Compartilhar
Informação da revista
Vol. 93. Núm. 5.
Páginas 490-496 (Setembro - Outubro 2017)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Visitas
2474
Vol. 93. Núm. 5.
Páginas 490-496 (Setembro - Outubro 2017)
Artigo Original
Open Access
Skinfold reference curves and their use in predicting metabolic syndrome risk in children
Curvas de referência de dobras cutâneas e sua utilização na predição do risco de síndrome metabólica em crianças
Visitas
2474
Alynne C.R. Andakia,
Autor para correspondência
alynneandaki@yahoo.com.br

Autor para correspondência.
, Teresa M.B. de Quadrosb, Alex P. Gordiab, Jorge Motac, Adelson L.A. Tinôcod, Edmar L. Mendesa
a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Departamento de Ciências do Esporte, Uberaba, MG, Brasil
b Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Centro de Formação de Professores, Cruz das Almas, BA, Brasil
c Universidade do Porto, Faculdade do Desporto, Porto, Portugal
d Universidade Federal de Viçosa (UFV), Departamento de Nutrição e Saúde, Viçosa, MG, Brasil
Este item recebeu

Under a Creative Commons license
Informação do artigo
Resume
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (1)
Tabelas (3)
Tabela 1. Características descritivas de dobras cutâneas de escolares de seis a 10 anos, município de Uberaba (MG), por sexo
Tabela 2. Pontos de corte de dobras cutâneas para predição de síndrome metabólica em meninas, por idade, município de Uberaba (MG)
Tabela 3. Pontos de corte de dobras cutâneas para predição de síndrome metabólica em meninos, por idade, município de Uberaba (MG)
Mostrar maisMostrar menos
Abstract
Objectives

To draw skinfold (SF) reference curves (subscapular, suprailiac, biceps, triceps) and to determine SF cutoff points for predicting the risk of metabolic syndrome (MetS) in children aged 6–10 years old.

Methods

This was a cross‐sectional study with a random sample of 1480 children aged 6–10 years old, 52.2% females, from public and private schools located in the urban and rural areas of the municipality of Uberaba (MG). Anthropometry, blood pressure, and fasting blood samples were taken at school, following specific protocols. The LMS method was used to draw the reference curves and ROC curve analysis to determine the accuracy and cutoff points for the evaluated skinfolds.

Results

The four SF evaluated (subscapular, suprailiac, biceps, and triceps) and their sum (∑4SF) were accurate in predicting MetS for both girls and boys. Additionally, cutoffs have been proposed and percentile curves (p5, p10, p25, p50, p75, p90, and p95) were outlined for the four SF and ∑4SF, for both genders.

Conclusion

SF measurements were accurate in predicting metabolic syndrome in children aged 6–10 years old. Age‐ and gender‐specific smoothed percentiles curves of SF provide a reference for the detection of risk for MetS in children.

Keywords:
Anthropometry
Metabolic syndrome X
Cross‐sectional studies
Child
Resumo
Objetivos

Desenhar curvas de referência de quatro dobras cutâneas (subescapular, suprailíaca, bíceps, tríceps) e determinar pontos de corte para predizer o risco de SM em crianças de seis a 10 anos.

Métodos

Estudo epidemiológico de base populacional, corte transversal, com amostra probabilística, estratificada por segmento de ensino, com 1.480 crianças de seis a 10 anos idade, 52,2% do sexo feminino, oriundas de escolas públicas e privadas nas zonas urbana e rural do município de Uberaba (MG). Antropometria (dobras cutâneas), pressão arterial e as coletas de sangue em jejum foram feitas em espaço reservado na escola, seguiram protocolos específicos. O método LMS foi usado para desenhar as curvas de referência e análise de curva ROC para determinar a acurácia e os pontos de corte para as dobras cutâneas avaliadas.

Resultados

As quatro DC avaliadas (subescapular, suprailíaca, bíceps e tríceps) e o seu somatório (∑4DC) foram acurados na predição da SM para meninas e meninos. Adicionalmente, pontos de corte foram propostos e curvas percentílicas (p5, p10, p25, p50, p75, p90 e p95) foram delineadas para as quatro DC e o ∑4DC, para ambos os sexos.

Conclusão

Medidas de DC foram acuradas em predizer SM em escolares de seis a 10 anos. As curvas percentílicas de DC desenhadas por idade e sexo fornecem referência na detecção do risco de SM em crianças.

