: case report of two pediatric patients at one institution.
Clin Pediatr (Phila), 50 (2011), pp. 559-561
[10]
I.G. Helmuth, A. Poulsen, C.H. Suppli, K. Mølbak.
Varicella in Europe – A review of the epidemiology and experience with vaccination.
Vaccine, 33 (2015), pp. 2406-2413
[11]
R.F. Lamont, J.D. Sobel, D. Carrington, S. Mazaki-Tovi, J.P. Kusanovic, E. Vaisbuch, et al.
Varicella‐zoster virus (chickenpox) infection in pregnancy.
[12]
S.J. Ma, X. Li, Y.Q. Xiong, A.L. Yao, Q. Chen.
Combination measles‐mumps‐rubella‐varicella vaccine in healthy children: a systematic review and meta‐analysis of immunogenicity and safety.
Medicine (Baltimore), 94 (2015), pp. e1721
[13]
M. Marin, M. Marti, A. Kambhampati, S.M. Jeram, J.F. Seward.
Global varicella vaccine effectiveness: a meta‐analysis.
Pediatrics, 137 (2016), pp. 1-10
[14]
M. Marin, H.C. Meissner, J.F. Seward.
Varicella prevention in the United States: a review of successes and challenges.
Pediatrics, 122 (2008), pp. e744-e751
[15]
European Centre for Disease Prevention Control. Varicella vaccination in the European Union ECDC, Stockholm; 2015 [acessado em 10.03.16]. Disponível em: http://www.ecdc.europa.eu/en/publications/Publications/Varicella‐Guidance‐2015.pdf.
[16]
E. Amodio, F. Tramuto, M. Cracchiolo, V. Sciuto, A. De Donno, M. Guido, et al.
The impact of ten years of infant universal varicella vaccination in Sicily, Italy (2003‐2012).
Hum Vaccin Immunother, 11 (2015), pp. 236-239
[17]
E. Bozzola, M. Bozzola, V. Calcaterra, S. Barberi, A. Villani.
Infectious diseases and vaccination strategies: how to protect the “unprotectable”?.
ISRN Prev Med, 2013 (2013), pp. 765354
[18]
M.M. Davis.
Successes and remaining challenges after 10 years of varicella vaccination in the USA.
Expert Rev Vaccines, 5 (2006), pp. 295-302

Como citar este artigo: Bozzola E, Bozzola M. Varicella complications and universal immunization. J Pediatr (Rio J). 2016;92:328–30.

Ver artigo Martino Mota e Carvalho‐Costa nas páginas 361–6.

Copyright © 2016. Sociedade Brasileira de Pediatria
Idiomas
Jornal de Pediatria
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Taxa de publicaçao Publication fee
Os artigos submetidos a partir de 1º de setembro de 2018, que forem aceitos para publicação no Jornal de Pediatria, estarão sujeitos a uma taxa para que tenham sua publicação garantida. O artigo aceito somente será publicado após a comprovação do pagamento da taxa de publicação. Ao submeterem o manuscrito a este jornal, os autores concordam com esses termos. A submissão dos manuscritos continua gratuita. Para mais informações, contate assessoria@jped.com.br. Articles submitted as of September 1, 2018, which are accepted for publication in the Jornal de Pediatria, will be subject to a fee to have their publication guaranteed. The accepted article will only be published after proof of the publication fee payment. By submitting the manuscript to this journal, the authors agree to these terms. Manuscript submission remains free of charge. For more information, contact assessoria@jped.com.br.
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.