Palavras‐chave:
Antropometria
Síndrome X
Estudos de corte transversal
Crianças
Texto Completo
Introdução

Doenças cardiovasculares apresentam‐se como a principal causa de morte no Brasil1 e no mundo.2 Fatores de risco cardiovascular, como obesidade total e visceral, dislipidemias, hipertensão arterial, hiperglicemia e hiperinsulinemia, têm sido considerados determinantes para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. A síndrome metabólica (SM), caracterizada pela presença de três ou mais desses fatores de risco,3 tem ganhado importância devido à sua consistente associação com a morbimortalidade cardiovascular.4

A presença de fatores de risco cardiovascular e da SM tem sido observada tanto em adultos5 quanto em crianças e adolescentes.6 Nos últimos anos, a preocupação com o diagnóstico e a intervenção precoce desses distúrbios metabólicos tem aumentado devido a evidências de que fatores de risco observados na infância e adolescência tendem a permanecer e se agravar na fase adulta.7

Para além da aferição da pressão arterial e do perímetro de cintura, análises bioquímicas das frações sanguíneas de HDL‐c, triglicerídeos e glicose devem ser feitas para o diagnóstico da SM. Coleta sanguínea constitui técnica invasiva, dispendiosa e de difícil acesso, principalmente para crianças e adolescentes. Por outro lado, o uso de métodos práticos e de baixo custo pode ser uma importante opção para triagem da SM em nível populacional. Nesse sentido, o uso de dobras cutâneas (DC) apresenta‐se como promissora ferramenta para triagem da SM na população pediátrica devido sua forte correlação com adiposidade subcutânea.8 De acordo com Ali et al.,9 o acúmulo de adiposidade subcutânea é um forte preditor de resistência a insulina e de hipertrigliceridemia em crianças e adolescentes e foi o mais forte preditor de fatores de risco cardiometabólico do que a gordura visceral. Ainda, a influência da adiposidade subcutânea sobre o risco de SM é presente em crianças e adolescentes, mas não em adultos.9

Curvas percentílicas de DC foram desenvolvidas com amostras de jovens americanos,10 poloneses11 e indianos.12 Vale ressaltar que a Organização Mundial da Saúde13 apresentou em 2007 importante publicação em que curvas de referência para medidas antropométricas, inclusive as dobras cutâneas triciptal e subescapular, foram desenhadas como referência internacional para uma população multipaíses (Brasil, Estados Unidos, Gana, Índia, Noruega e Omã). Contudo, até o nosso conhecimento, curvas percentílicas de DC não foram propostas para crianças brasileiras, bem como não há curvas percentilícas de DC que possam ser usadas na predição de SM em população pediátrica. Curvas de referências de outras populações podem não ser aplicáveis para crianças brasileiras devido a diferenças étnicas, culturais e socioeconômicas.

Nesse sentido, os objetivos do presente estudo foram 1) desenhar curvas de referência de quatro DC (subescapular, suprailíaca, bíceps, tríceps) e 2) determinar pontos de corte para predizer o risco de SM em crianças de seis a 10 anos.

Métodos

Estudo epidemiológico de base populacional, corte transversal, com amostra probabilística de crianças de seis a 10 anos, oriundas de escolas públicas e privadas nas zonas urbana e rural do município de Uberaba (MG).

Para o cálculo amostral considerou‐se o número de crianças matriculadas no ensino fundamental (1° ao 9° ano), prevalência da SM de 50% (prevalência desconhecida no município), erro tolerável de 3,5% e nível de confiança de 95%. O número mínimo amostral foi de 768 crianças e, após acréscimo de 10% para compensar perdas e recusas e 20% para minimizar fatores de confundimento, totalizou 1.014 crianças.

Para seleção da amostra, as escolas foram estratificadas de acordo com o seguimento de ensino em municipal, estadual e privada. A Organização Mundial da Saúde14 recomenda que para levantamentos epidemiológicos sejam usados de 10 a 15 pontos de coleta da amostra (escolas) e que o número de sujeitos da pesquisa em cada faixa etária deve variar entre 25 e 50 para cada local. Dessa forma, foram aleatoriamente selecionadas, com auxílio da Tabela de Números Aleatórios, 15 das 90 escolas elegíveis do município de Uberaba. Para adequação e representatividade da população local, o número de crianças em cada estrato foi determinado proporcionalmente ao número de matrículas, segundo dados fornecidos pela Secretaria de Educação do estado. As escolas municipais representavam 43,6% das matrículas, 41,9% dos estudantes matriculados estavam em escolas estaduais e 14,5% em escolas privadas.

Após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (Protocolo CEP/UFTM: 1710), os diretores escolares foram contatados a fim de se obter autorização e agendamento das coletas. Os alunos que preencheram os critérios de inclusão e com interesse em participar da pesquisa receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para conhecimento e assinatura de seus pais e/ou responsáveis. Antropometria e as coletas de sangue foram feitas na própria escola, seguiram protocolos específicos.

As dobras cutâneas (DC) biciptal (DCB), triciptal (DCT), subescapular (DCSe) e suprailíaca (DCSi) foram obtidas com adipômetro Lange Skinfold Caliper, Inglaterra, que exerce pressão constante de 10g/mm2. As medições foram feitas no lado direito do corpo, em três repetições não consecutivas para cada medida. A medida final foi obtida pela média dos três valores. Todas as medidas foram feitas por dois avaliadores qualificados que passaram por treinamento prévio e calibração. Os resultados foram interpretados isoladamente, bem como pelo somatório das quatro DC avaliadas, com os resultados expressos em milímetros (mm).

A pressão arterial foi aferida com esfigmomanômetro de coluna de mercúrio (Unitec, São Paulo, Brasil) com manguitos de tamanhos apropriados para a circunferência dos braços das crianças de acordo com as normas propostas pelas VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial.15 Foram feitas três aferições da PA na primeira visita, descartou‐se a primeira e considerou‐se a média das duas últimas. Quando a criança apresentou alteração da PA sistólica ou diastólica acima do percentil 90 houve aferição em mais outros dois dias de coletas diferentes com o mesmo procedimento do primeiro dia.15

Os voluntários foram convidados a se deslocar da escola, seguir jejum de 12 horas, nos dias e horários determinados, acompanhado de seus responsáveis. Profissionais de enfermagem coletaram amostras de sangue (8mL) em tubos a vácuo BD Vacutainer® (Becton, Dickinson and Company, Nova Jersey, EUA). Amostras de soro foram analisadas para a determinação do HDL‐c e triglicerídeos e plasma para glicemia. Foi usado o analisador semiautomatizado Bio 200F (Bioplus, São Paulo, Brasil). Métodos padronizados determinaram quantitativamente as variáveis sanguíneas, de acordo com as normas e especificações técnicas dos reagentes usados.

O diagnóstico da SM16 foi determinado pela presença de pelo menos três das seguintes alterações: triglicerídeos ≥ 100mg/dL; HDL‐ c<50mg/dL; glicemia ≥ 110mg/dL; perímetro de cintura ≥ percentil 75 para idade e sexo; alteração na pressão arterial (diastólica ou sistólica)>percentil 90 ajustado para idade, estatura e sexo.

Variáveis foram testadas quanto a sua normalidade pelo teste de Kolmogorov‐Smirnov. Os outliers foram identificados e retirados pelo método de intervalo entre quartis. O teste U de Mann‐Whitney foi usado para comparação de grupos independentes com distribuição não paramétrica.

Para comparabilidade com outros estudos, os percentis 5, 10, 25, 50, 75, 90, e 95 foram escolhidos como valores de referência. Foram delineadas curvas de referência por meio do método de Cole LMS.17 O método LMS presume que, para dados independentes com valores positivos, a transformação Box‐Cox idade‐específica pode ser empregada para torná‐los normalmente distribuídos; os valores L, M e S são natural cubics plines com knot sem cada intervalo etário. A amostra, em cada sexo, foi separada em faixas etárias com 100 ou mais indivíduos, número considerado o mínimo adequado para o método LMS.17

A curva Receiver Operating Characteristic (ROC) foi usada na avaliação da capacidade preditiva de testes diagnósticos. As áreas abaixo das curvas ROC (AUC) foram calculadas para avaliar o poder discriminatório das DC na indicação de alterações metabólicas componentes da SM. Os valores de sensibilidade e especificidade dos indicadores antropométricos foram calculados para cada ponto de corte presente na amostra. O ponto de corte que apresentou maior equilíbrio entre sensibilidade e especificidade foi o escolhido para aprimorar a relação entre esses dois parâmetros, apresentou maior acurácia (menor quantidade de falsos negativos e falsos positivos). A significância estatística de cada análise foi verificada pela área sob a curva ROC (AUC) e pelo limite inferior do intervalo de confiança a 95%>0,5.18

Resultados

Participaram do presente estudo 1.480 escolares do ensino fundamental do município de Uberaba (MG) (zona urbana e rural), com média de 8,55 anos (desvio padrão=1,53), 52,2% do sexo feminino.

Meninas apresentaram maior prevalência de SM (12,6% vs. 8,5%, p<0,05) e maiores valores de DC, em todos os pontos anatômicos avaliados (p<0,05), em comparação com os meninos (tabela 1).

Tabela 1.

Características descritivas de dobras cutâneas de escolares de seis a 10 anos, município de Uberaba (MG), por sexo

Variáveis  Meninas (n=773)Meninos (n=707)p‐valor 
  Média (dp)  Mediana (min‐max)  Média (dp)  Mediana (min‐max)   
DC‐Bi (mm)  10,14 (5,15)  9,00 (3,00 ‐ 29,00)  8,57 (5,29)  6,67 (3,00 ‐ 28,00)  0,001 
DC‐Tri (mm)  14,45 (5,66)  13,33 (5,00 ‐ 35,00)  12,71 (6,67)  10,67 (5,00 ‐ 35,00)  0,001 
DC‐Sub (mm)  11,77 (7,63)  9,00 (4,00 ‐ 44,00)  9,85 (7,50)  7,00 (4,00‐ 44,00)  0,001 
DC‐Supra (mm)  14,40 (10,56)  9,67 (3,00 ‐ 51,00)  11,12 (10,23)  6,67 (3,00‐ 50,00)  0,001 
∑ 4 DC (mm)  50,93 (28,31)  42,0 (10,00 ‐163,00)  42,37 (29,79)  31,00 (11,00 ‐ 202,67)  0,001 

∑4DC, soma das quatro dobras cutâneas avaliadas; DC‐Bi, dobra cutânea biciptal; DC‐Sub, dobra cutânea subescapular; DC‐Supra, dobra cutânea suprailíaca; DC‐Tri, dobra cutânea triciptal; dp, desvio padrão; max, valor máximo; min, valor mínimo; n, número amostral.

Nota: Diferença significativa entre os sexos p ≤ 0,05 teste de Mann Whitney.

Delinearam‐se curvas percentílicas (p5, p10, p25, p50, p75, p90 e p95) das quatro DC avaliadas, bem como para o somatório delas, para ambos os sexos (fig. 1). De forma geral, todas as DC apresentaram aumento linear de acordo com a idade e o sexo, com valores superiores para meninas.

Figura 1.

Curvas percentílicas (p5, p10, p25, p50, p75, p90 e p95) das dobras cutâneas tricipital, bicipital, subescapular e suprailíaca, bem como para o somatório delas, de meninas e meninos de seis a10 anos, Uberaba (MG).

(0,37MB).

As quatro DC avaliadas e seu somatório foram acurados na predição da SM para meninas (tabela 2) e meninos (tabela 3). A maioria dos valores sugeridos encontra‐se acima do percentil 75 para idade e sexo.

Tabela 2.

Pontos de corte de dobras cutâneas para predição de síndrome metabólica em meninas, por idade, município de Uberaba (MG)

Idade (anos)  Preditores  AUC  p‐valor  IC 95%Ponto de corte (mm)  S (%)  E (%) 
6DC‐Bic  0,832  0,014  0,709  0,955  11,6  80  79 
DC‐Tri  0,771  0,044  0,566  0,977  15,3  80  82 
Dc‐Sub  0,864  0,007  0,760  0,967  100  74 
DC‐Supra  0,805  0,024  0,666  0,943  12,3  80  75 
∑4DC  0,833  0,013  0,708  0,959  40,3  100  68 
7DC‐Bic  0,894  < 0,001  0,81  0,977  13,0  88  85 
DC‐Tri  0,927  < 0,001  0,874  0,98  17  100  83 
Dc‐Sub  0,924  < 0,001  0,871  0,978  13,6  100  86 
DC‐Supra  0,909  < 0,001  0,841  0,977  13,6  100  76 
∑4DC  0,927  < 0,001  0,872  0,982  57,3  100  83 
8DC‐Bic  0,803  < 0,001  0,705  0,902  10  87  65 
DC‐Tri  0,838  < 0,001  0,751  0,924  17,6  73  84 
Dc‐Sub  0,874  < 0,001  0,775  0,974  14,3  80  84 
DC‐Supra  0,828  < 0,001  0,727  0,929  12,3  87  65 
∑4DC  0,858  < 0,001  0,770  0,945  57,6  80  78 
9DC‐Bic  0,862  < 0,001  0,773  0,951  14,0  86  79 
DC‐Tri  0,844  < 0,001  0,731  0,956  17,6  85  71 
Dc‐Sub  0,88  < 0,001  0,802  0,959  14  86  80 
DC‐Supra  0,84  < 0,001  0,752  0,927  14,3  100  60 
∑4DC  0,871  < 0,001  0,788  0,954  66  86  78 
10DC‐Bic  0,764  <0,001  0,627  0,902  14,3  68  80 
DC‐Tri  0,756  <0,001  0,629  0,884  19  75  81 
Dc‐Sub  0,823  < 0,001  0,701  0,945  15,6  79  78 
DC‐Supra  0,78  < 0,001  0,648  0,911  18,6  80  71 
∑4DC  0,791  < 0,001  0,659  0,923  71,6  80  80 

∑4DC, soma das quatro dobras cutâneas avaliadas; AUC, área sob a curva ROC; DC‐Bi, dobra cutânea biciptal; DC‐Sub, dobra cutânea subescapular; DC‐Supra, dobra cutânea suprailíaca; DC‐Tri, dobra cutânea triciptal; E, especificidade; IC 95%, intervalo de confiança a 95%; S, sensibilidade.

Tabela 3.

Pontos de corte de dobras cutâneas para predição de síndrome metabólica em meninos, por idade, município de Uberaba (MG)

Idade (anos)  Preditores  AUC  p‐valor  IC 95%Ponto de corte (mm)  S (%)  E (%) 
6DC‐Bic  0,95  0,002  0,902  1,00  13,3  100  91,5 
DC‐Tri  0,95  0,002  0,893  1,00  16,0  100  88,7 
Dc‐Sub  0,93  0,004  0,854  1,00  8,6  100  82,6 
DC‐Supra  0,90  0,007  0,807  0,997  11,3  100  81,6 
∑4DC  0,94  0,003  0,87  1,00  51,3  100  86,1 
7DC‐Bic  0,86  0,007  0,726  0,994  8,3  80  72,2 
DC‐Tri  0,83  0,015  0,681  0,969  11,6  80  72,6 
Dc‐Sub  0,90  0,003  0,789  1,00  7,6  100  71,6 
DC‐Supra  0,82  0,016  0,635  1,00  7,0  60  60,7 
∑4DC  0,86  0,007  0,71  1,00  32,3  100  66,2 
8DC‐Bic  0,84  0,044  0,641  1,00  8,3  66,6  63,1 
DC‐Tri  0,84  0,048  0,626  1,00  11,6  66,6  61,1 
Dc‐Sub  0,88  0,025  0,756  1,00  9,3  100  73,9 
DC‐Supra  0,91  0,016  0,821  1,00  13,3  100  82,5 
∑4DC  0,89  0,024  0,761  1,00  42,6  100  75,5 
9DC‐Bic  0,86  0,001  0,767  0,955  10  87,5  68,2 
DC‐Tri  0,86  0,001  0,769  0,954  14,6  88,8  72,0 
Dc‐Sub  0,92  0,001  0,868  0,980  12,3  100  83,7 
DC‐Supra  0,92  0,001  0,852  0,982  14,6  88,8  81,4 
∑4DC  0,90  0,001  0,832  0,974  55,3  88,8  81,4 
10DC‐Bic  0,80  0,001  0,678  0,930  11,3  86,6  70,9 
DC‐Tri  0,78  0,001  0,645  0,917  17,3  80  79,6 
Dc‐Sub  0,77  0,002  0,638  0,905  13,3  80  72,3 
DC‐Supra  0,79  0,001  0,653  0,920  22,0  73,3  86,3 
∑4DC  0,79  0,001  0,661  0,920  61,6  80,0  80,3 

∑4DC, soma das quatro dobras cutâneas avaliadas; AUC, área sob a curva ROC; DC‐Bi, dobra cutânea biciptal; DC‐Sub, dobra cutânea subescapular; DC‐Supra, dobra cutânea suprailíaca; DC‐Tri, dobra cutânea triciptal; E, especificidade; IC 95%, intervalo de confiança a 95%; S, sensibilidade.

Discussão

O presente estudo apresenta curvas percentílicas de DC das regiões central e periférica do corpo, bem como do somatório de quatro DC para predição do risco de SM, de acordo com idade e sexo, em crianças brasileiras. As curvas aqui delineadas podem representar uma estratégia útil para prevenção do risco de síndrome metabólica na infância com possibilidade de uso em escolas, unidades de saúde da família, clínicas e hospitais. De acordo com nossos achados, tanto as DC de adiposidade central quanto as de adiposidade periférica e o somatório de quatro DC apresentaram pontos de corte com elevados valores de sensibilidade e de especificidade para predizer o risco de SM em crianças. Aproximadamente, 75% das crianças do presente estudo, com valores de DC acima do percentil 75, independentemente da DC analisada, apresentaram síndrome metabólica.

A prevalência de SM em crianças e adolescentes brasileiros variou de 0% a 42,4%, dados de uma revisão sistemática.19 No presente estudo a SM foi prevalente em 12,6% das meninas e 8,5% dos meninos, com diferença significativa entre os sexos. A heterogeneidade de definições e de pontos de corte para os componentes da SM pode explicar, ao menos em parte, as diferentes prevalências relatadas na literatura.19 No entanto, é fato que a prevalência de SM tem aumentado entre crianças e adolescentes, com proporção significativamente maior entre os obesos.20

Distribuição percentílica das dobras cutâneas triciptal e subescapular foram feitas em 8.568 escolares chineses de sete a 18 anos21 e 32.783 crianças e adolescentes americanos.10 Os valores percentílicos para as DC‐Tri e DC‐Sub de crianças chinesas e americanas foram inferiores aos percentis correspondentes de meninos e meninas do presente estudo. Esse resultado é preocupante devido à associação entre as DC e obesidade central, perfil lipídico desfavorável, níveis de insulina aumentados, pressão arterial e massa ventricular esquerda.22 Acúmulo de gordura subcutânea, traduzido em altos valores de DC, aumentam as chances de as crianças apresentarem alterações metabólicas.

Crianças mexicanas pré‐púberes de seis a 10 anos apresentaram três vezes mais chances para alterações nos componentes da SM, quando a distribuição da DC‐Sub encontrava‐se no quarto quartil da amostra baixos níveis de HDL‐c [OR=3,16 (IC95%: 1,41‐7,10) p<0,01] e elevados níveis de triglicerídeos [OR=3,27 (IC95%: 2,02‐5,29) p<0,001].23 Não obstante, altos valores do ∑ 3 DC (DC‐Tri+Dc‐Bi+ DC‐Sub) (> percentil 90) em crianças alemãs de três a 11 anos aumentaram as chances em 1,6 vez (IC95%: 1,1 ‐ 2,2; p<0,05) de ter três ou mais fatores de riscos cardiovasculares e 1,7 vez em ser portador de hipertensão arterial [(IC95%:1,1 ‐ 2,7); p<0,05].24 Os resultados do presente estudo demonstraram que todas as medidas de DC isoladas predizem o risco de SM em ambos os sexos. Nas investigações científicas relativas ao tema, observa‐se predominância de estudos com as DC‐Tri e DC‐Sub.10,13,21,25 Muitos estudos usaram DC de forma isolada como preditora da quantidade de gordura corporal25–29 e de fatores de risco cardiometabólico isolados.12,30 Por outro lado, estudos que investigaram o poder da DC de predizer SM na população pediátrica permanecem escassos.

O uso da soma de valores absolutos das DC pode se tornar interessante preditor de SM na medida em que minimiza os vieses presentes em equações preditivas de composição corporal, além de sugerir valores que demonstram equilíbrio/desequilíbrio da distribuição da gordura corporal (DC‐Tri+DC‐Bi +DC‐Sub+Dc‐Supra). Dentre diferentes medidas antropométricas testadas, o ∑4DC foi o mais acurado preditor de SM em meninas e meninos brasileiros, com AUC=0,908 e AUC=0,897, respectivamente.6 No presente estudo, o ∑ 4DC apresentou AUC de 0,859 para meninas e 0,879 para meninos, os pontos de corte sugeridos apresentaram altos valores de sensibilidade (> 80%).

De nosso conhecimento, este é o primeiro estudo com curvas percentílicas de DC da região central e periférica, bem como do somatório de quatro DC, para predição de SM em uma amostra representativa de base escolar brasileira. No entanto, este estudo teve desenho transversal, fato que não permite estabelecer se mudanças na adiposidade subcutânea refletem alterações nos componentes da SM. Assim, estudos longitudinais são necessários para definir a relação causal entre a SM e adiposidade subcutânea. É valido ressaltar que embora a população do estudo tenha sido delimitada entre escolares do 1° ao 5° ano de ensino, a Secretaria de Educação de educação cedeu dados atualizados de todo o ensino fundamental, o que pode ter superestimado o cálculo amostral.

Curvas de referência oriundas de outros países podem tanto subestimar quanto superestimar a doença, devido a diferenças étnicas, socioeconômicas e culturais. O desenvolvimento de curvas percentílicas com populações de diferentes áreas geográficas é um desafio relevante para possibilitar a triagem mais acurada da SM em jovens por meio da avaliação de DC.

Financiamento

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).

Conflitos de interesse

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

Referências
[1]
A.P. Mansur, D. Favarato.
Mortality due to cardiovascular diseases in Brazil and in the metropolitan region of Sao Paulo: a 2011 update.
Arq Bras Cardiol, 99 (2012), pp. 755-761
[2]
World Health Organization.
The global burden of disease: 2004 update.
WHO, (2008),
[3]
Expert panel on detection evaluation, treatment of high blood cholesterol in adults. Executive summary of the third report of the national cholesterol education program (NCEP) expert panel on detection, evaluation, and treatment of high blood cholesterol in adults (Adult Treatment Panel III).
JAMA, 285 (2001), pp. 2486-2497
[4]
B. Isomaa, P. Almgren, T. Tuomi, B. Forsen, K. Lahti, M. Nissen, et al.
Cardiovascular morbidity and mortality associated with the metabolic syndrome.
Diabetes Care, 24 (2001), pp. 683-689
[5]
S.R. Srinivasan, L. Myers, G.S. Berenson.
Predictability of childhood adiposity and insulin for developing insulin resistance syndrome (syndrome X) in young adulthood: the Bogalusa Heart Study.
Diabetes, 51 (2002), pp. 204-209
[6]
A.C. Andaki, A.L. Tinoco, E.L. Mendes, R. Andaki Junior, A.P. Hills, P.R. Amorim.
Anthropometry and physical activity level in the prediction of metabolic syndrome in children.
Public Health Nutr, 17 (2014), pp. 2287-2294
[7]
P.T. Katzmarzyk, L. Perusse, R.M. Malina, J. Bergeron, J.P. Despres, C. Bouchard.
Stability of indicators of the metabolic syndrome from childhood and adolescence to young adulthood: the Quebec Family Study.
J Clin Epidemiol, 54 (2001), pp. 190-195
[8]
A. Misra, N.K. Vikram, S. Arya, R.M. Pandey, V. Dhingra, A. Chatterjee, et al.
High prevalence of insulin resistance in postpubertal Asian Indian children is associated with adverse truncal body fat patterning, abdominal adiposity and excess body fat.
Int J Obes Relat Metab Disord, 28 (2004), pp. 1217-1226
[9]
O. Ali, D. Cerjak, J.W. Kent Jr., R. James, J. Blangero, Y. Zhang.
Obesity, central adiposity and cardiometabolic risk factors in children and adolescents: a family‐based study.
Pediatr Obes, 9 (2014), pp. e58-e62
[10]
O.Y. Addo, J.H. Himes.
Reference curves for triceps and subscapular skinfold thicknesses in US children and adolescents.
Am J Clin Nutr, 91 (2010), pp. 635-642
[11]
M. Jaworski, Z. Kulaga, P. Pludowski, A. Grajda, B. Gurzkowska, E. Napieralska, et al.
Population‐based centile curves for triceps, subscapular, and abdominal skinfold thicknesses in Polish children and adolescents – the OLAF study.
Eur J Pediatr, 171 (2012), pp. 1215-1221
[12]
A. Khadilkar, R. Mandlik, S. Chiplonkar, V. Khadilkar, V. Ekbote, V. Patwardhan.
Reference centile curves for triceps skinfold thickness for Indian children aged 5 to 17 years and cut offs for predicting risk of childhood hypertension: a multi‐centric study.
Indian Pediatr, 52 (2015), pp. 675-680
[13]
World Health Organization.
WHO child growth standards: head circumference‐for‐age, arm circumference‐for‐age, triceps skinfold‐for‐age and subscapular skinfold‐for‐age. Methods and development.
WHO, (2007),
[14]
World Health Organization.
Oral health surveys: basic methods.
World Health Organization, (1997),
[15]
Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Hipertensão, Sociedade Brasileira de Nefrologia.
VI diretrizes brasileiras de hipertensão.
Arq Bras Cardiol, 95 (2010), pp. 1-51
[16]
S.D. de Ferranti, K. Gauvreau, D.S. Ludwig, E.J. Neufeld, J.W. Newburger, N. Rifai.
Prevalence of the metabolic syndrome in American adolescents: findings from the Third National Health and Nutrition Examination Survey.
Circulation, 110 (2004), pp. 2494-2497
[17]
T.J. Cole, P.J. Green.
Smoothing reference centile curves: the LMS method and penalized likelihood.
Stat Med, 11 (1992), pp. 1305-1319
[18]
E.F. Schisterman, D. Faraggi, B. Reiser, M. Trevisan.
Statistical inference for the area under the receiver operating characteristic curve in the presence of random measurement error.
Am J Epidemiol, 154 (2001), pp. 174-179
[19]
L. Tavares, E. Yokoo, M. Rosa, S. Fonseca.
Metabolic syndrome in Brazilian children and adolescents: systematic review.
Cad Saude Colet, 18 (2010), pp. 469-476
[20]
A. Friend, L. Craig, S. Turner.
The prevalence of metabolic syndrome in children: a systematic review of the literature.
Metab Syndr Relat Disord, 11 (2013), pp. 71-80
[21]
Z. Ying-Xiu, W. Shu-Rong.
Distribution of skinfold thickness and blood pressure among children and adolescents in Shandong, China.
J Trop Pediatr, 57 (2011), pp. 258-262
[22]
D.S. Freedman, M.K. Serdula, S.R. Srinivasan, G.S. Berenson.
Relation of circumferences and skinfold thicknesses to lipid and insulin concentrations in children and adolescents: the Bogalusa Heart Study.
Am J Clin Nutr, 69 (1999), pp. 308-317
[23]
R. Ramirez-Velez, M.F. Suarez-Ortegon, A.C. Aguilar de Plata.
Association between adiposity and cardiovascular risk factors in prepubertal children.
Endocrinol Nutr, 58 (2011), pp. 457-463
[24]
G.M. Haas, E. Liepold, P. Schwandt.
Predicting cardiovascular risk factors by different body fat patterns in 3850 German children: the PEP family heart study.
Int J Prev Med, 2 (2011), pp. 15-19
[25]
S. Kriemler, J. Puder, L. Zahner, R. Roth, U. Meyer, G. Bedogni.
Estimation of percentage body fat in 6‐ to 13‐year‐old children by skinfold thickness, body mass index and waist circumference.
Br J Nutr, 104 (2010), pp. 1565-1572
[26]
D.S. Freedman, J. Wang, C.L. Ogden, J.C. Thornton, Z. Mei, R.N. Pierson, et al.
The prediction of body fatness by BMI and skinfold thicknesses among children and adolescents.
Ann Hum Biol, 34 (2007), pp. 183-194
[27]
S.M. Ayatollahi, F. Mostajabi.
Triceps skinfold thickness centile charts in primary school children in Shiraz, Iran.
Arch Iran Med, 11 (2008), pp. 210-213
[28]
G. Bedogni, L. Iughetti, M. Ferrari, M. Malavolti, M. Poli, S. Bernasconi, et al.
Sensitivity and specificity of body mass index and skinfold thicknesses in detecting excess adiposity in children aged 8–12 years.
Ann Hum Biol, 30 (2003), pp. 132-139
[29]
P. Pecoraro, B. Guida, M. Caroli, R. Trio, C. Falconi, S. Principato, et al.
Body mass index and skinfold thickness versus bioimpedance analysis: fat mass prediction in children.
Acta Diabetol, 40 (2003), pp. S278-S281
[30]
T.M. Quadros, A.P. Gordia, R.C. Silva, L.R. Silva.
Predictive capacity of anthropometric indicators for dyslipidemia screening in children and adolescents.
J Pediatr (Rio J), 91 (2015), pp. 455-463

Como citar este artigo: Andaki AC, Quadros TM, Gordia AP, Mota J, Tinôco AL, Mendes EL. Skinfold reference curves and their use in predicting metabolic syndrome risk in children. J Pediatr (Rio J). 2017;93:490–6.

Pesquisa vinculada à Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil.

Idiomas
Jornal de Pediatria
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Taxa de publicaçao Publication fee
Os artigos submetidos a partir de 1º de setembro de 2018, que forem aceitos para publicação no Jornal de Pediatria, estarão sujeitos a uma taxa para que tenham sua publicação garantida. O artigo aceito somente será publicado após a comprovação do pagamento da taxa de publicação. Ao submeterem o manuscrito a este jornal, os autores concordam com esses termos. A submissão dos manuscritos continua gratuita. Para mais informações, contate assessoria@jped.com.br. Articles submitted as of September 1, 2018, which are accepted for publication in the Jornal de Pediatria, will be subject to a fee to have their publication guaranteed. The accepted article will only be published after proof of the publication fee payment. By submitting the manuscript to this journal, the authors agree to these terms. Manuscript submission remains free of charge. For more information, contact assessoria@jped.com.br.
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.